A tentativa de reabertura de negociações entre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o grupo de trabalho da Lava-Jato em Brasília com vistas a um acordo de delação premiada fracassou. Para investigadores, Cunha pediu para retomar as tratativas e até se dispôs a participar diretamente das negociações, mas não demonstrou interesse em acrescentar informações essenciais à proposta de colaboração rejeitada há menos de duas semanas. A primeira proposta foi considerada pelos procuradores omissa, inconsistente e contraditória em relação a fatos já apurados ao longo das investigações, conforme revelou o GLOBO no último sábado.
O advogado Délio Lins e Silva, representante de Cunha nas negociações, confirmou o fim das tratativas, mas disse que foi o ex-deputado quem não quis o acordo nas condições estabelecidas pelos investigadores. Segundo ele, uma eventual delação de Cunha colocaria em xeque alguns pontos das delações do empresário Joesley Batista, de alguns ex-executivos da Odebrech e dos lobistas Fernando Soares, o Fernando Baiano, e Júlio Camargo. As delações de Fernando Baiano e Júlio Camargo foram essenciais para uma das primeiras investigações sobre o envolvimento de Cunha com desvio de dinheiro da Petrobras.
— Quem disse não ao acordo foi o Eduardo Cunha e não os procuradores. Eles queriam que ele confirmasse a compra do silêncio do Cunha (por Joesley Batista). Ele disse que isso não existiu — afirmou o advogado. As informações são de O Globo.
Em depoimento a investigadores da Lava-Jato depois de firmar acordo de delação, Batista disse que fez pagamentos a Cunha e ao operador Lúcio Bolonha Funaro para evitar que os dois fizessem acordo de delação premiada. A acusação é um dos pontos de partida do inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para apurar o suposto envolvimento do presidente Michel Temer com corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa. Segundo o empresário, o dinheiro do suposto suborno era repassado a Cunha por intermédio do motorista Altair Alves Pinto, apontado como um faz-tudo do ex-deputado.
Na proposta inicial de acordo, Cunha apresentou aproximadamente 100 anexos sobre casos de corrupção e outros crimes sobre os quais ele poderia discorrer de forma detalhada. Segundo o advogado, o ex-deputado revelaria como funciona por dentro o sistema político brasileiro, especialmente o Congresso Nacional. Antes de ser preso, Cunha era apontado como o líder de uma expressiva bancada de deputados, cevada com financiamento de campanhas eleitorais e outras trocas de favores. O advogado afirma ainda que o fim das negociações coma equipe do procurador-geral Rodrigo Janot não sepulta de vez as chances de um futuro acordo de delação.
— Pode ser que mais prá frente se reabra as negociações. O mandato do Janot está acabando. Vem aí uma nova procuradora-geral — afirmou o advogado.
Na proposta apresentada inicialmente, Cunha teria se comprometido a falar sobre as relações dele com o presidente Michel Temer. Também falaria sobre deputados, senadores e ministros, que hoje estão no centro do poder em Brasília. Mas as informações oferecidas por escrito foram consideradas superficiais e inconsistentes. O ex-deputado teria sido omisso em relação a crimes já conhecidos. Cunha também apresentou poucas provas para sustentar as acusações, algumas delas genéricas, que prometeu fazer. Com esta avaliação, procuradores rejeitaram o acordo no último dia 11.
Três dias depois do não, ainda na passada, Cunha pediu ao Grupo de Trabalho para retomar as negociações. A sinalização é de que o ex-deputado poderia teria dados relevantes a acrescentar a proposta inicial. Mas, depois das primeiras conversas, procuradores entenderam que, mais uma vez, Cunha estaria omitindo informações. Diante das desconfianças mútuas, as negociações foram, pela segunda vez, encerradas.