Em depoimento, Joesley foca em Temer e explica laudo sobre áudio

Num depoimento à Polícia Federal nesta sexta-feira, o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, reafirmou o conteúdo das acusações que fez ao presidente Michel Temer e ao ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, entre outros, em recente acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.

No interrogatório, Batista teria esclarecido dúvidas sobre a conversa com Temer e acrescentado mais informações sobre a relação que mantinha com o presidente e com outros auxiliares mais próximos ao presidente, entre eles o ex-ministro Geddel Vieira Lima. O ex-ministro teria sido o interlocutor de Temer junto a Batista, antes do ex-assessor Rocha Loures ocupar o posto por indicação do presidente.

— O foco do depoimento foi Temer — disse ao GLOBO uma fonte que acompanha o caso de perto. As informações são de O Globo.

Batista também foi interrogado sobre o coronel reformado João Baptista Lima, suspeito de receber propina e pagar despesas de familiares do presidente. Em um dos depoimentos da delação premiada, Ricado Saud disse que o coronel teria sido o encarregado de receber R$ 1 milhão que o PT teria repassado para Temer na campanha eleitoral de 2014. O dinheiro, que deveria ser distribuído a candidatos do PMDB, teria sido desviado para fins particulares.

Em documentos apreendidos no escritório do chamado coronel Lima, a Polícia Federal descobriu indícios de que o militar pagou despesas pessoais de Temer e familiares. Entre estes gastos estaria a reforma de uma casa da filha do presidente. A polícia suspeita que o coronel atuava como um operador financeiro de Temer, o que pode levar o militar para o centro das investigações sobre corrupção.

Batista também teria esclarecido alguns aspectos do laudo que apresentou para comprovar a legalidade da gravação da comprometedora conversa que teve com Temer no porão do Jaburu. No início da semana, o empresário encaminhou ao procurador-geral Rodrigo Janot um laudo produzido pela equipe de um ex-agente do FBI sobre a gravação e sobre o gravador usado para registrar a conversa com o presidente.

Segundo pessoas próximas ao empresário, Batista entregou a Janot a íntegra do áudio, sem qualquer modificação. Para estas pessoas, é completamente absurda a tese, levantada pela defesa de Temer, de que a gravação teria sofrido algum tipo de edição. Antes de partir para a contestação da gravação, o próprio presidente confirmou o conteúdo básico da conversa e até elogiou o ex-assessor Rocha Loures.

— A gravação foi entregue na íntegra. Não tem edição. Ele (Joesley Batista) teria que ser um jumento para entregar ao procurador-geral da República uma gravação adulterada. E jumento ele não é — disse uma fonte ligada ao empresário.

Na conversa com Temer, Batista relata suborno a um procurador da República, a manipulação de dois juízes e diz que está pagando mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro. Demonstra interesse em cargos e decisões estratégicas do governo e pede a Temer para indicar um novo interlocutor. Isto porque, depois de demitido, Geddel estaria fora de jogo. Temer indica o então assessor Rocha Loures.

Batista pergunta se pode conversar tudo com Loures. “Tudo”, responde Temer. A partir daí, começa a derrocada do presidente. Depois da conversa, Loures entra em cena, trata de decisões estratégicas do governo com Batista, é filmado correndo pelas ruas de São Pualo com a mala com R$ 500 mil recebida de Ricardo Saud e, no dia 3 deste mês, é preso por ordem do ministro Edson Fachin.

Para Saud, o dinheiro da mala teria como destinatário Temer. O assessor não teria estofo para, sozinho, negociar e receber propina de tamanha cifra por conta própria. No pedido de prisão do ex-assessor, Janot afirma que Loures é o longa manus, o faz tudo de Temer. Investigadores avaliam que o ex-assessor, de uma família de empresários que participou da fundação de Curitiba, deve ser punido com dez a 15 anos de prisão, caso condenado.

INVESTIGADORES TÊM PRESSA

A PF também teria interrogado Ricardo Saud. Os investigadores tem pressa. O relatório final das investigações deve ser apresentado ao STF até segunda-feira. No documento, deverá constar depoimento em que Funaro descreve como operou parte do caixa dois do PMDB no período em que Temer era o presidente do partido. Funaro, que está preso na Papuda, é apontado como um dos operadores financeiros do ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba.

No interrogatório, Funaro revelou que foi sondado várias vezes por Geddel. O ex-ministro queria saber se o operador iria mesmo fazer delação. Geddel teria ligado várias vezes para a mulher de Funaro.

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