Ex-secretário de Alckmin teria ‘bunker’ para guardar documentos da Dersa

Investigação da Operação “Pedra no Caminho”, do braço paulista da Lava-Jato, aponta que Laurence Casagrande, ex-secretário de Geraldo Alckmin (PSDB), tinha uma espécie de “bunker” para guardar documentos supostamente escondidos na sede da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), na Zona Sul da capital paulista.

Ao cumprir mandados de busca no local, foram encontrados arquivos eletrônicos (discos rígidos e pen drives), além de folhas impressas, com informações da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário), estatal paulista responsável por grandes obras viárias e que foi presidida por Casagrande até abril deste ano. Na ocasião, no entanto, ele já havia deixado o comando da Dersa há mais de dois meses, razão pela qual investigadores consideraram a conduta suspeita. O material será analisado e os equipamentos eletrônicos devem passar por perícia.

Segundo investigadores, os documentos estavam num local insuspeito na sede da CESP, no bairro da Pedreira, na Avenida Nossa Senhora do Sabará, onde há uma pequena vila de casas muito arborizada. Uma das residência, porém, que estava em reforma e era pouco frequentada, tinha um dos quartos usado por Casagrande para guardar o material da Dersa. O Globo

Casagrande esteve na estatal entre 2011 e abril deste ano e tinha a missão de livrar a empresas dos escândalos de corrupção ocorridos na gestão de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. Inclusive foi responsável por uma auditoria que encontrou irregularidades da gestão de Paulo Preto. A Dersa tem pelo menos R$ 15 bilhões de contratos firmados nos últimos dez anos sob suspeita de corrupção, segundo investigações da Operação Lava-Jato.

Ele está preso num presídio de Tremembé, no Vale do Paraíba, desde o dia 21 de junho, quando foi deflagrada a operação contra desvios no trecho Norte do Rodoanel, que está em construção, e que deve ligar a Rodovia dos Bandeirantes à Presidente Dutra. O Ministério Público Federal (MPF) estima que houve um sobrepreço de R$ 600 milhões nos custos das obras tocadas pela OAS e Mendes Junior. Casagrande responde por ter assinado os aditivos dos contratos das obras. Também há suspeita de que ele tenha tentado destruir provas ao mandar uma secretária triturar documentos. A testemunha trabalhou como secretária pessoal dele por sete anos até sua exoneração este ano. A defesa diz que ele é inocente.

Na última sexta-feira, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um pedido liminar da defesa de Casagrande que pedia que o ex-presidente da Dersa pudesse responder ao inquérito em liberdade. Ele foi detido temporariamente inicialmente, mas a prisão acabou sendo convertida em preventiva pela juíza Maria Isabel do Prado, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo. A magistrada considerou que a liberdade dele constitui um “grave risco” ao processo e às testemunhas.

“Tal conduta confirma a necessidade da manutenção da custódia cautelar, como única maneira de resguardar as provas e, em especial, as testemunhas, dentre as diversas que figuraram como funcionárias subordinadas a ambos os investigado”, afirmou Maria Isabel.

Segundo os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato paulista, Laurence seria o principal articulador entre as empreiteiras e outros setores políticos na confecçaõ de contratos aditivos. Os contratos teriam aumentado irregularmente o preço das obras do trecho norte do Rodoanel.

OUTRO LADO

A defesa de Casagrande disse que desconhece a informação de que ele guardava documentos da Dersa na sede da Cesp. Afirma ainda que tem conhecimento de que foram encontrados documentos da Dersa na residência dele, mas que as informações que eram guardadas serviam apenas para eventuais esclarecimentos de pedidos de informações de órgãos públicos, a exemplo do Tribunal de Contas da União (TCU), que investiga os contratos da estatal.

Sobre a acusação de que Casagrande teria triturado documentos, os advogados argumentam que as folhas que foram destruídas tinham informações que já estavam digitalizadas pelos órgãos públicos.

Em nota após a prisão de Laurence, o ex-governador Geraldo Alckmin afirmou que reitera seu total apoio às investigações. Se houve desvio, o tucano diz que defende punição exemplar. Caso contrário, que o direito de defesa prevaleça.

“Com relação ao caso mencionado pela reportagem, o ex-governador de São Paulo reforça que todas as informações solicitadas foram prestadas pela Dersa ao TCU, que ainda não julgou o caso”, disse o ex-governador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.