Derrotado na Câmara, Bolsonaro volta a levantar suspeitas sobre urnas eletrônicas e reconhece que não tem provas

O presidente Jair Bolsonaro acompanha, da rampa do Palácio do Planalto, desfile militar realizado na Esplanada dos Ministérios Foto: Marcos Corrê/Presidência/10-08-2021

Derrotado em votação da Câmara, que rejeitou o voto impresso, o presidente Jair Bolsonaro manteve os ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dizendo que o resultado mostrou que parte do Legislativo não acredita na “lisura das eleições”, mesmo sem ter provas. Apesar da derrota, Bolsonaro disse que agradeceu aos deputados que votaram de forma favorável à proposta.

 — Estou feliz com o Parlamento brasileiro. Não tivemos 308 votos, mas (foi) 229 a 218 (votos), se não me engano. 10, 11 (votos) de diferença, pouca coisa. Mas é uma demonstração que esse pessoal votou de forma consciente e deu um grande recado ao Brasil. Eles não acreditam na lisura das eleições — disse Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.

Na conversa, ao comentar um inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga um ataque hacker ao TSE, Bolsonaro repetiu ao menos cinco vezes, como mostrou o colunista Lauro Jardim, não ter provas de que os fatos apurados na investigação demonstrariam uma fraude, mas insistiu nas alegações mesmo assim. A Corte eleitoral já pediu que ele seja investigado pelo vazamento desse inquérito.

A Câmara dos Deputados rejeitou na terça-feira, em plenário, a proposta que previa a implementação do voto impresso a partir de 2022, com 229 votos a favor e 218 contra, além de uma abstenção. O texto foi arquivado, já que são necessários ao menos 308 votos para alterar a Constituição.

Na conversa com apoiadores, Bolsonaro chegou a falar que “metade” dos deputados “não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE”. Entretanto, os 229 favoráveis ao projeto representam apenas a maioria dos que votaram, e não a maioria de toda a Câmara, composta por 513 deputados.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse na segunda-feira que Bolsonaro teria se comprometido a respeitar o resultado da votação, mesmo que fosse derrotado.

Nesta quarta, Bolsonaro afirmou que parte dos que votaram contra a proposta, assim como parte dos que não participaram de sessão, foram “chantegeados” e tinham medo de uma “retaliação”:

— Quero agradecer à metade do parlamento que votou favorável ao voto impresso. Parte da outra metade que votou contra, que entendo que votou chantageada. Uma outra parte que se absteve, nessa parte, não são todos, mas alguns ali também não votaram com medo de retaliação.

O presidente disse que as eleições do ano que vem terão a “mácula da desconfiança”:

— E eu perguntaria agora aqueles que estão trabalhando por interesses pessoais, não são interesses do Brasil, se eles querem enfrentar eleições no ano que vem com a mácula da desconfiança, que não é de agora.

Na semana passada, o TSE abriu um inquérito administrativo para apurar os ataques sem provas que Bolsonaro vem fazendo ao sistema eletrônico de votação, e pediu que ele seja investigado também em um inquérito já aberto no Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro fala na possibilidade de irregularidades nas eleições desde a disputa de 2018. A partir de março de 2020, começou a prometer que iria apresentar “provas” de fraudes. Entretanto, em transmissão realizada há duas semanas, o presidente admitiu que não tem provas, apenas “indícios” e “suspeitas”, a maioria deles baseados em vídeos antigos já desmentidos pelo TSE.

Na semana passada, 15 ex-presidentes do TSE, além da cúpula atual do tribunal, divulgaram uma nota defendendo o sistema atual de votação do Brasil. Além disso, oito ex-procuradores-gerais da República também se manifestaram recentemente em defesa da urna eletrônica, que Bolsonaro questiona sem apresentar provas de fraude.

O GLobo

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