Fifa afasta Del Nero da presidência da CBF após escândalo de corrupção

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero

O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Marco Polo Del Nero, foi banido provisoriamente do futebol pela Fifa por 90 dias a partir desta sexta-feira (15). A decisão foi tomada pelo comitê de ética da entidade e pode ser estendida por até 45 dias.

Segundo o comitê, o cartola está banido de todas as atividades relacionadas ao futebol no Brasil e no exterior. Ele será substituído como presidente da CBF por Antônio Carlos Nunes, 79, o coronel Nunes. O ex-presidente da Federação Paraense de Futebol é o vice mais velho da entidade, critério previsto no estatuto da confederação para a substituição do presidente.

Desde maio de 2015, quando o FBI começou a prender cartolas envolvidos em corrupção, Del Nero nunca mais viajou para o exterior. Ele é acusado na Justiça dos EUA de participar de um esquema de recebimento de propina com cartolas da América do Sul.

José Maria Marin, seu antecessor, é julgado nos EUA por extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro no âmbito do escândalo de corrupção da Fifa. As informações são da Folha de São Paulo.

Nesta quinta (14), durante suas considerações finais no julgamento, o advogado de Marin, Charles Stillman, lembrou analogia de Alejandro Burzaco, empresário argentino que comandava a firma de marketing Torneos y Competencias e estava no centro do esquema de pagamento de propinas, de que Marin era como um rei que fazia os discursos e participava de cerimônias, mas era Marco Polo Del Nero quem tomava as decisões.

“Marco Polo era quem mandava no show no futebol brasileiro”, disse Stillman. “Os discursos pertenciam a Marin, mas as decisões eram de Del Nero. Ele era visto como quem mandava na CBF.”

Del Nero também é alvo de inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura irregularidades em convênios firmados pelo dirigente com o governo do Estado de São Paulo quando ele ainda comandava a FPF (Federação Paulista de Futebol).

O cartola está na presidência da CBF desde 2015 e tentaria a reeleição no próximo ano. Ele ainda não se pronunciou sobre a decisão da Fifa.

A decisão pelo banimento provisório foi tomada pelo grego Vassilios Skouris, presidente da câmara de arbitragem do Comitê de ética da Fifa, seguindo recomendação da colombiana Maria Claudia Rojas, presidente da câmara de investigação do mesmo órgão. Ambos ocupam seus cargos desde maio deste ano.

Segundo o código de ética da Fifa, a punição provisória aplicada a Del Nero pode ser dada quando há indícios de violação do código de ética e “uma decisão definitiva sobre o caso pode não ser tomada suficientemente cedo” ou para prevenir que a pessoa acusada interfira em investigação em andamento no comitê. O dirigente será convocado a fazer sua defesa perante o comitê.

Esta é a segunda vez que Del Nero se afastará da presidência da CBF desde que foi eleito, em maio de 2015. Em dezembro do mesmo ano, após ser indiciado pela Justiça dos EUA, o dirigente se licenciou do cargo.

Naquela ocasião, o deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), vice-presidente da CBF como representante da região Centro-Oeste, assumiu interinamente o cargo. Em janeiro, coronel Nunes foi empossado como presidente da entidade. O cargo, porém, era apenas protocolar. Nos bastidores, era Del Nero quem continuava mandando na confederação. O cartola voltou a assumir oficialmente cargo em abril do ano passado.

AMIGOS NA FIFA

No início desta semana, a defesa do ex-presidente da CBF José Maria Marin resolveu trazer à tona o atual presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, e comparar sua situação à de Marin.

“Quase sempre eles [Marin e Del Nero] estavam juntos”, disse o advogado James Mitchell, que defende Marin. Ele interrogava o investigador da Receita Federal americana Steve Berryman, que é testemunha de acusação e depõe desde a última quinta (7).

Para Mitchell, a conduta da Fifa com Marin, que foi banido da instituição, não foi a mesma com Del Nero, e isso contraria a suposta política de “tolerância zero” da entidade contra corrupção e fraude. Eles frequentavam as mesmas reuniões e estavam sujeitos ao mesmo código de ética, argumentou o defensor.

A juíza Pamela Chen, porém, interrompeu as perguntas, retirou os jurados da sala, ouviu as partes e decidiu que não iria permitir a linha de argumentação, por considerar que ela não prova nada sobre os fatos contra Marin, e que a Fifa e seu posicionamento em relação aos investigados não está em jogo.

A magistrada chegou a afirmar que isso só provaria que “Del Nero tem mais amigos em esferas superiores do que Marin”.

NA PLANILHA

No final de novembro, José Eladio Rodríguez, testemunha da acusação, que era responsável pela execução das transferências da Torneos y Competencias, afirmou que quando citava a sigla “MP” fazia uma referência aos dois brasileiros, Del Nero e Marin. Nas palavras dele, eles “eram um só, viviam juntos, sempre os via juntos”.

Essa confusão também aparece nos e-mails de Rodriguez. Numa série de mensagens que mandou como lembrete para seu próprio endereço eletrônico, o ex-executivo da Torneos listava pagamentos a serem divididos entre Marin e Del Nero, entre esses uma transferência de US$ 3 milhões de junho de 2013.

CBF

A CBF também se pronunciou sobre o caso e afirmou que o o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima assume interinamente a presidência.

“A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informa que recebeu nesta sexta-feira (15) a notificação da decisão do Comitê de Ética da Fifa, determinando a suspensão por 90 dias do presidente Marco Polo Del Nero. A entidade informa que, em cumprimento à citada decisão e em linha com seu Estatuto, o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima assume interinamente a presidência”.

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