Amante da democracia, sem compromisso

Aconselhado mais de uma vez a não falar de improviso em seu terceiro mandato presidencial, Lula (foto) voltou a escapar do roteiro nesta quarta-feira, 8, e, como era de se esperar, não se saiu nada bem.

Não sou nem marido, eu sou um amante da democracia. Porque, a maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pelas amantes do que pelas mulheres”, disse o petista durante o evento que promoveu sob a alegação de defender a democracia.

A intenção de Lula era, claramente, valorizar sua alegada paixão pela democracia, mas a metáfora acabou saindo pela culatra. Ao mesmo tempo em que remói politicamente os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023, seu governo corrobora a farsa eleitoral de Nicolás Maduro na Venezuela.

Sem compromisso

O mesmo Lula que discursa internamente contra uma tentativa de golpe de Estado para desgastar Jair Bolsonaro também indicou Glivânia Maria Oliveira, embaixadora do Brasil em Caracas, para acompanhar a posse de Maduro, fruto de uma farsa eleitoral promovida pela ditadura venezuelana.

A posse do ditador, que perdeu a última eleição presidencial para Edmundo González Urrutia, está marcada para sexta-feira, 10. A posição a Maduro convoca para o dia anterior uma manifestação na tentativa de evitar que a fraude seja consumada.

Nove países já reconheceram a vitória de González, cuja família é acossada por Maduro, mas o Brasil segue fingindo que não há nada de errado no país vizinho.

“Banho de sangue”

Lula até simulou alguma surpresa e se disse assustado, em julho de 2024, ao ouvir que Maduro ameaçou um “banho de sangue” caso perdesse a eleição daquele mês. O ditador perdeu, como mostram as atas reunidas pela oposição, mas deu um jeito de permanecer no poder.

Um ano antes, Lula dizia a Maduro, ao recebê-lo com pompas em Brasília: “Companheiro Maduro, é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo”.

E aconselhou: “É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor”.

“Ainda estamos aqui”

Foi esse mesmo presidente que, fazendo menção ao filme de Walter Salles sobre a família de Rubens Paiva, disse hoje que “se estamos aqui, é porque a democracia venceu, caso contrário, muitos de nós estaríamos presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado”.

ONG Un Mundo Sin Mordaza denunciou na terça-feira, 7, o sequestro de Enrique Márquez, ex-presidenciável e ex-vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela. No mesmo dia, Maduro anunciou a captura de dois cidadãos americanos, dois colombianos e três ucranianos, que chamou de “mercenários”.

Essa narrativa só soa “infinitamente melhor” para quem não tem compromisso com a democracia.

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