Escolas privadas de elite do Brasil superam Finlândia no Pisa; rede pública vai pior do que Peru

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A nota das escolas particulares de elite do Brasil colocaria o País na 5ª posição do ranking mundial de leitura do Pisa, ao lado da Estônia, que tem o melhor desempenho da Europa. Já o resultado isolado das escolas públicas estaria 60 posições abaixo, na 65ª, entre 79 países. A tabulação foi feita a pedido do Estado pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), instituto que pesquisa dados de educação.

A avaliação internacional feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi divulgada nesta terça-feira, 4, em Paris. A nota geral do Brasil está entre as baixas do mundo nas três áreas avaliadas, Leitura, Matemática e Ciência. A maior parte dos estudantes não chega nem ao nível considerado básico de nenhuma delas.

“Como o País vai muito mal em educação, as pessoas tendem a colocar tudo no mesmo bolo, mas os resultados são bem diferentes na rede privada, o que mostra uma desigualdade enorme”, afirma o diretor do Iede, Ernesto Faria, pesquisador responsável pelo estudo e que tem uma tese de doutorado sobre o Pisa.

O estudo de Faria compara a nota geral da elite das escolas privadas brasileiras com a nota geral das redes dos outros países, incluindo colégios públicos e privados.

Como o País vai muito mal em educação, as pessoas tendem a colocar tudo no mesmo bolo, mas os resultados são bem diferentes na rede privada, o que mostra uma desigualdade enorme
Ernesto Faria, diretor do Iede.

A pesquisa mostra que o desempenho das escolas particulares de elite do Brasil em Matemática é bem pior que em Leitura, 30ª colocação, mas consegue ficar na média dos países da OCDE. O Brasil está na 70ª colocação. Por escolas de elite, o estudo considerou aquelas cujos alunos têm nível sócioeconômico alto (o que considera renda/bens, ocupação, escolaridade dos pais) igual ou maior ao registrado em países membros da OCDE. A entidade reúnes as nações mais ricas do mundo. Em Ciências, esses alunos brasileiros ficam na 12ª posição, ao lado da Nova Zelândia e acima do Reino Unido e da Alemanha, por exemplo.

Apesar de o Colégio Santa Cruz, na zona oeste da capital, fazer parte da elite do ensino brasileiro – com alto desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, o diretor Fabio Aidar diz não ver motivo para comemoração. “A desigualdade que temos no País não nos permite comemorar termos um resultado como esse. É lamentável que exista um abismo tão grande entre os estudantes”. Segundo ele, uma forma de o colégio tentar minimizar o problema é oferecendo cursos de formação continuada para professores das redes estadual e municipal.

“A gente vive em uma bolha pequena, com uma elite intelectual de primeiríssima linha, mas muitos deles estão indo embora para o exterior. Hoje, o maior concorrente das escolas de elite é o exterior. Os pais querem ir embora do Brasil”, comenta Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, zona sul paulistana.

Ainda segundo ele, é importante que a formação dos professores seja voltada para a prática e garantir foco no aluno.

Hoje, o maior concorrente das escolas de elite é o exterior. Os pais querem ir embora do Brasil
Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes

O estudo do Iede também tabulou o resultado de todas as escolas particulares e não só das consideradas de elite. O desempenho delas em Leitura colocaria o Brasil na 11ª colocação, ao acima da Suécia, e em 23ª em Ciência, empatado com a Suíça. Matemática, mais uma vez, tem um resultado pior: 38ª colocação. Participaram do Pisa uma amostra de 10.691 estudantes de 15 anos, que fizeram a prova em 2018. Desses, 1.381 estavam em escolas privadas de todo o País.

As desigualdades educacionais brasileiras estão presentes até mesmo dentro da rede pública. Alunos de escolas estaduais brasileiras tiveram nota em Leitura de 404 pontos, o que os deixaria ao lado da Bósnia, 62ª posição. Já os das federais estão no topo, na 16ª colocação, com desempenho similar ao da Austrália. As escolas da rede federal de ensino do País sofreram neste ano com o contingenciamento de recursos do Ministério da Educação.

As diferenças de desempenho são grandes até dentro da mesma localidade. No Nordeste, por exemplo, que tem a média geral mais baixa das regiões do País, é ao mesmo tempo o que apresenta escolas federais com o maior desempenho em Leitura, de 519. Entre as escolas municipais nordestinas, a média cai para 316 pontos – inferior a das Filipinas (340), última colocada do ranking do Pisa. Já entre as escolas particulares, as melhores estão no Centro-Oeste do Brasil, o que inclui Brasília, com nota 541, que as deixaria em 3º lugar do mundo.

Países com notas altas focaram na aprendizagem dos mais pobres

Especialistas em educação explicam que os países que hoje têm os desempenhos mais altos na prova foram os que se comprometeram a investir na melhoria do ensino dos mais pobres. O que, segundo eles, ainda não existe no Brasil. “Para aumentar a performance de um País, é preciso investir na base, pensar em políticas e estratégias para que os mais vulneráveis aprendam. Não adianta fazer com que os poucos que estão no topo melhorem”, diz Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco.

“As famílias, principalmente as mais pobres, precisam ter consciência que educar não é por o filho na escola apenas, não basta estar matriculado. É preciso cobrar qualidade e que eles aprendam, nesses países existe esse respeito pela educação”, completa o diretor da Fundação Lemann, Denis Mizne.

Por outro lado, diz, o País precisa ter uma política educacional que tenha foco no currículo e selecione os melhores para serem professores. “Na China ou em Cingapura só os alunos excelentes podem se tornar professores.”

Para os especialistas, o governo Jair Bolsonaro não tem contribuído para melhorar o processo. O programa de escolas cívico-militares, defendido pelo ministro Abraham Weintraub nessa terça como medida para reverter os resultados ruins do Pisa, vai ser implementado em apenas 54 escolas em todo o País.

“É mais uma política que concentra investimentos para fortalecer o topo já que não vai atender todos os alunos”, disse Henriques.

O ministro ainda culpou gestões anteriores pelo mau desempenho do Brasil na prova.

“Não conheço lugar do mundo que tenha usado esse modelo para melhorar a educação. É preciso desenvolver estratégias que promovam equidade, não mais desigualdade”, completa Ana Maria Diniz, presidente do Instituto Península.

Ela disse que, no início do ano, havia uma expectativa positiva com a política de alfabetização prometida pelo governo Bolsonaro. Apesar de ter sido elencada como prioridade, nenhuma estratégia ou ação para as escolas foi definida neste ano.

“Tudo começa na alfabetização, por isso, havia uma boa expectativa. Mas a política e a busca de ações para as escolas perderam espaço para a briga ideológica”, disse.

Para ela, ações que podem trazer resultados positivos são políticas efetivas de formação inicial e continuada de professores, a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que define o que os alunos devem aprender em cada etapa de ensino, e a reformulação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), mecanismo de financiamento da educação básica, para melhor redistribuição de recursos.

Para Henriques, a estruturação dessas políticas passa por um processo de organização de todo o sistema de ensino brasileiro.

“É preciso pensar em uma melhoria sistêmica, da estrutura financeira para as escolas às políticas de formação para os professores. Não faltam experiências no Brasil que estão dando certo, só precisamos estabelecer como prioridade transformar essas experiências bem sucedidas em exemplos a serem seguidos, replicados em larga escala.”

*Estadão

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