Astrônomos anunciam descoberta de quase cem novos planetas


Ilustração mostra, fora de escala, vários sistemas planetários detectados a partir de dados do Kepler na Via Láctea
Foto: ESA/Hubble/ESO/M. Kornmesser

Uma equipe internacional de astrônomos anunciou nesta quinta-feira a descoberta de quase cem novos planetas extrassolares, isto é, que orbitam estrelas que não nosso Sol. Também conhecidos como exoplanetas, estes objetos foram identificados a partir de dados da missão K2, que resgatou parte da capacidade do observatório espacial Kepler, da Nasa, de detectá-los.

Com isso, o número de planetas extrassolares confirmados só na K2, iniciada em 2014, subiu para 292, e o total das duas missões do Kepler, lançado em 2009, para mais de 2,4 mil, com outros cerca de 5,1 mil ainda chamados “candidatos” a exoplanetas aguardando confirmação de análises ou observações adicionais com outros instrumentos.

– Começamos analisando 275 candidatos, dos quais 149 foram validados como exoplanetas de fato. E, por sua vez, 95 destes planetas mostraram ser de fato novas descobertas – conta o astrônomo americano Andrew Mayo, estudante de doutorado no Instituto Espacial Nacional da Universidade Técnica da Dinamarca e principal autor de artigo sobre a descoberta, publicado nesta quinta no periódico científico especializado “Astronomical Journal”. As informações são de O Globo

Lançado pela Nasa em março de 2009, o Kepler é o primeiro telescópio espacial construído com o objetivo específico de encontrar planetas extrassolares. Para isso, ele usa um método conhecido como “de trânsito”, no qual busca por alterações periódicas no brilho de estrelas distantes ocasionadas pela passagem dos planetas em frente a elas de seu ponto de vista – fenômeno conhecido na astronomia como “trânsito”, daí o nome da técnica.

Um dos problemas para detectar exoplanetas por este método, porém, é que ele exige, entre outros fatores, que o telescópio fique continuamente apontado para as estrelas numa mesma região do céu. Durante a primeira fase da missão do Kepler, chamada K1, ela estava localizada entre as constelações de Lira e Cygnus (Cisne), somando cerca de 160 mil astros.

Acontece que, em julho de 2012, um dos giroscópios que permitiam que o Kepler mantivesse sua “visão” fixada nesta área parou de funcionar. Ainda assim, o telescópio poderia, e continuou, a fazer observações cientificamente válidas com apenas três deles. Em maio de 2013, no entanto, um segundo giroscópio do Kepler também apresentou falhas. Os técnicos da Nasa ainda tentaram durante meses recuperar pelo menos um dos equipamentos, mas em agosto de 2013 desistiram, dando fim à missão original do observatório.

Mas nem tudo estava perdido. Graças à pressão exercida pela própria luz do Sol numa das laterais do Kepler, os engenheiros da Nasa desenvolveram um método para usá-la como se fosse um terceiro “giroscópio”. Assim, eles conseguem manter o observatório apontado fixamente para uma mesma região do céu por períodos de cerca de 80 dias antes que tenham que manobrá-lo para evitar que a luz solar penetre a janela do telescópio e destrua seus sensíveis detectores, o que deu início à missão K2.

E aí começa outra grande dificuldade na caça por exoplanetas pelo método de trânsito: distinguir as mudanças na chamada “curva de luz” das estrelas provocadas por planetas de fato daquelas causadas por outros fenômenos astronômicos ou “ruídos” dos detectores. E foi justamente com uma análise minuciosa das curvas dos 275 candidatos que Mayo e colegas chegaram aos novos planetas extrassolares.

– Vimos que alguns dos sinais eram provocados por sistemas estelares múltiplos (com mais de uma estrela) ou ruído da nave, mas também detectamos planetas que vão de um tamanho menor que o da Terra ao de tamanho de Júpiter e até maiores – acrescenta Mayo.

E entre estes planetas extrassolares recém-confirmados está um novo recordista. Com um período orbital, ou “ano”, de apenas dez dias, ele tem como “estrela-mãe” um astro designado HD 212657 que é o mais brilhante até agora que se sabe ter um exoplaneta.

– E planetas na órbita de estrelas brilhantes são importantes porque os astrônomos podem aprender muito sobre eles a partir de observatórios em terra – conclui Mayo.

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