Pré-candidatos usam cargos para turbinar candidaturas à Presidência

A sete meses das eleições, pré-candidatos à Presidência da República têm utilizado seus mandatos e cargos públicos para tentar viabilizar suas pretensões eleitorais.

Aproveitando a visibilidade e a estrutura que dispõem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC), têm orientado suas agendas de olho na disputa pelo Palácio do Planalto.

O presidente Michel Temer cogita disputar a reeleição, apesar do seu baixo índice de aprovação (6%), e sua principal aposta para tentar aumentar sua popularidade é a intervenção federal na segurança pública do Rio.

As regras da pré-campanha foram afrouxadas pela minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso em 2015. A disputa começa oficialmente em 16 de agosto, mas a nova lei permitiu aos concorrentes anunciar, antes dessa data, que são pré-candidatos, inclusive em atos políticos financiados pelo partido — e que não constarão da prestação de contas da campanha — desde que não haja pedido explícito de voto. As informações são de Débora Bergamasco / Igor Mello / Marcelo Remígio / Silvia Amorim – O Globo.

Também passou a ser autorizado exaltar qualidades pessoais, pedir apoio político e divulgar propostas. Para o Ministério Público, as mudanças dificultam a configuração de eventual propaganda eleitoral antecipada e, consequentemente, ações para coibir abusos de poder econômico e quebra de isonomia entre os concorrentes.

Rodrigo Maia iniciou na última sexta-feira uma agenda de viagens pelo país, na tentativa de nacionalizar seu nome e melhorar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Ele aparece com 1% no último Datafolha, divulgado em 31 de janeiro. O primeiro destino foi Catolé do Rocha, no interior da Paraíba. De acordo com sua assessoria de imprensa, o DEM custeará essas viagens.

VIAGENS DE OLHO NO ELEITORADO

No início do mês, Maia esteve em duas agendas oficiais no estado do Rio em pouco mais de uma semana. No dia 10, um sábado, o presidente da Câmara sobrevoou as áreas mais atingidas pelas fortes chuvas que castigaram o município de Petrópolis, na Região Serrana. Acompanhado dos ministros da Integração Nacional, Helder Barbalho, e do Esporte, Leonardo Picciani, o deputado conversou com moradores, pisou na lama, falou sobre ocupação irregular de encostas e prometeu ajuda à cidade.

— Recebi do prefeito muitas imagens, inclusive aéreas e fiquei sensibilizado. Petrópolis é uma cidade importante para o país e fiz questão de estar presente para ajudar — disse o parlamentar, repetindo discursos já feitos por outras autoridades em enchentes anteriores.

No dia 2, ele esteve em Barra Mansa, no Sul Fluminense, onde participou de reunião do Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Estado do Rio.

Em outra frente, o presidente da Câmara tem pautado propostas com apelo eleitoral. Ele pretende votar amanhã, por exemplo, projeto que cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). No início do mês, a Casa aprovou projeto que aumenta a pena para o estupro coletivo e tipifica o crime de divulgação das cenas do ato violento. Maia também tem utilizado o cargo para costurar apoios de partidos à sua pré-candidatura.

Outro que está empenhado em colocar de pé uma candidatura à Presidência da República é Henrique Meirelles. Ele tem investido em suas redes sociais, ido a programas populares de TV, dado entrevistas e comparecido a cultos evangélicos.

No último dia 2, uma sexta-feira de expediente, o chefe da Fazenda publicou em sua agenda oficial cinco compromissos. Três deles eram entrevistas para rádios de Goiânia, Florianópolis e para um jornal do Paraná. Os outros dois foram o lançamento do Anuário do Pará e uma “palestra” na Assembleia de Deus, no meio da tarde. Três dias depois, em plena segunda-feira, no início da tarde, ele visitou outra igreja evangélica no Rio Grande do Norte.

A assessoria de imprensa do ministro disse que a agenda é estritamente voltada para o exercício do cargo. “Todas as viagens feitas pelo ministro da Fazenda foram para cumprir compromissos que estão em sua agenda oficial, como palestras sobre o ajuste fiscal e a economia, em eventos empresariais. Em algumas ocasiões, foram atendidas também solicitações para falar com outros setores da sociedade. Esta comunicação da superação da mais grave crise dos últimos anos é essencial para a recuperação da confiança na economia”, disse a assessoria, em resposta enviada ao GLOBO.

Líder nas pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro tem acelerado a pré-campanha focando em viagens nacionais e internacionais, o que tem se refletido na sua assiduidade na Câmara. Este ano, ele esteve presente em apenas 15 das 24 sessões plenárias, bem abaixo de sua média, que chega a 90% de presença nessa legislatura.

Boa parte das ausências, porém, não resultará em descontos no salário de Bolsonaro: ocorreram durante uma viagem ao Japão, Coreia do Sul e Taiwan, no fim de fevereiro. A viagem foi classificada como missão autorizada pela Câmara. Não foi custeada pela Casa, mas as faltas são abonadas.

Segundo a assessoria de imprensa da presidência da Câmara, a justificativa apresentada para a viagem foi “conhecer o sistema educacional e os mecanismos de incentivo à inovação desses países”. As agendas, porém, também serviram para a divulgação da pré-candidatura de Bolsonaro. Nas redes sociais, apoiadores do presidenciável divulgaram vídeos de suas recepções em aeroportos asiáticos. O deputado também participou de bate-papos com a comunidade brasileira no Japão.

A viagem configura uma mudança de estratégia: em agosto, O GLOBO mostrou que o presidenciável utilizava recursos da cota parlamentar para custear passagens aéreas para cidades onde participava de atos com conotação eleitoral. Após a reportagem, Bolsonaro abandonou a prática. Questionado sobre as viagens, Bolsonaro não respondeu.

ALCKMIN APOSTA EM INAUGURAÇÕES

Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin pretende sair do governo de São Paulo apenas na data limite definida pela Justiça Eleitoral, 7 de abril, para poder participar de inaugurações de obras.

Ele tem usado compromissos públicos para fazer um balanço de suas realizações no governo, comparações com o trabalho de outros governadores e anúncio de obras que ficarão prontas até o fim do ano.

Uma das vitrines do tucano nesta reta final é a entrega de estações de metrô, que passaram por sucessivos atrasos nos últimos anos. Para este mês, estão previstas a inauguração da estação Oscar Freire, no coração do comércio de luxo da capital paulista, e o monotrilho que chegará ao Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos.

Outro nome que tenta viabilizar uma candidatura é o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC). Ativo nas redes sociais, ele busca capitalizar ações do banco de fomento em temas populares. Entre as áreas que vêm merecendo destaques estão linhas de crédito voltadas para o Nordeste e para pequenas e médias empresas. Ele também tem divulgado eventos com prefeitos e trechos de entrevistas. O ponto alto, porém, foi o anúncio de uma linha de crédito voltada para a segurança pública.

Em nota, o BNDES afirmou que “não tem comentários a fazer sobre o uso das redes sociais pelo seu presidente, que dispõe dessa prerrogativa como qualquer outro cidadão, tampouco sobre a eventual decisão de candidatar-se a cargo público, que é aspecto de foro íntimo”.

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