Ministro do STF defende trabalho de Janot durante evento em Washington

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fala sobre uma possível revisão do acordo de delação premiada da JBS, em Brasília

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso defendeu nesta sexta (8), durante um evento em Washington, o trabalho do procurador-geral, Rodrigo Janot, que decidiu pedir investigação para apurar a omissão de informações no acordo de delação com representantes da JBS, após novos áudios sugerirem que houve descumprimento do acordo.

“O procurador-geral é uma pessoa muito séria e decente tentando fazer o seu trabalho, então não acho que ele não fez nada de errado”, disse Barroso, na American University, ao ser questionado se a condução do acordo de delação com Joesley Batista deveria ter sido mais criterioso.

Na quinta (7), Janot decidiu pedir a revogação da imunidade concedida sob o acordo de delação. Com a revogação da imunidade, haveria a possibilidade de Janot pedir a prisão de Joesley e de outros delatores da JBS.

O movimento foi feito depois de um áudio entregue à PGR no último dia 31 sugerir que o ex-procurador Marcello Miller teria ajudado Joesley e Ricardo Saud, diretor e lobista do grupo JBS, no processo de delação quando ainda era procurador. As informações são de ISABEL FLECK, Folha de São Paulo.

Barroso se recusou a falar sobre o caso em si. “Eu ainda não sei todos os fatos, então não me sinto confortável para comentar”, afirmou. Mais cedo, ele havia afirmado que agora está “só olhando” e que se pronunciará quando tiver uma decisão.

O ministro do Supremo ainda defendeu a prática da delação, dizendo que ela foi um “divisor de águas” na apuração de crimes de colarinho branco no Brasil. “Não há outra forma de mapear o dinheiro”, disse.

CORRUPÇÃO SISTÊMICA

Pela manhã, em palestra no Brazil Institute do Wilson Center, Barroso disse a uma plateia de brasileiros e americanos que o país passa por um período “muito difícil”, que a corrupção se desenvolveu “quase que como um plano de governo” e que é impossível não sentir vergonha do que aconteceu no Brasil.

“A corrupção no Brasil foi um plano sistêmico, quase como um negócio profissional para obter ilegalmente fundos e distribuí-los”, disse. “Onde quer que você olhe no Brasil, onde há dinheiro público, há algo errado. Em qualquer lugar: Petrobras, Eletrobras, BNDES, Caixa Econômica Federal, os fundos de pensão. Não é algo localizado. Foi quase que como um plano de governo.”

Segundo ele, é muito difícil ir contra o “pacto oligárquico que foi celebrado entre políticos, empresários e a burocracia do Estado”. “E o que é pior: há pessoas honestas que acreditam no que eu chamo de ‘equívoco tropicalista’, que a corrupção só é ruim se é feita pelas pessoas que eu não gosto”, disse.

Barroso brincou com o fato de que sua vinda aos EUA foi atrasada pela passagem do furacão Irma, que deve chegar neste fim de semana na Flórida.

“Eu deixei o Brasil fugindo da tempestade que está acontecendo lá e fui pego por uma tempestade aqui. É muito difícil escapar do seu próprio destino, que é enfrentar tempestades.”

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