Fábrica de peças de caça brasileiro fica na promessa

Divulgação/Saab/Folhapress

Quatro anos após ser anunciada, ainda não saiu da promessa a construção de uma fábrica de peças de fuselagem para o novo caça brasileiro em São Paulo.

A Prefeitura de São Bernardo do Campo, cidade que havia sido anunciada pela fabricante Saab como destino de uma fábrica de peças da versão brasileira do Gripen NG, ameaça ir ao Ministério Público Federal para saber se a intenção é para valer ou não.

“O anúncio da unidade foi público, de conhecimento da FAB e do Ministério da Defesa. Se isso não se consolidar, serei obrigado a levar a questão ao Ministério Público”, afirma o prefeito da cidade, Orlando Morando (PSDB).

A versão de dois lugares do avião será projetada em conjunto com a brasileira Embraer, e a fábrica de peças de fuselagem é parte central do projeto –o caça tem uma configuração diferente em relação ao modelo monoposto. As informações são de IGOR GIELOW, Folha de São Paulo.

Segundo a Folha apurou, o cronograma da parte brasileira do Gripen preocupa a FAB, apesar de todos dizerem que está tudo em ordem.

A Saab não se manifestou. Pessoas próximas ao projeto dizem que a solução para o caso está próxima.

15 CAÇAS

Em 2013, a empresa anunciou que montaria uma fábrica de US$ 150 milhões na cidade paulista, que enviaria as peças para a linha de montagem do Gripen que será feita pela Embraer em Gavião Peixoto (SP) –15 dos 36 caças comprados deverão, por contrato, ser feitos no Brasil, incluindo todos os oito modelos de dois lugares.

Neste ano, a Saab anunciou que estava contratando 250 funcionários para treinamento e posterior emprego em São Bernardo. A prefeitura desconhece a iniciativa.

Envolvidos no projeto ponderam que, apesar de anunciado em 2013, o acordo Brasil-Suécia só foi assinado em 2014 e o financiamento, aprovado em agosto de 2015.

Em 25 de julho, Morando levou sua preocupação ao ministro da Defesa, Raul Jungmann. Ele o encaminhou ao brigadeiro Márcio Bonotto, responsável pela aquisição dos Gripen. Em 9 de agosto, o prefeito saiu sem resposta convincente da reunião na FAB, mas com promessa de que os suecos iriam entrar em contato sobre a questão.

Isso ocorreu em setembro, mas até aqui as tratativas não são conclusivas.

O Gripen custará ao Brasil 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 15,4 bilhões nesta semana), e o financiamento internacional só começa a ser pago em 2023, por 15 anos.

Os dois primeiros aviões chegam da Suécia em 2019, segundo o plano, seguidos por 6 em 2020, 12 em 2021 e 2022, e os 4 últimos saem da linha da Embraer em 2024.

PREOCUPAÇÃO POLÍTICA

A preocupação de Morando, que ressalta “manter todo o interesse na fábrica”, é também política.

Seus aliados temem que ele seja responsabilizado por um fracasso na instalação.

A ideia de incluir a cidade no projeto do Gripen foi de Luiz Marinho (PT), aliado de Luiz Inácio Lula da Silva e pré-candidato a governador, prefeito de São Bernardo de 2009 a 2016.

Tecnicamente, nunca fez muito sentido: há polos aeroespaciais já estabelecidos em torno da Embraer em São José dos Campos e Gavião Peixoto, ambas em São Paulo.

Marinho viu no Gripen um bom veículo eleitoral, e era visto pelos suecos como porta-voz de sua causa por sua proximidade como o poder federal na era petista. Desde 2009, ele visitou a Suécia e fez lobby pelo avião.

OPERAÇÃO ZELOTES

A Operação Zelotes começou a apurar no ano passado o papel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na escolha do Gripen para a FAB.

A Saab contratou um lobista próximo do ex-presidente para que o petista fizesse gestão em favor do Gripen junto a Dilma Rousseff (PT). A petista tinha escolhido o americano F/A-18, mas a revelação de que fora espionado pelos EUA melou o negócio.

Lula, enquanto presidente, havia favorecido os franceses ao longo da negociação. De todo modo, o lobista Mauro Marcondes recebeu 1,84 milhão de euros (R$ 6,8 milhões nesta semana) pelo serviço.

Os investigadores apuram se um repasse de R$ 2,5 milhões que ele fez ao filho de Lula seria um pagamento indireto no episódio e também no caso da suspeita de venda de medida provisória no setor automotivo.

Todos negam as acusações de irregularidades.

Contra a argumentação no caso dos caças, há o fato de que o Gripen já era o preferido da FAB desde 2009. A investigação da Zelotes corre em Brasília e não inclui até aqui o ex-prefeito Luiz Marinho.

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