Cassado, ex-senador Demóstenes Torres quer retornar à política em 2018

Demóstenes Torres no plenário do Senado, em 2012

Em seu apelo final antes de ser cassado, em 2012, o então senador Demóstenes Torres suplicou aos pares: “Não acabem com a minha vida”. Não adiantou. Os senadores o expulsaram da Casa por quebra de decoro parlamentar e ele “entrou pelo portão do inferno”, como hoje define. Mas a vida não acabou.

O processo por corrupção passiva e advocacia privilegiada em favor do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi arquivado pelo Tribunal de Justiça de Goiás, em junho deste ano.

No mesmo mês, Demóstenes retomou o cargo de procurador de Justiça no Ministério Público e, em julho, ingressou no PTB para preparar seu retorno à política.

Seu novo partido quer lançá-lo candidato a governador de Goiás ou ao Senado para provar que, “na política como na vida, os bons ficam e os maus vão saindo”, na definição do deputado Jovair Arantes (PTB-GO).

No DEM, do qual se desfiliou para evitar a expulsão, Demóstenes era visto como o paladino da ética até ser pego em áudios com Carlinhos Cachoeira que sugeriam favorecimento ilícito. As informações são de THAIS BILENKY, Folha de São Paulo.

Em 2016, já na era da Lava Jato, as provas foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, em um julgamento que o ministro Gilmar Mendes considerou “de escola”.

Resta a Casa que o cassou o reabilitar. Demóstenes, 56, pede a revisão da perda do mandato para deixar de ser inelegível, condição a que está submetido até 2027.

O Senado afirmou, porém, que a petição está parada sem prazo para análise.

Demóstenes promete ir ao Supremo se tiver o pleito negado ou escanteado. Defende-se com um expediente hoje corriqueiro entre os acusados na Lava Jato: a suposta arbitrariedade da acusação.

“Fui um dos primeiros, ou ao menos o mais notável caso de excessos praticados em uma investigação”, afirmou.

“Interceptações clandestinas foram vazadas sistematicamente com um objetivo claramente político. Devolver o mandato para alguém que passou por um massacre e que depois se mostrou comprovadamente inocente é um sinal de amadurecimento político”, vaticinou.

Demóstenes não quis falar com a reportagem por telefone, mas por e-mail. Disse que pretende retomar a vida pública para defender o “o belíssimo trabalho que fiz pelo Brasil”. “Entrei pelo portão do inferno e, ao contrário do que diz Dante, a esperança voltou. Fui triturado, passei por um moedor de carne e saí do outro lado. O que me motiva a voltar é escrever essa parte final da minha história.”

O ex-senador reconheceu que, em momento de desgaste da classe política tradicional, o seu histórico não é um ativo. “É óbvio que a cassação pode atrapalhar o desempenho eleitoral”, admitiu.

Mas disse pretender reverter eventual hostilidade com a “verdade” sobre seu caso e com “ideias e projetos para o futuro de Goiás e do Brasil”.

Ele se orgulha de ter sua “digital na lei que instituiu a delação premiada”, mas considera a forma como o instituto é usado na Lava Jato, com colaboradores presos, comparável à “tortura”.

Aliados de Demóstenes dizem que seu plano é emplacar a candidatura ao Senado e que o PTB, ao ventilar seu nome para o governo, tenta pressionar o PSDB por um espaço na chapa majoritária.

A disputa pelo governo tem hoje como potenciais candidatos o senador Ronaldo Caiado (DEM) e o vice-governador José Eliton (PSDB).

Interlocutores do governador tucano Marconi Perillo, que apoia Eliton, afirmam que uma candidatura de Demóstenes seria estratégica para conter Caiado e levar a eleição ao segundo turno.

Fato é quem, cinco anos depois, a vida de Demóstenes está novamente nas mãos de seus ex-colegas. “Tenho esperança de que, da mesma forma que os senadores me julgaram levando em consideração circunstâncias momentâneas, que desmoronaram com o passar do tempo, também possam me reconduzir à cadeira que me foi concedida pela população de Goiás”, afirmou.

“Apenas quem disputou uma eleição sabe os desafios que enfrentamos.”

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