Os encontros noturnos e fora da agenda do presidente Michel Temer (PMDB) no Palácio do Jaburu “revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados”.
A afirmação é do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na denúncia em que acusou o presidente de corrupção passiva, por ser supostamente o destinatário final de uma mala com R$ 500 mil e uma promessa de outros R$ 38 milhões em propinas da JBS. Veja a íntegra aqui.
No último dia 2, a Câmara dos Deputados decidiu não dar autorização para que o caso fosse encaminhado ao STF.
As circunstâncias do encontro —o horário e a ausência de registro oficial— são as mesmas em que o presidente recebeu, às 22h noite de terça (8), Raquel Dodge, subprocuradora da República e sua sucessora na PGR (Procuradoria-Geral da República).
À Folha Raquel Dodge afirmou que se encontrou com o presidente para discutir sua posse, em setembro. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
Na denúncia, Janot discorre especificamente sobre a conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista. Em 7 de março deste ano (“é possível afirmar que a sequência de eventos ocorreu entre às 22h e 31 min e às 23h e 16 min”), o sócio do grupo JBS visitou o Jaburu e gravou o diálogo com o presidente.
Tratou-se, disse o procurador-geral, de uma “reunião clandestina”.
Janot escreve que, apesar de Temer confirmar que ouviu Joesley à noite, como o faz com “muitos empresários, políticos, trabalhadores, intelectuais e pessoas de diversos setores da sociedade brasileira”, o peemedebista não apontou no inquérito quem seriam seus convidados.
Ainda de acordo com a denúncia, o horário do encontro foi definido por Temer. “Ele prefere te atender à noite no Jaburu, mais tarde, sei lá, a partir das 10 da noite, 11 horas”, disse Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente, a Batista, também em conversa obtida pela PGR.
Loures ficou conhecido como o “deputado da mala” por ter sido filmando transportando os R$ 500 mil, entregues a ele em uma pizzaria.
Nesta semana, o Planalto subiu contra o procurador-geral. Na terça (8), a defesa do presidente pediu que Janot seja impedido de investigar o presidente.
Na segunda (7), o ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou que Janot é “o procurador mais desqualificado que já passou pela história da Procuradoria”. Na véspera, desejou ao procurador-geral “boa viagem” e jantou com Michel Temer —também fora da agenda.