Empresários do agronegócio despontam como líderes em doações para campanhas eleitorais

Em defesa de 'eleições limpas', grupo ligado ao agronegócio enviará carta a  STF, Congresso e ministérios | Agronegócios | G1

Empresários do agronegócio, um dos pilares de sustentação do governo Jair Bolsonaro (PL), assumiram a liderança na lista de doações da corrida eleitoral deste ano. Importantes nome do setor já injetaram R$ 13 milhões nas campanhas de candidatos e partidos — em sua maioria, aliados do presidente— segundo levantamento do GLOBO feito com base em contribuições a partir de R$ 500 mil disponíveis no portal DivulgaCand até quinta-feira passada. Executivos do varejo e do setor energético aparecem logo atrás na lista de doações, com R$ 12,9 milhões e R$ 11,6 milhões, respectivamente.

O protagonismo do setor, que nunca teve peso significativo nas doações eleitorais, está ligado à ascensão de Bolsonaro, explica o analista político Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral e autor do livro “Dinheiro, eleições e poder”.

— Quando as doações de empresas eram permitidas, o agro não oferecia valores significativos. Por muito tempo, se envolveu na política elegendo seus próprios participantes, como (os parlamentares e ex-ministros) Blairo Maggi, Tereza Cristina, Kátia Abreu e tantos outros grandes produtores rurais — afirma Carazza, que acrescenta: — Por um lado, há uma afinidade ideológica entre o setor e o conservadorismo de Bolsonaro.

Por outro lado, nomes ligados ao setor cultural se destacam entre os doadores dos candidatos associados à esquerda, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nome do PT na corrida pelo Palácio do Planalto. O levantamento mostra que PT, PCdoB, PV, Solidariedade, PSOL, Rede, PSB, Agir, Avante e PROS receberam pelo menos R$ 4,2 milhões de personalidades do setor, como os irmãos e cineastas Walter e João Moreira Salles.

A maior parte da verba do agro nestas eleições está concentrada nas três legendas que compõem a coligação de Bolsonaro: PL, PP e Republicanos. Esses partidos conseguiram, juntos, arrecadar R$ 8,4 milhões do setor.

Um dos valores mais generosos partiu de Odílio Balbinotti Filho, “o rei das sementes”. Filho do ex-deputado federal Odílio Balbinotti e presidente do Grupo Atto Sementes, o empresário doou R$ 1,5 milhão a cinco candidatos — R$ 600 mil somente para o presidente.

Entre os grandes nomes do agronegócio que impulsionaram a campanha de Bolsonaro estão Oscar Luiz Cervi, produtor de soja e dono do grupo Cervi, e Gilson Lari Trennepohl (União), vice-prefeito de Não-Me-Toque (RS) e diretor-presidente da Stara, fabricante de máquinas agrícolas. Eles desembolsaram, respectivamente, R$ 1 milhão e R$ 350 mil a Bolsonaro.

Com um caixa considerado internamente bem aquém do desejado, a campanha do candidato à reeleição tem intensificado ações junto ao setor com o objetivo de levantar mais recursos na reta final do pleito.

No fim de agosto, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha, circulou por cidades do Mato Grosso para engajar empresários e produtores desmobilizados diante do mau desempenho do presidente nas pesquisas. Segundo o mais recente Datafolha, divulgado na quinta-feira, Lula segue na liderança com 45% da intenção de votos, contra 33% de Bolsonaro.

A base de apoio do presidente também atraiu contribuições de executivos do ramo energético (R$ 5,9 milhões) e da construção civil (R$ 2,3 milhões).

Os dois setores tradicionalmente doaram para campanhas, lembra Carazza. Com a proibição da contribuição empresarial, os “CNPJs” foram trocados pelo “CPF” de grandes executivos.

Os interesses empresariais estão concentrados, neste universo, nas políticas públicas do governo, como a agenda de privatizações. Embora seja difícil mensurar o impacto da doação na atuação de candidatos posteriormente eleitos, o especialista afirma que as contribuições ajudam empresários a ter acesso privilegiado ao poder e, por isso, são um investimento interessante.

Na ponta da lista

Na lista dos doadores do mundo energético, destaque para Rubens Ometto Silveira Mello, da Cosan, gigante de energia, açúcar e etanol. Ele lidera o ranking geral de doações para campanhas eleitorais até o momento, com mais de R$ 5 milhões distribuídos a nomes como os ex-ministros Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo; Onyx Lorenzoni (PL), ao governo gaúcho; e o ex-ministro Ricardo Salles (PL), que disputa uma vaga na Câmara dos Deputados. O único candidato de esquerda que recebeu verba do empresário foi o deputado federal petista Carlos Zarattini (SP), que tenta a reeleição.

Do lado oposto do espectro político, empresários do varejo e do mercado financeiro figuram entre os maiores doadores de partidos da base do ex-presidente Lula. Marcelo Freixo (PSB), que disputa o governo do Rio de Janeiro, recebeu verba do ex-presidente do Itaú Candido Bracher, e do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga.

Doações em família

Ex-governador do Ceará e candidato ao Senado, Camilo Santana (PT) encabeça a lista dos nomes à esquerda que mais receberam doações até o momento, com R$ 2,2 milhões, dos quais R$ 2 milhões dos irmãos Alexandre e Pedro Grendene Bartelle, das marcas Melissa, Rider e Ipanema.

A doação de familiares para um mesmo grupo de candidatos é comum. As irmãs Beatriz (escritora) e Elisa Sawaya Botelho Bracher (artista plástica), doaram cerca de R$ 1,5 milhão para nomes como Freixo e Alessandro Molon (PSB-RJ), que disputa o Senado. Elas são filhas de Fernão Bracher, fundador do banco BBA.

O mesmo se repete com Salo Davi e Helio Seibel; André Bier e Frederico Carlos Gerdau Johannpeter; e Eugênio Pacelli e José Salim Mattar Júnior.

Há também doações para legendas. Um grupo que controla um conglomerado do setor de energia, por exemplo, doou R$ 2 milhões ao diretório nacional do Republicanos, base do governo. O partido emplacou nos últimos anos a presidência da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.

Influente na política baiana, Carlos Seabra Suarez está entre os que doaram R$ 500 mil. Ele ascendeu na vida empresarial com empreendimentos imobiliários em Salvador e ficou conhecido como o “S” da OAS, que se tornou uma das maiores empreiteiras do país.

Com informações, o Globo

 

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