Dia Nacional da Juventude e questão da fome são foco de debate no Legislativo Potiguar

O “Dia Nacional da Juventude” (DNJ), cujo tema este ano foi “E todos ficaram saciados”, foi pauta de audiência pública na Assembleia Legislativa do RN, na tarde desta quinta-feira (9). De propositura da deputada estadual Divaneide Basílio (PT), o debate teve como objetivo discutir as principais demandas e os desafios que envolvem a juventude potiguar e brasileira. Estiveram presentes representantes de órgãos públicos federais e estaduais; de pastorais da juventude; Conselho Estadual de Juventude; da Subsecretaria de Juventude do Estado; de movimentos estudantis; além de outras instituições da sociedade civil.De acordo com a deputada Divaneide Basílio, foi da provocação de “como vamos continuar alimentando o nosso povo e os nossos jovens” que nasceu o debate.“Nós sabemos o quanto a juventude trabalhadora tem sido prejudicada. E é por isso que estamos aqui hoje, para debater seus anseios, necessidades e formas de dar uma vida mais digna aos nossos jovens”, destacou. A respeito das ações do seu mandato em prol da juventude potiguar, a parlamentar ressaltou a aprovação do projeto de lei de criação da “Semana Estadual das Casas dos e das Estudantes” no calendário oficial do Estado, hoje, em Plenário. “E também no dia de hoje nós apresentamos um requerimento que solicita ao DER esclarecimentos junto ao Transpasse, acerca da obrigatoriedade do selo das carteirinhas de estudante, que concede o direito à meia passagem”, acrescentou.Em seguida, o deputado federal Fernando Mineiro (PT) frisou que este é um momento importante, “pois o Dia Nacional da Juventude é uma data especial para refletir sobre as demandas, os desafios e a importância da juventude no Brasil e no mundo”.“Nós sabemos das angústias, dificuldades, dilemas, sonhos e esperanças que possuem os nossos jovens, e é importante que possamos ouvi-los, para que a chama da transformação se mantenha acesa. E momentos como este aqui são necessários para lançar reflexões sobre tudo que envolve a questão da juventude no Brasil e no Rio Grande do Norte”, salientou.Ainda para Fernando Mineiro, o momento atual do País é de reconstrução de políticas públicas, principalmente para a juventude. “Mas, além disso, temos que pensar nos desafios, na questão da Saúde, Educação, empregabilidade, busca de renda, enfim, nas perspectivas que a juventude tem com o seu futuro e seus sonhos. Então, eu desejo que este seja um processo que nos ajude a apontar caminhos. Boa audiência a todos!”, finalizou.Segundo Nilson Florentino Júnior, representante da Secretaria Nacional de Juventude, o Dia Nacional da Juventude é uma data que não só provoca as juventudes das pastorais em todo o território nacional, mas também traz um chamado de solidariedade e reflexão.“Esta é uma iniciativa muito relevante, pois, para além da fé e da esperança, nós precisamos refletir também sobre a condição das juventudes brasileiras, a partir de suas territorialidades e diversidades. E isso é um pouco do que nós temos feito enquanto Secretaria Nacional de Juventude. Portanto, saibam que vocês têm um conterrâneo aliado aqui na secretaria”, garantiu.O Secretário Adjunto de Comunicação de São Gonçalo do Amarante, Bruno Luiz, iniciou sua fala agradecendo a realização da audiência requerida por ele, enfatizando a importância de a juventude estar ocupando “um espaço público e tão representativo, como a Assembleia Legislativa”.“É sempre relevante ocupar os locais de decisão e debate político, porque são as vidas de toda a juventude que estão em jogo e são afetadas pela nossa ocupação ou não desses espaços. Eu propus este debate porque eu vejo sinais de esperança. Quando eu vi o tema do DNJ, que faz um link com a Campanha da Fraternidade, achei necessário tentar trazer a discussão para esta Casa”, disse.De acordo com Bruno Luiz, é necessário destacar o quanto a Igreja, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e as pastorais sociais estão sempre antenados às demandas do povo, da juventude e das mulheres. “E em 2023 não foi diferente. Trazer a fome como tema da Campanha da Fraternidade nos fez lembrar que o Brasil voltou a enfrentar esse problema tão cruel. Essa é uma realidade que assola todos nós, e quem está nos grupos de base e nos movimentos estudantis sabe do que eu estou falando. A vida piorou para a nossa juventude nos últimos 5, 6 anos. O acesso à universidade dificultou e o acesso à renda piorou. Existe uma conjuntura que nos leva à extrema preocupação. E foi por tudo isso que eu pensei em trazer o DNJ para o círculo de debate nesta tarde de hoje”, concluiu.Na sequência, o Padre Felipe Andrew, coordenador Arquidiocesano do Setor de Juventude, agradeceu o convite e se disse muito feliz, em nome da Igreja Católica, por ver diversas expressões juvenis reunidas num só lugar, como as pastorais de juventude e os movimentos, serviços e as novas comunidades. “Isso é exatamente o que a Igreja vem buscando viver, principalmente a partir do pontificado do Papa Francisco, que prega muito a diversidade. ‘O diferente não deve me incomodar; pelo contrário, ele deve me acrescentar’. O Espírito Santo desperta diversos dons, e é justamente essa diversidade de dons e carismas que fazem a Igreja de Cristo continuar sua missão no mundo. E aqui nós temos uma missão árdua, porém necessária: promover a vida plena”, ressaltou. Em seguida, o sacerdote fez um pedido e um alerta a todos os presentes.“É preciso que a gente dê as mãos, porque a nossa juventude está morrendo. Nossos jovens são vítimas da violência, dos descasos sociais e, principalmente, estão com problemas no âmago do ser humano, por falta de amor e acolhimento. Os transtornos psíquicos que vêm afetando a juventude, neste tempo pós-pandemia, como a depressão e a ansiedade, estão cada vez mais frequentes. São tantos jovens que, infelizmente, cometem suicídio diariamente no nosso País, porque não veem um sentido para a vida. E nós apresentamos Jesus Cristo como sendo esse sentido”, enfatizou.O clérigo detalhou que, na Arquidiocese de Natal, o Dia Nacional da Juventude é celebrado antecipadamente, no dia 15 de outubro. “Já as dioceses irmãs, de Caicó e Mossoró, realizaram a celebração do DNJ no quarto domingo de outubro”, complementou. Falando sobre a origem do Dia Nacional da Juventude, o padre contou que a data surgiu em 1985, com a promulgação, pela ONU, do Ano Internacional da Juventude. “E quem puxou esta grande celebração da vida das juventudes foram as pastorais do Brasil. Porém, a própria Igreja vem ampliando a participação e permitindo que outras expressões juvenis se somem ao DNJ. Por isso, a partir de 2013 a data ficou sob responsabilidade da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude. Então, hoje em dia novas comunidades e outros movimentos também integram e organizam o DNJ em todo o Brasil”, explicou.Coordenadora da Pastoral de Juventude de Natal, Marília Gabriella deu destaque ao fato de que, diferente de anos atrás, a juventude hoje precisa trabalhar para garantir condições dignas de vida.“Na época em que eu estudava, não precisava trabalhar tanto – nem muito cedo. Eu fazia estágio e vivia de bolsa. Mas essa não é mais a realidade da nossa juventude, que tem que trabalhar de 40 a 44 horas semanais. E é por isso que o espaço aqui hoje está com poucos jovens. Portanto, a partir da minha fala eu faço menção a todos os amigos que queriam estar aqui, mas não estão, porque estão trabalhando para garantir o seu sustento”, reforçou.De acordo com Marília Gabriella, a Pastoral de Juventude da capital marca sua história construindo a de muitos jovens.“Diariamente se fala sobre o extermínio da juventude brasileira e mundial. E isso já foi pauta de uma campanha nossa, em 2009, mas continua sendo tema de debate nos grupos de base, porque ainda é uma realidade”, frisou. Sobre o tema do DNJ deste ano, ela provocou: “Como nós seremos saciados?”, dizendo entender que a saciedade não vai existir se não houver um trabalho coletivo, em que todos cumpram suas verdadeiras responsabilidades. Representante da Pastoral da Juventude do Meio Popular, José Rogério disse que “é preciso combater a fome com as próprias mãos e compreendê-la como mais um meio de extermínio da juventude”. Segundo ele, a causa da sua pastoral é a luta do evangelho vivo, a luta por quem quer ter voz, vez, direito à Justiça e à vida plena e em abundância.“Nós fazemos uma ação que se chama ‘De mãos estendidas’, que surgiu na pandemia, para distribuir alimentos ou dar assistência psicológica, ouvindo e compreendendo as famílias. Também fazemos um trabalho de distribuição de jantar para as pessoas em situação de rua. Então, eu deixo como proposta de encaminhamento a visita dos deputados ao nosso projeto, além da necessidade de mapeamento dos vários grupos que fazem esse tipo de trabalho no Estado, a fim de conhecer as suas realidades”, sugeriu.Ao final da sua fala, o líder pastoral disse ter a certeza de que todos os jovens que têm esse tipo de experiência passam a ter um olhar diferenciado sobre o mundo e sobre o seu poder de ação. “Que possamos vivenciar o que o Papa Francisco nos pediu: uma Igreja com muito amor, misericórdia e compaixão.    Que Deus nos abençoe e Nossa Senhora interceda por nós”, finalizou.Dando continuidade aos discursos, Eduarda Pontes, representante da PIAJ – Juventude de Cáritas, utilizou seu tempo para levantar a questão da fome, lembrando que esse problema está no cotidiano de todos.“Segundo pesquisa da ONU, 21 milhões de pessoas não têm o que comer, e 70,3 milhões passam por insegurança alimentar, ou seja, não têm o que comer durante o dia. Apesar de ser uma realidade muito triste, eu acredito que ela pode mudar, com a união da sociedade e a força da juventude. Nós, enquanto Cáritas, distribuímos cestas básicas e temos um programa chamado ‘Bodega Solidária’, cujas famílias participantes recebem doações e serviços de capacitação profissional. Hoje nós realizamos esse trabalho em Ceará-Mirim, João Câmara e Pedro Velho”, detalhou.Na sequência, Jaciele Valentim, membro do Conselho Estadual da Juventude, explicou que o órgão do qual faz parte é ligado à Subsecretaria de Juventude e possui funções fiscalizatórias e consultivas, ajudando a construir políticas públicas para a juventude no Estado.“E essas políticas transformam a nossa sociedade. Nós estamos sempre dialogando com a juventude partidária, religiosa, do movimento estudantil, enfim, de todos os espaços, então o nosso conselho é um reflexo de todas elas juntas. Só quem é jovem sabe o quanto nós somos silenciados nos locais em que estamos. E muitas vezes também não somos reconhecidos pelo trabalho que fazemos, independente do lugar”, criticou, acrescentando que “o conselho existe para lutar cada vez mais por políticas públicas e melhorias para a vida da juventude do Rio Grande do Norte”.Por fim, o Subsecretário de Juventude do RN, Gabriel Medeiros, destacou que “a luta da juventude não é só de quem é jovem hoje, mas de um acúmulo de gerações”.“E isso se expressa muito bem neste auditório. Eu aprendi com outras gerações de militantes que juventude é uma etapa do ciclo da vida que congrega dois elementos fundamentais: a busca por autonomia e por identidade. Identidade, porque a gente se dedica com mais afinco a lapidar quem somos neste mundo; autonomia, porque essa identidade quer se expressar de forma autônoma no mundo”, salientou.Segundo o Subsecretário, “da condição de congregar identidade e autonomia emerge muita fome”. “Fome de morar sozinho, de ter um trabalho que nos dê o dinheiro para além da subsistência, de se divertir etc. E ainda existe uma fome que ficou por muito tempo invisibilizada e cuja discussão nos dias de hoje é mérito desses movimentos aqui presentes, que é a fome da vida. Infelizmente a gente vive num País que pratica o genocídio da juventude negra, e esse tema está no centro de quem debate as políticas públicas de juventude. Então, parabéns por essa luta e por ter colocado esse desafio no centro das discussões do nosso País hoje”, concluiu.Ao final do encontro, a deputada Divaneide Basílio elencou os encaminhamentos sugeridos por todos. “Portanto, como sugestões desta audiência pública, ficou decidido que iremos pensar em uma ação contínua de segurança alimentar para a juventude; visitar os projetos das diversas pastorais e movimentos ligados aos jovens, além de fazer um mapeamento de todos os grupos que realizam esses trabalhos sociais; criar um Conselho Estadual de Juventude pelo Clima; e montar uma comissão, com as pastorais e os demais movimentos presentes, a fim de discutir as demandas da juventude com o presidente da Assembleia Legislativa do RN”, finalizou.

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