Agenda eleitoral cristã de candidatos à Presidência não é por acaso

Ciro Gomes (PDT) demonstrou no programa “Roda Viva” desta semana como o alerta dos presidenciáveis está ligado para a crescente influência do voto evangélico nas eleições. Ao ser perguntado sobre aborto, disse que não era “candidato a guru de costumes, mas a chefe de Estado”. Sobre a descriminalização das drogas, omitiu novamente sua opinião e deixou claro como pretende tratar este tipo de tema na campanha:

— O Brasil é um país profundamente cristão. A Igreja Católica é contra. Os neopentecostais são contra ao quadrado. Não adianta nada ser um déspota esclarecido que vai impor a uma nação aquilo que você acha correto — respondeu a um dos entrevistadores da bancada.

A cada disputa presidencial que passa, atrair o eleitorado evangélico é missão essencial para ser competitivo. O segmento representava 9% da população nos anos 1990; 15,6%, em 2000; 22,2%, em 2010; agora, beira os 30%; e a estimativa de demógrafos é que torne-se maioria no Brasil a partir de 2040.

Nesta quinta-feira, pré-candidatos ao Planlato aproveitaram a Marcha Para Jesus e uma convenção das Assembleias de Deus em Brasília para acenar ao eleitorado evangélico. Desde janeiro, os pré-candidatos começaram a sua peregrinação entre as principais lideranças evangélicas do país. Parte delas rejeita Marina Silva (Rede), que compartilha da mesma fé, mas não é perdoada por ter defendido um plebiscito sobre o aborto em 2010. A multiplicação de candidaturas no campo da centro-direita divide as maiores referências cristãs, que provavelmente não caminharão unidas em outubro.

UNIVERSAL TEM VÁRIAS OPÇÕES

A Igreja Universal do Reino de Deus e seu partido, o PRB, têm várias opções na mesa. Insistem até o momento no apoio à candidatura do empresário Flávio Rocha, mas também participam dos debates para que o centrão tenha um candidato único em outubro. Conversam ainda com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Vale lembrar: a Universal apoiou os governos de Lula e Dilma Rousseff, além de ter integrado o Ministério de Michel Temer com Marcos Pereira, atual presidente do PRB. Qualquer decisão, portanto, pode sair da igreja do bispo Edir Macedo.

Definido está o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. No ano passado, ele tinha o nome do ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) como o seu preferido para o Planalto. Como Alckmin prevaleceu no ninho tucano, Malafaia afirma que apoiará o deputado Jair Bolsonaro (PSL). “Acho que evangélicos rejeitarão políticos citados na Lava-Jato”, tem dito o pastor para justificar seu posicionamento. Malafaia também já fez de tudo um pouco na política brasileira. Apoiou Lula em 2002, Marina Silva em parte da campanha de 2010 (depois migrou para José Serra) e Aécio Neves na última eleição.

Já o missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, e o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, devem seguir o que o DEM determinar. Nos últimos anos, o deputado federal Rodrigo Maia filiou, em uma só tacada, parlamentares ligados aos dois. Outro indefinido é o bispo Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra. Em janeiro, ele chegou a levar o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) para discursar em um culto em Brasília sobre as reformas. O desempenho ruim de Meirelles nas pesquisas, no entanto, o faz ter dúvidas sobre a candidatura.

Certeza mesmo os evangélicos só têm uma nestas eleições. Vão trabalhar para ter mais de cem parlamentares eleitos na Câmara este ano. Hoje, 86 compõe a bancada. Em 2006, eram 32.

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