Estoque de medicamentos para UTI no RN enfrenta dificuldades

*Tribuna do Norte

A Central de Medicamentos do Estado (Unicat) enfrenta dificuldades no estoque de medicamentos para pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais públicos do Rio Grande do Norte. Em períodos normais, o estoque mínimo é suficiente para um mês, segundo o diretor-geral da central de medicamentos do Estado (Unicat), Ralfo Medeiros. Com a pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, do Norte, o consumo cresceu e o estoque dura bem menos. Nesta quinta-feira (2), os hospitais possuíam um estoque suficiente para os próximos sete dias. Um novo lote de medicamentos está previsto para chegar à Unicat nesta sexta-feira, suficiente para mais 20 dias.

Segundo Medeiros, os medicamentos estão mais difíceis de comprar no mercado farmacêutico brasileiro devido a alta procura desde o início da pandemia do novo coronavírus, com o crescimento das internações em UTI. A situação não é particular do Rio Grande do Norte. Um levantamento do Conselho Nacional de Secretários da Saúde feito no dia 25 de junho identificou outros 20 Estados e o Distrito Federal com escassez dos mesmos medicamentos. Há cidades brasileiras em que o consumo de um mês é igual ao consumo de 2019 inteiro, de acordo com o Conselho.

A dificuldade de compra mais comum é com relação a anestésicos (sedativos), bloqueadores neuromuscular e antibióticos. Esses medicamentos são utilizados nos pacientes de covid-19 que precisam ficar intubados. O bloqueador neuromuscular, por exemplo, ‘relaxa’ o pulmão do paciente para possibilitar a inserção os tubos respiratórios.

Em particular, o Rio Grande do Norte também precisa de antibióticos e de medicamentos que evitam a coagulação. Ambos também são utilizados no tratamento dos casos mais graves da covid-19. “O paciente da Covid-19 é um paciente que trata de diversas causas, em diversas frentes, quando está no seu estágio mais crítico. São muitos medicamentos”, explicou Medeiros.

O chefe da Unicat afirmou que a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) planejou a compra de medicamentos para seis meses, período mais crítico da pandemia estimado em março. Entretanto, a unidade não consegue adquirir grandes lotes e precisa comprar constantemente sob o risco de faltar nos hospitais públicos. No período anterior ao novo coronavírus, os lotes eram comprados para durar até quatro meses, e uma nova compra era feita com um mês de antecedência para haver 30 dias de estoque reserva. A compra que deve chegar à Unicat nesta quinta-feira, 2, no entanto, deve durar 20 dias.

“Hoje não há remédios faltando, mas existe uma situação crítica. O que tem nos hospitais é suficiente para uma semana. Amanhã chega um novo lote para mais 20 dias e em paralelo a isso estamos com outros processo de compra para evitar desabastecimento”, declarou Ralfo Medeiros. “Não conseguimos fazer grandes compras porque as empresas não possuem um estoque suficiente. A procura no mercado está muito alta.”

O Rio Grande do Norte possui 242 leitos públicos de UTI, segundo o sistema Regula RN. A maioria dos leitos (207) estão ocupados, 13 estão disponíveis e 22 bloqueados. Os bloqueios são leitos prontos, mas que precisaram parar de funcionar por alguma razão. A falta de medicamentos pode ser uma delas. “Sem esses medicamentos, não tem como realizar a intubação de um paciente. O leito fica bloqueado”, continuou o chefe da Unicat.

Nenhum leito estava bloqueado nesta quinta-feira por falta de medicamentos, mas já aconteceu e custou vida. No dia 2 de maio, dois dos então 17 leitos de UTI do Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, não estavam funcionando por falta de insumos médicos. Neste mesmo dia, Maria de Lourdes Oliveira, uma idosa de 72 anos, faleceu no município de Ipanguaçu, distante 92 quilômetros de Mossoró, depois de 24 horas à espera de uma vaga de UTI.

Natal e Mossoró
A reportagem procurou as secretarias municipais de Saúde das cidades mais atingidas pelo novo coronavírus, Natal e Mossoró. A Secretaria Municipal de Saúde de Natal afirmou através da assessoria de comunicação que “nossos medicamentos estão ok”. Mossoró não respondeu às perguntas enviadas.

O Conselho Municipal de Saúde de Natal se reúne, nesta sexta-feira (2), com a presença do secretário de Saúde, George Antunes, para perguntar como está a situação dos estoques de medicamentos. A presidente do Conselho, Dalva Horácia, afirmou que insumos médicos já faltaram na rede municipal de saúde nesta pandemia.

MS anuncia compra de insumos
O Ministério da Saúde anunciou no dia 29 de junho ações para comprar e distribuir medicamentos que estão em falta para a intubação de pessoas com quadros graves da covid-19. A Pasta reconheceu que houve problema em relação à demanda, mas diz que vai “trabalhar para evitar o desabastecimento.” O chefe da Unicat do Rio Grande do Norte, Ralfo Medeiros, disse que as iniciativas “vão facilitar as compras para todos os Estados porque vai ser através de uma única ata de preços.”

O levantamento do Conselho Nacional de Secretários da Saúde feito no dia 25 do mesmo mês mostrou a escassez em 21 Estados e Distrito Federal. A situação mais crítica era no Mato Grosso. De 22 medicamentos, 13 estavam em falta no Estado da região Centro-Oeste. O mesmo levantamento mostrou que o Ceará e Maranhão não possuíam 12 medicamentos. O Rio Grande do Norte, assim como São Paulo, estava sem dez dos medicamentos listados. Foi o último levantamento do Conselho.

A escassez de medicamentos acontece no momento em que o Brasil chega a fase mais crítica da doença, chamada de “platô” pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira, 1º. É considerado “platô” quando a pandemia atinge o pico de novas infecções e mortes por dia e fica estável por um período, antes de começar a reduzir o número de infecções e mortes diárias.

A opção do Ministério da Saúde é a abertura de processo de pregão via Sistema de Registro de Preços. A pasta realiza um pregão eletrônico para aquisição centralizada desses medicamentos, no qual os Estados poderão entrar como co-participantes. O secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, disse no último dia 29 que esse tipo de procedimento ajuda ao permitir uma compra em escala, fazendo com que seja possível uma redução no preço dos medicamentos.

Outra ação do Ministério da Saúde é a cotação com fornecedores internacionais por meio da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), informou Elcio Franco. A ação teve início em 18 de junho, mas não há previsão de quando o processo de aquisição deve ser concluído. As informações são da Agência Estado.

A terceira opção do governo é a requisição administrativa, em que o material primeiro é recebido do fornecedor, depois é feito o reconhecimento da dívida e, então, o pagamento é realizado. Sandra de Castro Barros, diretora do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos, disse que a compra é feita de forma parcelada para sete dias, mas que as aquisições podem não atender esse período nos Estados. Segundo ela, cada unidade federativa possui demandas diferentes.

Medicamentos com estoque baixo:
Anestésicos (sedativos)
Bloqueadores neuromusculares
Antibióticos
Anticoagulantes

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