ARTIGO: Protegendo a vida e preservando a economia

Por Nelter Queiroz, deputado estadual

Retroagindo aos anos da minha infância e adolescência, lembro-me do meu querido pai, quando lecionava francês no Colégio Diocesano Seridoense, a convite do inesquecível Monsenhor Walfredo Gurgel.

O professor Nelson Queiroz gostava de repetir uma frase atribuída tanto a Voltaire, quanto a Joseph Goebbels: “Menti, menti, alguma coisa ficará”. Estas palavras nunca pareceram tão atuais. Segundo os mais experientes, vive-se o reinado da desonestidade intelectual, que leva consequentemente a outros tipos de cinismo, no significado original do termo.

O problema é bem antigo. Quando estudante em Caicó, ensinaram-me que na Grécia Antiga havia uma Escola de Sofismas – equivalente a uma faculdade – na qual se lecionava a arte de enganar, mentir e burlar. Hoje é o que mais se vê na mídia, nas redes sociais e no mundo da política.

Em artigo publicado na Tribuna do Norte, em sua edição de domingo passado, o professor João Maria de Lima, ilustre diretor da nossa Escola da Assembleia Legislativa, publicou um artigo bem fundamentado, intitulado “A difícil arte da concordância”.

O aludido mestre começa o seu belo texto – que é uma lição da língua pátria – com as seguintes palavras: “Há algum tempo [neste país] pregam-se a discordância de ideias e a intolerância”. E disso resultam incontáveis vítimas.

A discordância travestiu-se de radicalismo, intransigência, fanatismo e violência. As realidades e os problemas são distorcidos, os argumentos são sofismados. A discussão não existe. Há imposição.

Cortez Pereira, ex-governador do Rio Grande do Norte, afirmava que “há a ditadura intelectual”, a pior de todas. Nunca se falou tanto em democracia neste país, mas vive-se uma época de falta de respeito ao outro.

Não basta discordar, é preciso destruir o adversário. Isso faz lembrar outra frase citada pelo meu venerável pai, lembrando um famoso júri, no Recife, onde um advogado, defendendo o réu Hosana de Siqueira, proclamou: “Quando cessa a força do Direito, começa o direito da força”. É o que se parece assistir nos dias atuais.

Verificam-se a ausência de expressão democrática e a sede de imposição, oriundos do radicalismo e da intolerância. Isto está acontecendo nesta pandemia, em que se polarizou, ideologizou uma doença. Também ali se constata desonestidade intelectual.

Concebe-se a vida como sendo apenas uma realidade biológica. O ser humano vive situações e quadros interdependentes. Não é algo teórico, mas concreto. A humanidade não existe fora do seu contexto biológico, econômico, familiar, social, cultural e religioso.

Querem tornar a nossa vida, “alma do outro mundo”, como dizem os moradores da Serra do João do Vale. Pretende-se fazer da vida humana um binômio dicotômico: vida versus economia.

Um ser humano não vive sem comida, sem bens materiais. Assim sendo, tais realidades são indissociáveis. Mas, há quem queira esfacelar ou retalhar o homem. Dizer que se salva primeiro a vida e depois se vê a economia, além de demagógico, é mortal. O que adianta “ter vida”, se não há trabalho, pão e bens.

Nessa dicotomia, radicalizou-se o vírus. Ele tomou lado político e virou uma bandeira partidária. E, a partir daí, não faltam distorções, sofismas em torno de métodos e protocolos. Há quem se arvore na sua autossuficiência em dono da verdade, absoluto, supremo, igual a Deus.

Usa-se uma falsa ciência. Ela é empregada quando convêm e serve para reforçar concepções ideológicas ou estandartes de partidos. Isso não é amor à vida, ao ser humano, é sede de poder, a qualquer preço. A saúde não é matemática, onde as regras são fixas. Mas, autoridades intransigentes não dialogam, impõem suas posições e visões.

Democracia não é a visão de um grupo, mas do povo. Confunde-se infelizmente a parte pelo todo e vice-versa. A Organização Mundial da Saúde, cujo diretor não é médico, não é dona da verdade. Suas falas são usadas como dogmas infalíveis, de acordo com as circunstâncias. É “ciência” de ocasião.

Ninguém fala das preocupações da OXFAM internacional que preconiza, após a pandemia, doze mortes de fome e desnutrição por hora em certos países. A saúde é um todo, não apenas uma parte. A vida – como definem alguns políticos – é um substantivo abstrato. Existem, sim, seres vivos. E estes comem, precisam de dinheiro, de bens materiais, meios para estudar, ter lazer e etc.

É falso e perigoso dissociar vida e economia, bens e vida, como pregam alguns, segundo critérios ideológicos. Tudo é interdependente e interlaçado. Fazer dicotomias é mais fácil, sendo exatamente isso o que vários pretendem. Preservar a vida sem economia, é destruí-la ou reduzi-la a pó!

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