A Operação Patmos, que mira o presidente Michel Temer, revela que o senador Aécio Neves (PSDB/MG) estava bastante empenhado em derrubar o então ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB/PR). Dois áudios que constam do inquérito mostram o tucano atuando firmemente pela queda do peemedebista, o que, afinal, ocorreu neste domingo, 28.
Em um áudio, que integra a delação do grupo JBS, Aécio foi gravado em conversa com o acionista do grupo, Joesley Batista, em um hotel em São Paulo – o próprio empresário gravou o encontro. Nessa ocasião, em abril, Aécio disse o que pensa de Serraglio. “O ministro é um b… de um c…, um peba.”
O tucano atribuiu a Temer a responsabilidade pela escolha. “Ele (Temer) errou de novo de nomear essa p…”.
Aécio reclama que o então ministro da Justiça ‘não dá um alô…está passando mal da saúde pede prá sair’. As informações são de O Estado de São Paulo.
O trecho mais importante do diálogo, na avaliação dos investigadores da Operação Lava Jato, é quando Aécio se refere o que poderia ocorrer com a Polícia Federal como consequência da troca de comando no Ministério da Justiça.
“Porque aí mexia na PF”, disse o tucano.
Neste domingo, 28, Temer decidiu trocar o comando da Pasta que detém o controle da Polícia Federal, braço decisivo da Operação Lava Jato e seus desdobramentos. O presidente escalou Torquato Jardim para o cargo de ministro da Justiça. Serraglio foi convidado a assumir a cadeira de Jardim no Ministério da Transparência.
A troca provoca desconfianças entre delegados da PF. Em nota, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal disse que a classe está ‘preocupada’ com a mudança. Delegados acreditam que o novo ministro poderá trocar o diretor-geral da PF, delegado Leandro Daiello Coimbra, no cargo desde 2011.
Em outro áudio, Aécio foi gravado, aí pela Polícia Federal com autorização do ministro Edson Fachain – relator da Lava Jato no Supremo Tribnal Federal – em conversa por telefone com seu colega de partido, o senador José Serra (PSDB-SP). Nesse diálogo, Serra pediu a Aécio – ora afastado do Congresso por decisão de Fachin – que intercedesse junto a Temer em uma possível troca no Ministério da Justiça.
O alvo do grampo era Aécio, investigado por supostamente pedir propinas de R$ 2 milhões a Joesley. Na Operação Patmos, o procurador-geral da República Rodrigo Janot requereu decretação da prisão preventiva do tucano, mas Fachin rejeitou a medida e apenas mandou afastar Aécio do mandato.
O diálogo entre Aécio e Serra é datado de 19 de abril e demonstra a insatisfação da base aliada de Temer com Serraglio.
Serra afirma estar ‘preocupado’ e chama atenção para a necessidade de um ministro da Justiça ‘forte’.
O nome sugerido por Serra não era o de Torquato. Ele queria ‘o Jungmann’, referência ao atual ministro da Defesa Raul Jungmann. “Não precisa ser da área, porque vai ficar da área… vai ficar aquele problema todo. Alguém como o Jungmann daria, entende? Bem assessorado, tal. O fato é que tem que por alguém com força. Não para fazer nada arbitrário, mas para que as coisas tenham um caminho, né? de desenvolvimento, tudo”, afirmou Serra.
O tucano paulista ainda avalia que Serraglio ‘foi um bom deputado’, ‘pode ir para outro Ministério’, mas que não teve ‘condições iniciais’.
Aécio sugere uma conversa pessoal, mas já se antecipa e endossa: ‘Concordo há muito tempo já’.
Serra ainda pede a Aécio que tenha interlocução com Temer a respeito do tema. “É. Mas se você tiver oportunidade, sem mencionar o que eu te falei, porque eu tinha ficado de falar com ele. Podia mencionar isso para o presidente”.