Com 207 deputados, Centrão ainda será indispensável na Câmara

Mesa de negociações. Plenário da Câmara dos Deputados lotado em dia de votação: mesmo com menos força, centrão terá papel importante para a aprovação de projetos e reformas na próxima legislatura, qualquer que seja o governo eleito Foto: Michel Filho / Agência O Globo

O primeiro turno da eleição traduziu a insatisfação de brasileiros com a política ao impor uma renovação de 47,3% em seus representantes na Câmara dos Deputados. Partidos tradicionais perderam espaço e emergiram novas forças.

As mudanças foram profundas, mas será inescapável ao próximo presidente, seja Jair Bolsonaro ( PSL ) ou Fernando Haddad (PT ), negociar com legendas que apoiaram todos os governos desde a redemocratização.

O centrão — PP, PR, PSD, PRB, PTB, PROS, SD e PSC — e o MDB, siglas que formaram a base dos governos de Dilma Rousseff e Michel Temer, perderam 15% de suas bancadas, de 244 para 207 deputados. Juntos, no entanto, esses partidos ainda representam uma força indispensável.

Quando somados aos 52 deputados eleitos pelo PSL de Bolsonaro ou aos 56 eleitos pelo PT de Haddad, têm votos suficientes para garantir maioria ao futuro governo na aprovação de projetos de lei na Câmara. Para dispensar o centrão, tanto o PSL quanto o PT precisariam negociar com partidos de campos políticos antagônicos aos seus, o que reduziria as chances de sucesso. Lydia Medeiros – O Globo

— O fiel da balança serão sempre os grandes partidos. Perderam poder, mas têm votos e articulação — analisa o cientista político Leandro Machado, um dos fundadores do movimento de renovação política Agora!.

Para emendar a Constituição, a exigência de votos é maior, de 308 deputados. Se quiserem cumprir as promessas de reformas, Bolsonaro e Haddad terão de reorganizar e ampliar os respectivos campos políticos. Na esquerda, o petista poderia contar com PSB, PDT e PCdoB. Com os votos do centrão, alcançaria o quórum necessário. Já Bolsonaro teria de recorrer à centro-direita, DEM, PSDB, PPS e ao estreante Novo.

Além da aritmética, porém, na busca por governabilidade os dois lados vão enfrentar fortes dificuldades e cobranças do eleitor. O cientista político Octávio Amorim Neto, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da FGV, lembra o fato de Bolsonaro dizer que pretende dispensar instrumentos clássicos para ter maioria no Congresso.

O candidato já anunciou que reduzirá o número de ministérios e preencherá o primeiro escalão sem indicações políticas e com militares — que, desde o governo Temer, vêm recuperando o protagonismo político e a presença na mesa de decisões do Executivo.

Cotado para a chefia da Casa Civil, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) defende negociações individuais com parlamentares, no “varejo”, ignorando o colégio de líderes.

O cientista político diz que a redução e o aumento de ministérios são cíclicos.

— O presidencialismo de coalizão tem sido tratado como a causa de nossos males. Mas dar a um partido um ministério em troca de apoio não é necessariamente sinônimo de corrupção ou de clientelismo. É um acordo típico em qualquer democracia multipartidária — afirma Amorim, que compara a estratégia do candidato àquela usada por Fernando Collor, em 1990: — Collor reduziu o número de ministérios, e depois teve que ir aumentando para sobreviver. E, ao fim e ao cabo, não sobreviveu.

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