Brasil é prisioneiro da armadilha social-democrata, diz Guedes

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As luzes estavam apagadas quando o economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, entrou no grande salão do centro de eventos do WTC para falar no 4º Congresso Nacional do MBL (Movimento Brasil Livre). Exibia-se um vídeo com momentos apoteóticos do grupo no impeachment.

Ainda assim, a plateia se desconcentrou. Das cadeiras, do chão, em pé, de onde fosse possível se espremer, todas as as atenções se voltaram para Guedes.

“Ai, ai, ai, privatiza a Petrobras” repetia a plateia quando Guedes pegou o microfone e iniciou a sua fala —uma espécie de aula sobre a história econômica brasileira com pitadas de biologia.

Com os fortes investimentos em infraestrutura feitos nos anos de regime militar, disse ele, o Brasil se torna a economia que mais cresce no mundo, “em torno de 7,3% nos primeiros três quartos do século passado.”  Alexa Salomão e Flavia Lima – Folha de São Paulo

“Já no fim do regime militar, porém, a economia dá os primeiros sinais de desaceleração, com alta da inflação.”

Vem a redemocratização e, segundo o economista, é natural que a esquerda se fortaleça em reação a um regime político que era de direita.

Numa democracia emergente, afirmou, também é natural que a esquerda comece a “esticar o cobertor em direção às áreas sociais —saúde, educação e saneamento.”

O PMDB foi a primeira versão dessa esquerda, disse Guedes. O partido, porém, não consegue transformar o “estado dirigista” e o gasto público sai do controle.

Os preços sobem e surge o fenômeno da hiperinflação, com a correção diária também dos investimentos.

“O Brasil se torna prisioneiro dessa armadilha social-democrata do baixo crescimento”, disse, um “inferno para os empreendedores e o paraíso dos rentistas.”

Guedes fez um paralelo com a rotina de formigas vermelhas que vivem na selva.

Segundo ele, um grupo de formigas marcha em direção ao alimento enquanto o outro retorna à colônia.

Até que, para desviar de um obstáculo, o grupo que está voltando engata no que faz o caminho de ida, girando em círculos na selva até morrer.

“As formigas da bunda grande e vermelha parecem o social-democrata no Brasil. Eles vão um atrás do outro e começam a girar. As formigas morrem, as nações se perdem por décadas”, concluiu em meio aplausos entusiasmados da plateia.

Segundo ele, costela do PMDB, o PSDB deixou o partido em nome da ética.

Também em nome da ética, o PT venceu o PSDB por quatro eleições seguidas, sendo substituído pelo PMDB.

“É o círculo que descrevi. Foi esse modelo dirigista que acabou corrompendo a política e derrubando a economia, e nós nos perdemos.”

O governo de Jair Bolsonaro seria, assim, uma virada histórica inevitável.

“O Brasil era um saci-pererê que só pulava com a perninha esquerda. Você só podia votar no social-democrata; o social-democrata tucano, o do chão de fábrica petista, o populista”, afirmou.

“Aí surge alguém que não é de esquerda e vira aquela comoção: ‘olha, ele fala feio’. O presidente tem bons princípios. Qual o problema de ele não se expressar sempre de forma politicamente correta? Tem gente que se expressa assim e está com a mão no cofre”, disse entre aplausos e gritos apaixonados.

Guedes frisou a necessidade de conter a escalada do gasto público, afirmando que o modelo como um todo abre espaço para corrupção. “Dirigismo econômico corrompe. A União Soviética é o exemplo mais antigo, mas não precisamos ir longe. A Venezuela está bem aqui do lado”, disse.

Guedes detalhou que os gastos, no início do governo militar, equivaliam a 18% do PIB (Produto Interno Bruto), alcançou cerca de 24% ao final. Com os civis, foi a 30% com José Sarney; 35% com Fernando Henrique Cardoso; 36% com Lula. Chegou a 45% do PIB com Dilma Rousseff. “O governo virou uma gigantesca folha de pagamento.”

O economista defendeu o equilíbrio dos gastos totais, mas disse querer um Estado “eficiente e fraterno”.

E afirmou estar “implícito é uma reforma na politica: “Acabou o toma-lá-dá-cá”.

Mas contemporizou. Apesar dessas paixões, disse ele, “estamos seguindo uma democracia virtuosa.” “A grande verdade é que se não existisse o Corinthians, não existiria o São Paulo, então nós precisamos do outro lado.”

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