Caixa mantém no comando cinco dirigentes que são investigados

Presidente da Caixa, Gilberto Occhi 14/7/2016 REUTERS/Paulo Whitaker

Foco de operações que apuram desvio de recursos, a Caixa mantém no seu comando cinco dirigentes sob suspeita de envolvimento em esquemas de corrupção. Seu presidente, Gilberto Occhi, e quatro vice-presidentes são alvo de investigações do MPF (Ministério Público Federal) e do próprio banco.

Citações a eles aparecem nas operações Sépsis, Cui Bono? e Patmos, conduzidas pela Procuradoria em Brasília.

Mensagens e documentos sob análise dos investigadores indicam que os dirigentes auxiliaram o grupo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA) a viabilizar operações do banco nas quais teria havido suborno. Os inquéritos estão em curso.

Em delação, o corretor Lúcio Funaro disse que Occhi tinha uma “meta de propina” a cumprir quando era vice-presidente de Governo na CEF. As informações são de  FÁBIO FABRINI –  Folha de São Paulo.

Uma apuração paralela, encomendada pelo comitê independente da Caixa ao escritório Pinheiro Neto Advogados à empresa de investigação privada Kroll e à auditoria PwC, expôs os vínculos da atual cúpula com políticos investigados e mostrou como tem funcionado o balcão de favores no banco.

Por conta das suspeitas, o MPF requereu em dezembro que o governo afaste todos os vice-presidentes para que a escolha passe a ser feita por critérios técnicos. O pedido, enviado à Casa Civil e ao banco, compila irregularidades atribuídas aos executivos.

A investigação da Caixa cita episódios de ingerência política na gestão e nas operações do banco.

O relatório sobre as apurações diz que o então ministro Marcos Pereira (Indústria e Comércio), que pediu demissão do cargo na semana passada, e o deputado Celso Russomano (SP), ambos do PRB, teriam condicionado a permanência do vice-presidente Corporativo, Antônio Carlos Ferreira, no cargo ao atendimento de “demandas”.

O executivo contou em depoimento que recebeu e encaminhou para as áreas pertinentes pedidos de patrocínio e reuniões com empresários feitos pelo partido.

Ferreira indicou ainda que os vices Deusdina dos Reis Pereira (Fundos de Governo e Loterias) e Roberto Derziê de Sant’Anna (Governo) tinham frequentes encontros com Cunha para tratar de operações da Caixa.

O dono do grupo J&F, Joesley Batista, disse em delação ter conhecimento de que Derziê recebia pagamentos indevidos e integrava o grupo criminoso do ex-deputado.

A investigação diz também que que pleitos da Eldorado Celulose, da J&F, foram enviados a ele pelo ex-vice-presidente Fábio Cleto, primeiro a delatar corrupção no banco.

O relatório cita ainda uma mensagem na qual Geddel teria enviado a Derziê dados de uma “conta pessoal”.

Derziê é ligado ao MDB. Ouvido pelo banco, ele disse que o presidente Michel Temer, quando vice de Dilma Rousseff, lhe encaminhou pedido de nomeação e “percebeu sua utilidade em termos de gestão dos repasses nas emendas parlamentares”.

Já o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), identificado em mensagens de investigados como “cabeça branca”, teria solicitado informações de operações de empresas privadas com a Caixa.

A investigação apurou que Deusdina era braço-direito de Cleto no banco e, após a demissão dele, teria se apresentado a Cunha como sua “substituta”. Ela é ligada ao PR.

Já José Henrique Marques da Cruz, chefe da área de Clientes, Negócios e Transformação Digital, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na Cui Bono?. Ele é citado em mensagens de Geddel e Cunha como um suposto auxiliar na liberação de recursos da Caixa para empresas da J&F, suspeita de pagar propina aos emedebistas.

Geddel teria procurado Marques e, em seguida, afirmado para Cunha que o executivo estava “comprometido a assinar cédula de crédito bancário” para empresas do grupo “no dia seguinte”.

SERÃO MANTIDOS

O presidente Michel Temer não deve atender ao pedido de afastamento dos vice-presidentes da Caixa. O Palácio do Planalto prepara resposta ao MPF (Ministério Público Federal), na qual argumenta que a situação dos executivos não contraria a Lei das Estatais, que disciplina a nomeação de diretores e conselheiros de empresas públicas.

As respostas devem ser enviadas aos procuradores a partir desta segunda (8).

A resistência do governo à saída tem razões políticas. O Planalto quer manter atados à sua base no Congresso partidos que indicaram os diretores da Caixa (PP, PR e PRB), visando a aprovação da reforma da Previdência.

Apesar da recusa do presidente, autoridades da equipe econômica ouvidas pela Folha afirmam reservadamente que a saída dos executivos seria benéfica à Caixa. Dizem que os escândalos de corrupção e o aparelhamento político comprometem o banco.

O Conselho de Administração da Caixa aprovou novo estatuto, que lhe dá poderes para afastar dirigentes, mas a implementação ainda depende do aval do ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e acionistas, em assembleia.

O documento está sob análise da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Não há data para que chegue às mãos de Meirelles. “A convocação da assembleia geral de acionistas só poderá acontecer após a conclusão desse processo”, diz a pasta.

OUTRO LADO

A Caixa diz em nota ter um “sistema de governança adequado à Lei das Estatais”, o que faria com que “a maior parte das recomendações do MPF (Ministério Público Federal) já estejam implementadas, em implementação ou em processo de estudo pelas suas instâncias decisórias”.

O banco informou que vai responder formalmente o MPF sobre o pedido de afastamento de todos os vice-presidentes a partir desta segunda (8), quando termina o recesso da Procuradoria da República no Distrito Federal.

Procurados por meio da assessoria de imprensa da Caixa, o presidente, Gilberto Occhi, e os vice-presidentes não se pronunciaram.

A Casa Civil da Presidência afirmou, por escrito, que prepara uma resposta ao MPF.

O ex-ministro Marcos Pereira, presidente nacional do PRB, disse que não teve acesso às investigações.

“Cabe expressar nossa indignação frente à mentira quanto a se terem condicionado demandas por cargo e/ou apoio. Tal fato jamais aconteceu. Trata-se de invenção maldosa”, acrescentou.

O deputado Celso Russomano (PRB-SP) afirmou que sua relação com dirigentes da Caixa é institucional. Ele disse que “não existe patrocínio” que a Caixa tenha liberado a pedido de parlamentares de seu partido. “Se nada foi atendido, nada foi pedido.” O congressista desafiou “qualquer integrante da Caixa ou do MPF” a provar que solicitou “algo irregular”.

Procurado, o ministro Moreira Franco não comentou.

Colaboraram GUSTAVO URIBE e JÚLIO WIZIACK, de Brasília

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