Boulos tenta se levantar escorado no truque da jornada de 6×1


Guilherme Boulos (PSOL-SP, foto) saiu menor do que entrou da eleição municipal.

Com apoio de Lula e de milhões de reais do fundo partidário no PT, o deputado federal não conseguiu superar o resultado da eleição de 2020, quando foi para o segundo turno com o falecido Bruno Covas e recebeu praticamente o mesmo número de votos neste ano.

Na derrota deste ano, para o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB), o deputado recebeu apenas 155 mil votos a mais, apesar de ter gastado cinco vezes mais.

Surfando no 6×1
Além disso, ainda se prestou a participar de uma live com Pablo Marçal no segundo turno, cuja prisão o deputado tinha pedido após o influenciador ter divulgado um receituário falso para justificar suas acusações de que Boulos usava cocaína.

Agora, na tentativa de se reerguer, o psolista colou na proposta da deputada federal Érika Hilton (PSL-SP) para reduzir o limite da jornada de trabalho de 6×1 para 4×3 sem reduzir a remuneração.

Já ficou claro, desde que a proposta se popularizou nas redes sociais, que a ideia não apenas é impraticável, mas potencialmente maléfica para o próprio trabalhador.

Boulos do lado do trabalhador?
Caso uma lei como essa fosse aprovada, os custo para os contratantes aumentaria e, consequentemente, seus negócios seriam inviabilizados, o que reduziria o número de empregos disponíveis.

Mas o que importa é Boulos. O que importa é a atenção que, mesmo admitindo que sua proposta não levou em conta consequência práticas, Érika Hilton recebeu após conseguir pautar o tema nas redes.Nesta sexta-feira, 15, Boulos, que já tinha se postado bem atrás de Hilton durante entrevista coletiva sobre o tema, foi à avenida Paulista participar de um ato em defesa do projeto, e postou um vídeo em suas redes sociais, com o resumo de sua participação no evento, que foi replicado por militantes de esquerda em outras capitais do país.

“Quem está de cada lado“
“O debate do fim da escala 6×1 escancarou quem está de cada lado neste país.(…) Porque, às vezes, a gente fala, ‘esquerda’, ‘direita’, isso na cabeça das pessoas é muito vago”, discursou em carro de som.

“Mas, quando a gente coloca lado a lado quem defende os trabalhadores e quem defende só lucro e privilégio de meia… Vamos lembrar, gente, quando, há mais de 100 anos, se implantou o salário mínimo o discurso de pânico dizia que ia acabar com a economia. Quando se implantou as férias remuneradas, com a CLT, o discurso era o mesmo. O décimo terceiro, diziam que as empresas iam falir. Nada disso aconteceu, e não vai acontecer”, discursou.

Tudo isso aconteceu. Alterações na legislação trabalhista impactam no custo do trabalho e, consequentemente, na quantidade de empregos disponíveis.

Informalidade
O Brasil tem atualmente cerca de 39 milhões de trabalhadores informais, mais do que os 38 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado, de acordo com o último dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi um dos que alertou para os riscos da proposta de redução forçada da jornada:

“Esse projeto de eliminar [a escala 6×1] e passar com que as pessoas só trabalhem quatro dias por semana é um projeto que eu acho bastante prejudicial para o trabalhador, porque, no final, vai aumentar o custo do trabalho e a informalidade, e vai diminuir a produtividade.“

Se o projeto vier a ser aprovado — o que é bem improvável — e ocorrer exatamente o que os especialistas previram, Boulos poderá seguir dizendo, contudo, que a culpa é dos outros.

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