Aécio Neves age como o dono do PSDB, é vergonhoso, diz Mario Covas Neto

Mario Covas Neto, que subiu o tom nas críticas a Aécio por suas articulações após afastar-se do PSDB

THAIS BILENKY –  Folha de São Paulo

Presidente do PSDB paulistano e vereador, Mario Covas Neto, 58, diz que é “vergonhosa” a condução de Aécio Neves à frente do partido após ter sido atingido pelo escândalo da JBS. No domingo (20), Covas abriu nova frente de crise no partido ao soltar nota “repudiando” sua atuação partidária.

Aécio se licenciou da presidência da legenda em maio, após ter sido gravado pelo empresário Joesley Batista pedindo R$ 2 milhões. Ele nega ter cometido crime.

Filho de Mario Covas, Zuzinha, como é conhecido, afirma que guarda “mágoas” da gestão de João Doria, mas não pauta o mandato por isso.

Folha – O que acontece com o PSDB, com tantas crises?

Mario Covas Neto – O partido está com falta de identidade. Isso faz com que as pessoas comecem a emitir opiniões pessoais, às vezes diferentes da do cara a seu lado.

A nota sobre Aécio é sua opinião pessoal?

É partidária. Consultei os membros da Executiva, é coletiva. O PSDB não foi criado para ter um dono.

Aécio está se comportando como dono?

Sim. Veja só. Ele está licenciado. Não dá para continuar falando como se fosse o articulador. Não posso conceber que tenha na direção alguém que esteve em agenda extraoficial com o presidente Temer em que o tema era a substituição do Tasso [Jereissati, presidente interino]. Ter gente pressionando para que ele retorne para tirar o Tasso, que tem uma certa independência, mostra o quanto ele está dominando como se fosse dono.

Por que defende sua saída?
O caso do Aécio é muito mais grave que o dos demais [citados em delações, que carecem de provas]. Acho a explicação dele pouco convincente. Se ele conseguir demonstrar que não tem nada de errado, ótimo, volte. Não estou brigando com Aécio, tento traduzir o que parte do PSDB acha. É vergonhoso aceitar na direção alguém pego em uma gravação desse tipo.

Concorda com o programa do PSDB que diz que o partido cedeu ao fisiologismo?
Concordo. Com o Fundo Partidário, fica fácil em um regime presidencialista cooptar pessoas. No PSDB, a quantidade de dinheiro do fundo é grande. Sei a dificuldade que o diretório municipal tem porque não recebe o fundo.

Há quanto tempo não recebe? Como mantém a estrutura?
Desde dezembro. Alguma coisa a gente está devendo, estamos enrolando. Não chegou porque não tiveram interesse. Sou muito independente. Você pega o suplente [de senador] José Anibal. É presidente do Instituto Teotônio Vilela, com receita anual de algo como R$ 18 milhões. Foi nomeado pelo Aécio. Na hora que tiver convenções, vai eventualmente perder essa oportunidade. Talvez a reação dele, contrária à minha, signifique um pouco disso, a sobrevivência política dele. Ele está sem mandato.

Como vê a disputa entre João Doria e Geraldo Alckmin?
Acho que tem mais disputa de assessoria do que propriamente dos dois. Não vejo João Doria disputando com Geraldo Alckmin de jeito nenhum.

Por que Doria roda o Brasil?
Não digo que não gostaria de ser candidato. Digo que ele não disputa com Geraldo. Agora, se o Geraldo por qualquer razão deixar de ser o candidato, ele está credenciado.

Doria avançou o sinal?
Eu acho que poderia ser mais discreto, mas é muito difícil. Ele hoje é a sensação.

Está fazendo boa gestão?
É cedo para avaliar. Conseguiu um bom início de governo, mas uma gestão não se faz em seis meses, são quatro anos, é preciso ver o todo.

O sr. diz ser independente, inclusive em relação ao prefeito na Câmara Municipal.
Às vezes o governo tem pressa, ou o projeto não está bom. Quando critico, é para melhorar. Quero que o governo vá muito bem.

Ficou resquício por não ter sido eleito presidente da Câmara?
Restou uma mágoa. Não dirigida a ele, apenas. Mas não posso pautar meu mandato por um episódio. Hoje tenho convivência boa. Mas óbvio que, como eu não tive explicação convincente, é difícil de digerir. Fico sempre pensando qual é a razão que levou a isso.

Qual é a razão?
Uma condução política equivocada. O prefeito delegou a articulação ao secretário político dele [Julio Semeghini], que, ao contrário dele, que é moderno, faz a política à moda antiga, o toma-lá-dá-cá.

O senhor tem conversado com Álvaro Dias sobre ingressar no Podemos. Pensa em sair do PSDB?
Não pretendo. Os partidos terão rearranjos, estou inserido no processo. Às vezes acho que sou mais considerado fora do que dentro do PSDB [risos].

Inspira-se no seu pai? No caso Aécio, inspirou-se?
Ao lutar pela democracia, ser justo, tentar ser coerente.
Não quero ter meu malvado favorito, meu ladrão favorito. Não quero ter a postura que o petista tinha de dizer que se Lula é inocente ou não, não faz mal, rouba, mas faz. Lutei a vida inteira para o PSDB não ser igual aos outros, e o que o Aécio está fazendo é dizer, sim, somos iguais.

RAIO-X – MARIO COVAS NETO, 58

VIDA
Nasceu em Santos (SP), em 24 de abril de 1959

FORMAÇÃO
Graduado em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

TRAJETÓRIA
> Reeleito vereador de São Paulo com 76 mil votos, melhor votação entre tucanos

> Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara paulistana

> Presidente do diretório municipal PSDB de São Paulo

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