Briga entre Bolsonaro e Doria trava obras e projetos em São Paulo

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O descompasso político entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria (PSDB) cria impasses em obras e projetos dados como certos pelo governo de São Paulo, mas que exigem aval do governo federal para serem viabilizados. De sete projetos que dependem da parceria entre o Planalto e o Palácio dos Bandeirantes, em cinco Brasília decidiu por mais estudos antes de autorizar as ações ou já determinou rumos diferentes daqueles que Doria defendia.

Quadro similar ocorre no Rio de Janeiro, onde o PSL, partido do presidente, ocupa cargos no governo Wilson Witzel (PSC) mesmo após determinação contrária do presidente da legenda no Estado, senador Flávio Bolsonaro. Aliados de Witzel acusam Bolsonaro de se omitir em questões fundamentais para o Estado com a intenção de não fortalecer um eventual futuro adversário, que poderá se beneficiar se fizer boa administração.

Em São Paulo, um dos impasses é a construção da ponte para ligar Santos e Guarujá, no litoral, antiga promessa de governos tucanos. A gestão Doria diz que fez acordo para viabilizar o empreendimento, avaliado em R$ 2,9 bilhões, por meio de um contrato aditivo com a Ecovias, concessionária que administra as Rodovias Anchieta e Imigrantes. A empresa custearia a obra e, em troca, cobraria pedágio de quem cruzar a ponte. Mas a gestão do porto, que é federal, sinaliza oposição ao plano.

Ao Estado, informou que a ponte “apresenta potenciais impactos na operação portuária, como redução de velocidade dos navios e até mesmo a restrição à navegação” e que a ponte poderia comprometer o projeto de expansão da zona portuária que está em discussão.

Além da ponte, Doria depende de Bolsonaro para fechar o Campo de Marte, na zona norte; transferir a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) da zona oeste para outro lugar; construir um trem ligando os terminais do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos; entregar a linha de trem entre a capital e Campinas e, por fim, entregar a gestores privados a Hidrovia Tietê-Paraná e 22 aeroportos. De todos esses projetos, os únicos que não têm entraves, por ora, são o trem regional e a concessão de aeroportos.

Relações

Oficialmente, governos de Rio e São Paulo negam haver conflito com o governo federal. A gestão Bolsonaro foi questionada sobre o tema, mas não se manifestou. “Os projetos de parceria estão caminhando conforme o governo do Estado gostaria”, disse o secretário de Governo, Rodrigo Garcia, vice-governador.

Há duas semanas, a liberação do Estado para tomar empréstimos de até R$ 4 bilhões, para obras do Metrô e da Sabesp (que não dependem de aval federal), feita pelo Senado, foi recebida como indicativo de que o distanciamento entre os governos não chegará aos investimentos. “O que há são questões técnicas que precisam ser superadas. Isso, às vezes, demanda tempo, mas estamos caminhando”, disse o chefe do escritório de representação paulista em Brasília, Antonio Imbassahy.

Por outro lado, os aliados de Doria avaliam que, se os entraves persistirem, o governador terá de se manifestar. Desde junho, os atritos entre Doria e Bolsonaro recrudesceram de forma mais contundente. O presidente chegou a dizer que o governador era uma “ejaculação precoce” política. Doria sugeriu ao presidente “trabalhar mais e tuitar menos”. Na última sexta-feira, quando se encontraram, o tucano baixou o tom e chamou o presidente de “amigo dos brasileiros em São Paulo”. Bolsonaro optou por citar Doria protocolarmente – no evento, formatura de sargentos da Polícia Militar, o presidente foi ovacionado e o governador, vaiado.

O cientista político Humberto Dantas, pesquisador da FGV-SP, ressalta que os interesses em projetos grandes não são apenas políticos, mas econômicos. “Há grupos de empresários com visões diferentes. Esse conflito econômico também pesa”, diz. Ele ressalta ainda que, na disputa política, nem Doria nem Bolsonaro “prezam pela diplomacia”.

A postura que Doria vinha tendo com o presidente não se refletiu na relação dele com os representantes do PSL paulista na Assembleia Legislativa, que não é inteiramente identificada com o bolsonarismo. Doria sancionou, em agosto, projeto da deputada Janaína Pascoal que autoriza a opção de partos por cesárea na saúde pública, que sofreu críticas de médicos obstetras.

Por sua vez, a bancada do partido, que tem 15 deputados, vota livre.

Em um dos projetos prioritários de Doria, a extinção da empresa Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), foram 11 votos com o governo. Mas, na aprovação do programa InvestAuto, que prevê isenção de impostos para montadoras, foram 7 votos contra, 6 a favor e um voto em obstrução.

Oposição

No Rio, apesar de manter os cargos no governo, o PSL indica que, na Assembleia Legislativa, votará com a oposição. Aliados de Witzel alegam que iniciativas relacionadas aos portos de Macaé e do Açu, ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e à distribuição de royalties do petróleo, temas caros ao Rio, estariam sendo ignoradas por Bolsonaro.

Na última sexta, após o evento com Doria, o presidente esteve no Rio, com Witzel, e teve postura mais agressiva. Citou “ética”, “moral” e ausência de “covardia” ao listar características que, para ele, devem estar embutidas no projeto presidencial de quem pretende suceder-lhe.

*Estadão

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