Conta salgada: governo federal gastou mais que o dobro com leite condensado do que com arroz

Um dos muitos memes sobre os gastos do Executivo com leite condensado

A informação de que órgãos do governo federal gastaram mais de R$ 15 milhões somente com leite condensado em 2020 — em meio a R$ 1,8 bilhão consumidos com alimentos — gerou uma enxurrada de memes e críticas nas redes sociais nesta terça-feira (26), após ser divulgada pelo site “Metrópoles”. Os dados, extraídos do Painel de Compras do Ministério da Economia, levaram três parlamentares a fazerem uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo que a Presidência da República seja investigada pelo aumento de gastos do Executivo com a “lista do mercado”.

De acordo com o “Metrópoles”, em 2020 houve um aumento de 20% nas despesas com itens alimentícios adquiridos pelo governo, em relação ao que foi gasto no ano anterior. Os maiores montantes foram pagos pelos ministérios da Defesa e da Educação. A primeira pasta é responsável pela alimentação do efetivo das Forças Armadas e, em nota enviada ao site, informou que “toda despesa efetuada pela Administração Pública Federal está dentro do orçamento”.

Entre os alimentos listados pelo site, apareceram biscoitos, sorvete, massa de pastel, geleia de mocotó, pão de queijo, pizza, vinho, bombom e chiclete. O item que mais mobilizou os internautas foi o leite condensado, que ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter. Muitas postagens lembravam que o ingrediente é a estrela de uma das receitas favoritas do presidente Jair Bolsonaro, o pão francês com leite condensado, mas é importante ressaltar que as compras do Palácio da Alvorada, onde ele mora, não estão neste levantamento. O gasto com leite condensado foi mais que o dobro do que o gasto com arroz, por exemplo (veja no fim da matéria o quanto foi pago por alguns itens)

“Entrarei na justiça para pedir explicações sobre os gastos absurdos do Bolsonaro! Mais de R$ 15 milhões em Leite Condensado e Chiclete com dinheiro público? Isso é corrupção!”, escreveu numa rede social o candidato do PDT à Presidência da República em 2018, Ciro Gomes. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) listou os gastos com alguns itens e disse que, com o total de R$ 148 milhões, seria possível bancar 247 mil auxílios emergenciais, benefício pago no ano passado a pessoas de baixa renda por conta da pandemia de Covid-19.

Felipe Neto ‘cobra’ banheira

A deputada federal e ex-bolsonarista Joice Hasselmann (PSL-SP), que calculou que com os R$ 15 milhões seria possível comprar 7,6 mil latas de leite condensado por dia, tuitou: “O Brasil já teve ladrão de todo tipo na presidência. Ladrão de galinha, de triplex, de Petrobras… Mas não é que o que mais tá metendo a mão no nosso bolso ficará conhecido como o ladrão de leite condensado?”. O youtuber Felipe Neto postou: “Governo Bolsonaro gastou 15 milhões em leite condensado… E não fez uma banheira de brigadeiro pro Youtube? Tá errado isso aí”.

A apresentadora do “Mais você”, Ana Maria Braga, também entrou na polêmica de forma bem-humorada. “A pedidos: uma receita de leite condensado caseiro, para você fazer ao invés de gastar R$ 15 milhões comprando”, escreveu ela no Twitter.

Em resposta a uma postagem da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que questionava se teria havido superfaturamento na compra de leite condensado, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) tuitou: “Os gastos aos quais você se refere correspondem a todo o Poder executivo Federal, incluindo Presidência, Vice-Presidência, Ministérios, Estatais, Forças Armadas e Autarquias, além de programas sociais”.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, na representação feita ao TCU pedindo que a Presidência da República seja investigada pelo aumento de gastos do Executivo com alimentação, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) alegam que, “em meio a uma grave crise econômica e sanitária, o aumento de gastos é absolutamente preocupante, tanto pelo acréscimo de despesas como pelo caráter supérfluo de muitos dos gêneros alimentícios mencionados”.

Em nota, o Ministério da Defesa ressaltou que a pasta “fornece diariamente alimentação para militares e servidores civis” e que “os militares realizam atividades que possuem exigências físicas específicas. Assim, cumprem ações que requerem, em grande parte, atividades físicas ou jornadas de até 24 horas, demandando energia e propriedades nutricionais que devem ser atendidas para a manutenção da eficiência operacional e administrativa com a disponibilização de uma dieta adequada”.

Alguns itens da lista (fonte: Metrópoles)

Alfafa: R$ 1.042.974,22

Arroz: R$ 7.699.410,50

Batata frita embalada: R$ 16.582.463,23

Biscoito: R$ 50.149.168,18

Bombom: R$ 8.866.958,69

Carne bovina in natura: R$ 89.636.543,25

Carne de ave in natura: R$ 51.517.015,80

Chiclete: R$ 2.203.681,89

Chocolate: R$ 16.171.487,31

Feijão: R$ 15.986.746,57

Leite condensado: R$ 15.641.777,49

Mistura suplementação alimentar: R$ 3.678.975,44

Ovo: R$ 30.259.692,90

Pizza: R$ 1.240.866,58

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