Em feito inédito, crianças recebem implantes de orelhas impressas em 3D

Usando uma combinação de impressão 3D com cultura de células, cientistas da Academia Chinesa de Medicina conseguiram, pela primeira vez, construir orelhas e transplantá-las em cinco crianças nascidas com uma deformidade congênita conhecida como microtia. O feito, que pode revolucionar o tratamento da condição que afeta um em cada 5 mil nascimentos, foi realizado com a coleta de células cartilaginosas do próprio paciente, que foram cultivadas numa estrutura tridimensional da orelha saudável.

“Nós fomos capazes de desenhar, fabricar e regenerar as orelhas externas dos pacientes”, disseram os pesquisadores, no estudo publicado na revista “EBioMedicine”. “No entanto, são necessários esforços adicionais para eventualmente traduzir este protótipo em práticas clínicas de rotina”.

A microtia é uma condição congênita que afeta a formação de uma ou de ambas as orelhas, afetando a audição. Nos casos mais graves, há a ausência total da orelha e do canal auditivo. Atualmente, as opções de tratamento incluem a reconstrução cirúrgica com plástico ou cartilagem das costelas ou o uso de próteses. Na nova abordagem, os cientistas coletaram células cartilaginosas chamadas condrócitos, retiradas da orelha afetada pela microtia do próprio paciente. Então, elas foram colocadas para cultivo em moldes da orelha saudável impressos em 3D. As informações são de O Globo.

Os procedimentos cirúrgicos foram realizados em cinco crianças voluntárias, sendo quatro meninas e um menino, com idades variando entre 6 e 10 anos. O primeiro paciente foi acompanhado por dois anos e meio. Autópsias realizadas seis meses após os implantes demonstraram a formação de cartilagens, com composição semelhante a da outra orelha.

— O uso de formas de cartilagem para a reconstrução da microtia tem sido um objetivo da comunidade de engenheiros de tecidos há mais de duas décadas — afirmou em entrevista à CNN Lawrence Bonassar, professor da Universidade Cornell, em Ithaca, Nova York, não envolvido na pesquisa chinesa. — Este trabalho mostra claramente que as abordagens da engenharia de tecidos para a reconstrução da orelha e outros tecidos cartilaginosos será uma realidade clínica em breve. A estética do tecido produzido está de acordo com o que pode-se esperar dos melhores procedimentos atuais.

A ideia não é nova. Em 1997, pesquisadores construíram uma estrutura de cartilagem em formato de orelha usando condrócitos e a implantaram nas costas de um camundongo. Mas esta foi a primeira aplicação clínica da técnica, que resultou no tratamento da microtia em cinco pacientes.

— Por muitos anos nós temos tentado coletar células das pessoas e multiplicar essas células num polímero para criar uma nova estrutura, e fizemos isso com animais há muito tempo — comentou Tessa Hadlock, chefe de cirurgia plástica na clínica Massachusetts Eye and Ear, em Boston. — O conceito não é novo. O que é novo foi que pela primeira vez eles fizeram isso em cinco pacientes e acompanharam por um longo tempo para mostrar os resultados das orelhas que foram cultivadas da cartilagem retirada.

Apesar de reconhecer o feito, a especialista citou alguns riscos que podem estar envolvidos em tal procedimento. O primeiro é que, para cultivar as células é preciso aplicar alguns estimulantes, e, em algum ponto, este crescimento pode perder o controle.

— É outra forma de dizer que você pode realmente criar um tipo de câncer de crescimento descontrolado — alertou Tessa.

Outra limitação está no fato de os condrócitos terem sido retirados da orelha afetada pela microtia. Existe a possibilidade de essas células serem diferentes de um condrócito saudável.

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