A busca pela energia solar por parte de micro e pequenos empresários (MPEs) tem crescido de maneira exponencial no Rio Grande do Norte e o volume de recursos financiados praticamente quintuplicou entre 2016 e 2023. O total de financiamentos pelo Banco do Nordeste (BNB) passou de R$ 5,13 milhões em 2016, dentro de 18 operações, para R$ 25,8 milhões, em 152 operações, em 2023, um crescimento de quase cinco vezes mais. Dos que receberam financiamentos nesses oito anos, 90% são micro e pequenos empreendedores, público-alvo do banco. Segundo especialistas, os dados confirmam uma mudança de dinâmica de mercado para empreendedores, que têm apostado em energia solar para reduzir custos e apostar em empresas sustentáveis.
De acordo com o Banco do Nordeste, no FNE Sol, linha de financiamento específica criada para projetos de placas fotovoltaicas, de 152 plantas solares financiadas em 2023, 50% eram para comércio e serviços, 27% para indústria e 23% para turismo. O financiamento para pessoas jurídicas existe desde 2016, com o número subindo ano a ano: R$ 5,13 milhões (2016), R$ 9,95 milhões (2017), R$ 9,27 milhões (2018), R$ 19,49 milhões, (2019), R$ 22,66 milhões (2020), R$ 27,66 milhões (2021) e R$ 49,27 milhões (2022). Desde 2019, o banco também oferta o financiamento para pessoas físicas.
“De uma forma geral, a procura é crescente. Muitos players chegando no mercado, empresas integradoras e pessoas contribuindo para que esse processo cresça. A energia solar se associa a questão ambiental, a modernidade e ao desenvolvimento sustentável, que é o carro chefe do Banco do Nordeste. Hoje, temos o selo próprio do FNE Sol para tratar essa linha de crédito que é importante e prioritária para o BNB sobretudo para micro e pequenas empresas, produtores rurais e pessoas físicas”, explica o superintendente em exercício do Banco do Nordeste no Rio Grande do Norte, Alexandre Ramari.
Um desses financiamentos nos últimos anos foi o de José Anchieta, 65 anos, que resolveu apostar alto na energia solar para suas duas padarias, a Pão & Companhia, em Natal, que funcionam há 35 anos. Os investimentos foram da ordem de R$ 400 mil em cada unidade. Antes, seu gasto mensal com energia chegava a R$ 10.000/mês. Ele apostou na mudança há quatro anos. Em sua padaria, que além da venda de massas também fornece refeições, a energia é utilizada nos fornos, geladeiras, freezers, maquinário e infraestrutura no geral. Ele cita que a economia no insumo energia, seu terceiro maior gasto até então, chegará a 70%.
“Estou pagando ainda o Banco do Nordeste e quando terminar vamos ficar com a energia praticamente zerada. A prestação é equivalente à conta de energia que eu pagava na época. Quando fiz a usina, a ideia era cobrir toda minha energia e zerar, mas com o decorrer do tempo a produção e faturamento aumentou e a energia também, então ainda não zero minha conta. Pagamos um resíduo à concessionária com nosso consumo”, explica. A usina solar de José de Anchieta fica em Currais Novos, no Seridó potiguar, de onde gera sua energia, outra praticidade da modalidade. Com a expectativa de terminar o financiamento no meio do ano, ele quer ampliar suas placas para “cobrir os resíduos e zerar a conta”.
Segundo Guilherme Susteras, coordenador de geração distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o uso dessa fonte energética por pequenos e médios negócios é uma tendência com cada vez mais possibilidades de crescimento.
“Quando pequenos empresários adotam a energia solar distribuída eles têm dois grandes benefícios: o primeiro claro, é a redução na conta de luz e o segundo a possibilidade de se promover como negócio ambientalmente amigável, sustentável, como um negócio que aderiu à famosa agenda ESG (Ambiente, Social e Governança, em português). Essa adesão já é uma realidade”, comenta Susteras.
Financiamento considera realidade do empreendedor
Com financiamentos que podem chegar a cifras consideráveis para micro e pequenos empreendedores, o mercado tem buscado maneiras e alternativas para evitar que o que se promete ser uma solução não vire dor de cabeça.
Segundo Alexandre Ramari, superintendente em exercício do Banco do Nordeste no RN, a instituição faz uma análise das faturas de energia dos potenciais clientes para criar uma parcela dentro do que aquele empreendedor já tem no seu faturamento mensal.
“Isso, da capacidade de pagamento, não é uma problemática porque a prestação vai ficar parecida com a conta de energia que o cliente paga. Então não se muda o fluxo de caixa do empreendedor. É feita uma análise com base nas contas de energia e os prazos são suficientes. Terminado o prazo, o cliente fica com o equipamento para ele com a garantia e pagando apenas a taxa da rede”, disse. Segundo ele, o BNB começou a modernizar seus projetos e formas de análise e “tudo isso contribuiu para que os números de maneira geral crescessem”.
Dentro do FNE Sol, há carências que variam de 12 a 36 meses para pessoas jurídicas, tendo um adicional sobre o prazo total do financiamento em caso de empresas controladas por mulheres ou com participação acionária superior a 40% do capital social. Já o total do financiamento pode chegar a 24 anos a depender da modalidade.
“Para além dos direitos das pessoas gerarem sua própria energia, há uma série de programas de financiamento, em bancos públicos, privados, cooperativas de crédito, que permitem esse financiamento de tal forma que o valor da parcela de financiamento é igual ou às vezes até menor do que o que a pessoa paga na conta de energia atualmente. O empreendedor consegue fazer essa migração para a energia solar economizando muito rapidamente”, acrescenta Guilherme Susteras, coordenador de geração distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).
Panorama no Rio Grande do Norte
Histórico de financiamentos do BNB para a energia solar
Essa reportagem integra a série ‘Economia do Sol’ que a Tribuna do Norte publica até o próximo domingo (2)