Falta de respiradores no mercado impede compra para UTIs de hospitais públicos e privados

A compra dos respiradores para expandir o número de leitos adequados à assistência de pacientes graves com Covid-19 nos hospitais públicos e privados do Rio Grande do Norte esbarra na falta do equipamento no mercado. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) e hospitais privados ouvidos pela reportagem, a escassez é ocasionada pela alta demanda do equipamento no Brasil e no mundo e atrapalha os planos de expansão de leitos.

Até fevereiro deste ano, o Rio Grande do Norte possuía 807 respiradores, também chamado de ventiladores pulmonares, nas redes de saúde pública e privada, segundo o Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES). A maior parte (773) estava em uso.

Com o aumento dos casos suspeitos e confirmados de coronavírus no estado, que chegou a 478 suspeitos e 14 confirmados nesta terça-feira, 24, e a ocupação, obter o equipamento se tornou uma tarefa crucial.

A Sesap planeja obter 115 respiradores, mas afirma que está com dificuldades de encontrá-los no mercado porque esses equipamentos foram vendidos para outros Países e Estados. “A gente está num esforço sem tamanho o tempo inteiro buscando entrar em contato com os fornecedores”, informou a pasta.

Em um dos maiores hospitais privados de Natal, o Hospital Unimed, a dificuldade é a mesma. O hospital tem 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e tenta obter 20 novos respiradores para expandir a capacidade de assistência, mas não consegue confirmar a compra com os fornecedores, segundo a superintendente de provimento em saúde, Cristiane Quadros.

A compra dos equipamentos era dada como certa pelos gestores do hospital no último sábado, 21, mas foi cancelada nesta segunda-feira, 23. “A gente está com problema de insumo de forma generalizada no mercado. A gente está buscando um novo fornecedor porque o que tínhamos feito a encomenda não confirmou a compra”, disse Quadros.

O hospital tinha um caso de internação por suspeita de Covid-19 na segunda-feira, mas suspendeu cirurgias eletivas e procedimentos de rotina para melhorar o fluxo de leitos durante o aumento da pandemia. Estão funcionando somente os serviços de urgência para atender grávidas, pacientes cardíacos e oncológicos e outras doenças graves. A administração da Unimed também informou que mais 10 leitos foram contratados no Hospital Liga Contra o Câncer para permitir a readequação de pacientes.

Outros hospitais privados contactados, como o Hospital Promater e Antônio Prudente, também informaram que atuam para expandir os leitos de UTI com a compra de respiradores, mas não detalharam quantos existem atualmente, quantos estão em uso e quantos devem ser comprados. As estatísticas do CNES mostram 256 desses equipamentos na rede privada e 108 nas organizações filantrópicas.

A rede pública também cancelou cirurgias eletivas e outros procedimentos para ter capacidade maior no atendimento de casos graves do coronavírus. Entretanto, esses hospitais já sofrem com a falta de leitos intensivos suficientes para a população. No Rio Grande do Norte, são 0,94 leitos do SUS por cada 10 mil habitantes, de acordo com os dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) de 2018. A pandemia de coronavírus tem exigido no mundo uma média de 2,4 leitos por 10 mil habitantes, segundo Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).

Os hospitais privados potiguares têm números melhores, com 5,2 leitos para cada 10 mil habitantes. Entretanto, apenas 14% da população do Rio Grande do Norte tem cobertura de planos de saúde, segundo os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar de janeiro de 2020. São 496 mil beneficiários entre 3,4 milhões de habitantes.

A taxa de ocupação das UTIs no Sistema Único de Saúde (SUS) chega a 100% no Rio Grande do Norte, segundo informou o secretário estadual Cipriano Maia (Saúde) na última semana. No caso de respiradores, a Sesap informou nesta terça-feira que a taxa de ocupação “é praticamente de 100% sempre” na rede estadual, que possui 279 equipamentos. A rede pública totaliza 443 desses equipamentos. Além dos existentes nos hospitais públicos estaduais, há os espalhados em Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) e hospitais federais.

Na rede privada, essa ocupação chega a 80% no Brasil, afirma a Amib. O SUS pode contratar leitos de UTI dessa rede para expandir o atendimento público. A TRIBUNA DO NORTE perguntou a Sesap se há esse plano, mas não obteve resposta até o fim desta reportagem. Na última semana, a pasta anunciou 134 leitos intensivos novos nos hospitais públicos para suprir a demanda para os casos de coronavírus.

Doação
Empresários e diretores de grandes empresas em Natal e no Rio Grande do Norte arcaram com a compra e manutenção de 16 respiradores para o sistema público de saúde visando aumentar a assistência aos pacientes graves de Covid-19. Mais de R$ 1,4 milhão foi doado pela classe e os respiradores foram entregues ao Hospital Giselda Trigueiro.

Segundo Sílvio Bezerra, presidente da Sinduscon, os primeiros respiradores entregues nesta segunda-feira e terça-feira já existiam na rede de saúde, mas não estavam sendo utilizados por estarem quebrados. Mais 16 respiradores novos estão sendo comprados pelos empresários para o mês de abril.

Privados e filantrópicos têm que atender casos
Os hospitais privados e entidades filantrópicas de saúde do Rio Grande do Norte estão proibidos de negar atendimento aos usuários do sistema de saúde particular e suplementar durante a pandemia do coronavírus. A determinação foi publicada pelo governo estadual nesta terça-feira, 24, no Diário Oficial.

Segundo a portaria, as instituições devem elaborar planos de contingência para atender a parcela da população que precise de atendimento médico por apresentar sintomas do Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Esses hospitais não podem recusar o atendimento e transferir os pacientes diretamente para os hospitais de referência da rede pública.

Na semana passada, o Conselho Estadual de Saúde (CES) já havia recebido denúncias de que estariam chegando no Hospital Giselda Trigueiro pacientes encaminhados diretamente da rede privada sem ter atendimento. O direcionamento fere o protocolo estabelecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que indica as unidades básicas e de urgência (UPAs) dos municípios para o atendimento clínico inicial.

Apenas pacientes com casos graves devem ser encaminhados ao Giselda Trigueiro.

A promotoria do consumidor do Ministério Público do Estado (MPE) já havia se reunido na quinta-feira, 19, para discutir sobre o assunto por conta das denúncias e estava à procura de provas para instaurar procedimento interno.

Segundo a superintendência de alguns hospitais privados de Natal, a demanda de pacientes na urgência, a partir das recomendações feitas para procurar assistência somente em casos de febre alta (acima de 37,8º C) e dificuldade de respirar, está regular. Alguns planos de saúde também instituíram o atendimento online para evitar a superlotação nas unidades.

*Tribuna do Norte

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