‘Cabeças pretas’ do PSDB pressionam por desembarque do governo Temer

CARLOS SAMPAIO

Deputado Carlos Sampaio (SP) defende saída do PSDB do governo Temer. Grupo formado por jovens parlamentares do partido pede que tucanos entreguem cargos no governo; Tasso tenta conter ‘rebelião’

Venceslau e Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

A bancada do PSDB na Câmara está dividida sobre a permanência do partido no governo Michel Temer. O grupo conhecido como “cabeças pretas” – em oposição aos “cabeças brancas”, que formam a cúpula da legenda – pressiona para que os tucanos entreguem imediatamente os cargos na administração.

O movimento “rebelde” ganhou uma adesão de peso: o deputado Carlos Sampaio (SP), vice-presidente jurídico do partido. “Penso que ser responsável com o País, hoje, é pensarmos imediatamente, de forma equilibrada e serena, numa transição que respeite o regramento constitucional. O presidente Michel Temer perdeu as condições mínimas de governabilidade”, disse o parlamentar ao Estado.

Diante do avanço do grupo, o senador Tasso Jeiressati (CE), presidente interino do PSDB, foi chamado nesta quarta-feira, 24, para acalmar os ânimos na reunião da bancada, que conta com 48 deputados.

Por ora, a decisão é aguardar os próximos acontecimentos, mas o dirigente ouviu vários discursos exaltados. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), também tenta conter o movimento. A ideia é ganhar tempo para articular uma saída política de consenso da base e escolher um nome para disputar a eleição indireta em conjunto com o PMDB e o presidente Michel Temer.

A defesa do peemedebista pelos tucanos, porém, já não é mais tão enfática. “Se o presidente Temer por acaso tiver de sair, será por meio da Constituição. Não nos afastaremos um milímetro dela. Vamos seguir o livrinho”, afirmou Tasso, referindo-se à possibilidade de eleição indireta no Congresso para escolher o sucessor de Temer.

Dos quatro ministros que o PSDB tem no governo, apenas o titular de Cidades, Bruno Araújo, compareceu ao encontro desta quarta-feira. Quando as delações da JBS atingiram Temer, na semana passada, Araújo chegou a ensaiar um pedido de demissão. Deputado licenciado, o ministro foi convencido pelo presidente a ficar.

O PSDB e o DEM definiram que atuarão em bloco na crise. Enquanto os tucanos defendem o nome de Tasso em caso de eleição indireta, o DEM ventila a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

“A decisão é sair unido, embora alguns achem que o partido deve sair já (do governo) e outros no próximo dia 6, após a votação (da cassação da chapa Dilma-Temer) no TSE. Tasso pediu a unidade de todos”, disse Tripoli.

Ala jovem. Em outra frente, jovens lideranças do PSDB que ganharam força nas eleições municipais do ano passado também pressionam pelo rompimento do PSDB com a gestão Temer. “Não faz mais sentido continuar apoiando o governo Temer”, disse ao Estado o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Orlando Morando.

Ele gravou em vídeo sua posição e distribuiu em um grupo de WhatsApp do PSDB. A iniciativa repercutiu na reunião da bancada. Outro nome “cabeça preta” que pede abertamente a renúncia de Temer é o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan. “Há um desejo da base do PSDB, de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e alguns federais de sair da base do governo”, disse o tucano.

Os diretórios estaduais do PSDB no Rio Grande e Rio de Janeiro se posicionaram pela saída do PSDB do governo.

O diretório de São Paulo ameaçava seguir o mesmo caminho, mas foi contido pelo governador Geraldo Alckmin, que está afinado com a cúpula nacional do partido.

Armínio. Em meio ao aumento das incertezas políticas, o nome do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga passou a ser lembrado por tucanos para o Ministério da Fazenda em uma eventual queda de Temer.

O nome do ex-presidente do BC já tinha sido cogitado quando Temer estava montando a sua equipe econômica. Ele também foi o “ministro” da Fazenda escolhido pelo senador Aécio Neves durante a campanha presidencial de 2014.

Publicamente, deputados do partido evitam falar sobre eventual substituição de Henrique Meirelles do Ministério da Fazenda, sob o argumento de que ainda é cedo e de que qualquer discussão nesse momento sobre o assunto poderia gerar uma instabilidade no mercado.

Em reservado, porém, reconhecem que Fraga tem preferência de alguns tucanos, embora uma eventual agenda de reformas seja muito semelhante à de Meirelles.

Parlamentares do PSDB afirmam que, pela importância do cargo, o comando da Fazenda também entrará na negociação entre os grandes partidos sobre a substituição do presidente. / COLABORARAM IGOR GADELHA, RENAN TRUFFI E ADRIANA FERRAZ

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