Ex-senador do PSB condenado pelo estupro de duas crianças corre risco de morte

Condenado a mais 32 anos de prisão por ter estuprado duas crianças, o ex-suplente de senador Manoel Alencar Neto (PSB-TO), também conhecido como Nezinho Alencar, foi isolado em uma cela da Casa de Prisão Provisória de Guaraí, no Tocantins, para evitar ameaças de outros detentos. Na espécie de “código de conduta” de presidiários, o estupro é listado entre os crimes imperdoáveis, punido no tribunal do cárcere com espancamento e até execução com requintes de crueldade (como decapitação).

Os condenados por esse tipo de crime também são constantemente estuprados em penitenciárias Brasil afora, em alguns casos repetidamente até a morte. O fato de Nezinho ter molestado crianças torna ainda mais perigosa sua situação na prisão. A cela para onde foi levado tem quatro metros quadrados, um banheiro e uma televisão, informa o site regional do Portal G1. Uma reportagem sobre o caso foi veiculada no ano passado pelo Fantástico (TV Globo).

Foram duas as penas impostas a Nezinho Alencar, que se diz vítima de armação (leia mais abaixo): 27 anos e nove meses de reclusão, pelo crime sexual, e cinco anos de detenção por oferecimento de bebida alcoólica a crianças, somando mais de 32 anos de prisão em regime fechado. A sentença saiu um ano e quatro meses depois do cometimento do crime.

A reportagem do G1 lembra que o ex-senador, que também já foi vereador e deputado estadual, cometeu o crime no início de 2016, em uma fazenda de Nezinho Alencar próxima a Guaraí. As vítimas tinham seis e nove anos à época, e o próprio pai flagrou a barbárie com uma câmera de celular.

“[Nezinho] sentou debaixo do pé de manga. Aí começou a abusar das meninas e eu olhando de dentro do quarto, da janela. A minha reação? Eu peguei a espingarda e botei no rumo dele sem ele perceber, porque eu estava dentro de casa. Puxei o gatilho e pensei: ‘Ou eu mato ou eu não mato’. Aí abaixei a espingarda e deixei quieto. Aí fui pensar em comprar um telefone para poder pegar ele”, relatou o pai, que resolveu vender galinhas para poder comprar o celular e, por meio das imagens que fez, viabilizar a condenação do ex-senador.

“Armadilha”

O advogado de Nezinho Alencar disse à TV Anhanguera, afiliada da Globo no Tocantins, que seu cliente sempre colaborou com a Justiça. Em entrevista ao Fantástico, o ex-senador disse que as meninas atuaram como “atrizes” para incriminá-lo, a mando de quadrilheiros. As declarações do ex-político foram levadas ao ar em 11 de setembro de 2016.

“Eu nego que fiz [o estupro]. Eu fui vítima de uma armadilha. Aquelas crianças estavam torpedeando, pisando, passando a mão em mim, me agarrando. E eu extremamente desacordado. As crianças foram induzidas, fazendo um verdadeiro malabarismo. Foram conduzidas como atrizes para me induzir àquelas cenas”, defendeu-se o ex-senador.

“Eu fui senador da República, tive uma representatividade no estado de homem renomado, agora querem me incriminar. Eu estou sendo julgado pelo que eu represento. Se eu não fosse ninguém, isso não estava no Fantástico, isso não estava em lugar nenhum”, acrescentou.

20 minutos de sevícias

Autor da ação contra Nezinho, o Ministério Público em Tocantins reuniu, no conjunto probatório que levou à condenação, imagens de vídeo e depoimentos das duas crianças, dos pais e do irmão delas, à época do crime com 11 anos. Os relatos dão conta de que o crime sexual foi cometido diversas vezes entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, e foi principalmente cometido contra a filha caçula.

O vídeo mostra Nezinho em seguidos atos libidinosos com as crianças, que aparecem várias vezes no colo do homem – ele tocou as partes íntimas de ambas e beijou a boca da mais nova, segundo a acusação do Ministério Público. O ex-senador também fez ameaças para que nada fosse dito pelas vítimas sobre os abusos. Além disso, há o registro do episódio em que ele dá bebida alcoólica às meninas. São ao menos duas violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ainda segundo o MP de Tocantins, a esposa de Nezinho figura em um segundo vídeo oferecendo dinheiro em troca do silêncio dos pais das crianças. Em vão. “Há vídeos, depoimentos das vítimas, depoimentos de testemunhas, fotos. Vários elementos de prova que baseiam essa sentença condenatória”, resumiu o promotor Adriano Romero.

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