Chefe de gabinete de Antonio Imbassahy é o ‘nomeador-geral da República de Temer’

Descrito como um hábil negociador, de trato fácil e temperamento expansivo, Carlos Henrique Menezes Sobral, chefe de gabinete do articulador político do governo, ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), é especialista em usar a boa retórica e a relação próxima que desenvolveu com políticos para saciar, sem perder a mão, o apetite de deputados e senadores por cargos na Esplanada.

Ele é responsável por mapear os espaços que o governo tem à disposição para distribuir a aliados. Costuma receber, diariamente, dezenas de parlamentares pidões em seu gabinete, sobretudo em momentos de troca de cargos, como o que ocorreu após a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer. O poder da caneta atribuído a Sobral lhe rendeu o apelido de “nomeador-geral da República”.

Ministros e assessores de Temer têm “muita confiança” em Sobral e se sentem “confortáveis” em lidar com ele. Não raro, é chamado ao gabinete do presidente para relembrar o histórico de cargos ou de posição em votações importantes de algum deputado. Sobral costuma saber tudo de cabeça.

— Ele é a memória do governo para os cargos do Executivo. E sabe de cabeça até aqueles carguinhos no interior do Brasil — disse um assessor do Planalto, que pediu anonimato. As informações são de LETICIA FERNANDES, O Globo.

A discrição também está em seu DNA, como é típico de quem opera nos bastidores. Se a relação é amistosa e até de intimidade com parlamentares, é arredio quando o público-alvo é o de jornalistas. Avesso a aparições, não quis falar com a reportagem ao ser procurado para descrever seu método de trabalho.

Aos 50 anos, o sergipano natural da pequena Laranjeiras é cria do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que cumpre prisão domiciliar acusado de fraudes quando era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa. A proximidade com o ex-ministro e o bom trânsito com a cúpula do PMDB vieram através de um dos irmãos de Geddel, Afrísio Filho, que trabalhou com Sobral e o apresentou ao clã Vieira Lima.

Debaixo da asa de Geddel, foi aos poucos engordando a agenda de contatos no mundo político. Trabalhou com o ex-ministro na Integração Nacional, ainda no governo do ex-presidente Lula, passou pela diretoria do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) na gestão do ministro Gastão Vieira e virou assessor técnico da liderança do PMDB na Câmara, em 2014, quando o líder era o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba.

Foi o outro irmão de Geddel, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), quem indicou Sobral para Cunha. O ex-deputado gostou do que ouviu ao entrevistá-lo e contratou o assessor, que depois foi levado para a presidência da Câmara. Esteve ao lado de Cunha durante o impeachment e só deixou a Câmara quando Temer assumiu a presidência, e Geddel seguiu para a Secretaria de Governo, para onde levou Sobral para ocupar a chefia de gabinete. De lá não saiu mais.

Durante a gestão Cunha, estreitou relações com deputados de diferentes colorações, mas em especial com aqueles do centrão, que naquele momento era a base de sustentação do peemedebista. No melhor estilo bon vivant, Carlos Henrique era mais do que um mero assessor: após o expediente, saía com deputados para festas e jantares. A boa impressão que causou lhe rendeu convites para as pescarias anuais promovidas pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), no Pantanal. Na volta de uma das viagens, satisfeitos com um peixe graúdo pescado, comemoraram com um jantar em Brasília.

— É alguém que considero um amigo. É uma pessoa afável, difícil de não gostar, tem boa relação com todos os deputados — afirmou Marun.

De pronto avisando que é “suspeito para falar”, Lúcio Vieira Lima diz que Sobral é unanimidade no PMDB:

— Se você perguntar para a bancada do PMDB se quer ele ministro, todo mundo vai dizer que quer — disse o deputado, tecendo elogios ao amigo:

— Ele se dá muito bem com centrão, centrinho, esquerda e direita. E a relação extrapola a articulação política, ele tem a capacidade de fazer amigos. Sai para a farra no bom sentido, tem uma boa prosa e é uma boa companhia.

O líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), conterrâneo de Sobral e uma das principais lideranças do centrão, é outro a destacar o perfil do colega de articulação política:

— Sempre que estou no palácio despachando saio com ele para almoçar. É um cara muito operacional e atencioso com os deputados.

Quando Geddel deixou a Secretaria de Governo, alvejado por acusações do então ministro da Cultura, Marcelo Calero, de tráfico de influência para liberação de uma obra em Salvador, Sobral passou a despachar diretamente com Temer até a chegada de Imbassahy à pasta, quase três meses depois.

Considerado um estrategista, que negocia sem privilegiar deputados mais próximos, Sobral é visto no governo como um ativo importante para as votações que Temer ainda quer emplacar, em especial a da reforma da Previdência. Segundo relatos, foi ele quem alertou o governo, quando da votação da reforma trabalhista em comissão do Senado – na qual o governo perdeu por um voto -, que o senador Hélio José (PMDB-DF), que acabara de votar contra Temer, tinha apadrinhados no governo. No dia seguinte, eles foram demitidos, e os cargos redistribuídos para aliados fiéis.

— Carlos Henrique é igual aquele diretor de escola que sabe o nome de todos os alunos. Ele conhece todos os deputados e os cargos que têm, vai ser importantíssimo na Previdência — afirmou um interlocutor do governo.

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