Irã admite que derrubou avião ucraniano por engano

O Irã admitiu que o avião ucraniano que caiu em seu território na última quarta-feira (8) foi derrubado por erro humano, afirma a TV estatal iraniana neste sábado (11). O comunicado lido na emissora declara que os responsáveis serão punidos.

“A República Islâmica do Irã lamenta profundamente esse erro desastroso”, escreveu o presidente iraniano Hassan Rouhani no Twitter, prometendo que os responsáveis pelo incidente seriam processados. “Meus pensamentos e orações vão para todas as famílias de luto.”

Uma declaração militar iraniana, a primeira a indicar a mudança de posição do Irã, disse que o avião havia voado perto de um local militar sensível pertencente à Guarda Revolucionária de elite.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, a principal autoridade da República Islâmica, foi informado sobre o abate acidental do avião ucraniano na sexta-feira e disse que as informações deveriam ser anunciadas publicamente após uma reunião do principal órgão de segurança do Irã, divulgou a agência de notícias estatal.

A Ucrânia espera uma investigação completa, uma admissão total de culpa e compensação do Irã após a queda de um avião de passageiros ucraniano, disse o presidente ​Volodymyr Zelenskiy em comunicado.

No acidente, o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines caiu cinco minutos após decolar do aeroporto Imam Khomeini, em Teerã. A aeronave, que decolou às 6h12 na hora local (23h42 de terça em Brasília) e seguia para Kiev, pegou fogo minutos após a decolagem. Todas as 176 pessoas a bordo morreram.

Os governos do Canadá e do Reino Unido, assim como funcionários da inteligência dos EUA, já haviam dito ter informações que indicam que o voo foi derrubado por um míssil iraniano de forma acidental. Essa possibilidade vinha sendo negada pelo governo iraniano.

O New York Times também divulgou um vídeo que aparentemente mostra um míssil atingindo a aeronave sobre Parand, região próxima ao aeroporto de Teerã onde o avião transmitiu sinais pela última vez. O jornal afirma ter verificado o material.

Na sexta (10), o Irã afirmou que pretendia fazer a extração dos registros das caixas-pretas no país, a não ser que encontrasse dificuldades técnicas.

“Nós preferimos retirar os dados das caixas-pretas no Irã. Mas se virmos que não vamos conseguir porque as caixas estão danificadas, então vamos pedir ajuda”, disse Ali Abedzadeh, chefe da autoridade de aviação civil do Irã.

A ajuda na investigação poderia ser solicitada para a Rússia, o Canadá, a França ou a Ucrânia, segundo ele. O governo do Irã afirmou que os países que perderam cidadãos no acidente poderão enviar representantes para participar das investigações, assim como representantes da Boeing.

Entre as vítimas, havia 82 iranianos, 63 canadenses e 11 ucranianos. Boa parte dos passageiros faria uma conexão para um voo com destino ao Canadá.

A retirada dos dados pode levar um ou dois meses, e o resultado final da investigação, até dois anos, segundo Abedzadeh. A apuração das causas de acidentes aéreos costuma levar vários meses.

Nesta sexta, a Rússia saiu em defesa do Irã e apontou não ver elementos para culpar o país pela queda. O vice-chanceler Sergei Ryabkov afirmou que os líderes de outros países deveriam evitar novas declarações até que mais detalhes sejam apurados.

No mesmo dia, o chanceler da Holanda, Stef Blok, disse considerar que há grandes chances de que a queda tenha sido causada por mísseis iranianos.

A Ucrânia disse priorizar as possibilidades de ataque com míssil e terrorismo como causas da queda, mas que ambas ainda precisam de confirmação. No fim do dia, o ministro do Exterior iraniano, Vadym Prystaiko, informou à rede CNN que o país investiga a possibilidade de uma bomba ter sido plantada no avião.

Ele suspeita dessa hipótese pelo fato de o voo ter atrasado para sair do aeroporto de Teerã e porque algumas malas não foram carregadas na aeronave.

Os Estados Unidos ofereceram ajuda à Ucrânia nas investigações, mas também defenderam que seja feita uma investigação independente.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que o país acredita que o avião foi derrubado por um míssil iraniano, mas que isso ainda precisa ser comprovado pela investigação. Na quinta (9), funcionários de Inteligência dos EUA haviam revelado essa informação, sob condição de anonimato.

Após a queda, diversas companhias aéreas cancelaram seus voos para Teerã ou passaram a desviar suas rotas para não sobrevoar Irã e Iraque. Entre elas, estão Lufthansa, Malaysia Airlines, KLM Air France, e Qantas.
PERGUNTAS E RESPOSTAS

O que ocorreu?
Um Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines caiu cinco minutos após decolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerã, na manhã de quarta (8). Todas as 176 pessoas a bordo morreram

Por que o avião caiu?
Não está claro. Funcionários dos setores de inteligência dos Estados Unidos e os primeiros-ministros do Canadá e do Reino Unido, Justin Trudeau e Boris Johnson, acusam o Irã, por meio do seu sistema de defesa aérea, de derrubá-lo. O Irã diz que a informação é parte de uma “guerra psicológica” contra o país

Foi proposital?
Não. Teria sido um acidente, segundo agentes dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido

Quais as evidências já apresentadas?
Um vídeo divulgado na noite desta quinta (9) pelo New York Times mostra, aparentemente, um míssil atingindo a aeronave sobre Parand, região próxima ao aeroporto de Teerã onde o avião transmitiu sinais pela última vez. Já Trudeau afirmou ter informações “de múltiplas fontes, incluídos nossos aliados e nossos próprios serviços”, que indicam que a aeronave foi atingida por um míssil iraniano

Qual é o tipo do míssil?
Seria um terra-ar iraniano de origem russa, segundo Canadá e Reino Unido

Quem vai investigar a queda?
O comitê de investigação de acidentes aéreos no Irã. Mas o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei, disse em comunicado que os países cujos cidadãos estavam no avião podem enviar representantes e solicita que a Boeing envie representantes para se juntarem à investigação da caixa-preta

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