Janot pretende se concentrar em novas delações e no caso Temer

Numa ação relâmpago na noite de quarta-feira, o presidente Michel Temer indicou a subprocuradora-geral Raquel Dodge para chefiar o Ministério Público Federal (MPF), nos próximos dois anos, numa suposta tentativa de esvaziar os poderes do atual procurador-geral Rodrigo Janot, que o denunciou por corrupção.

A decisão do presidente apressa a mudança do centro do poder no Ministério Público, mas para Janot ainda restam mais dois meses e 17 dias de mandato e uma extensa agenda de trabalho, que pode trazer ainda muitas dores de cabeça a políticos investigados por desvios de dinheiro da Petrobras e outras áreas da administração federal.

No sábado, numa palestra no 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo, Janot deixou claro que “enquanto houver bambu, vai ter flecha”. O procurador-geral não pretende reduzir o ritmo de trabalho na reta final do seu mandato só porque Temer espera tratamento diferenciado da candidata que indicou para comandar o MPF, depois de ouvir conselhos do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). As informações são de O Globo.

Entre as flechas de Janot estarão, além da denúncia já encaminhada à Câmara, o aprofundamento das investigações de dois inquéritos já abertos e pelo menos mais um a ser instaurado contra Temer. No primeiro inquérito, 4483, o procurador-geral deverá buscar indícios sobre a suposta tentativa do presidente de obstruir a Operação Lava-Jato.

No inquérito 4327, Janot deverá apurar a participação de Temer à frente de um grupo do PMDB que, para o Ministério Público, atuou ao longo da história recente do país como uma organização criminosa incrustada no centro do poder político. O grupo teria sobrevivido aos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique, Lula, Dilma e, agora, estaria no comando do país.

Num outro inquérito, Janot investigará se supostas negociatas teriam precedido a assinatura do decreto dos portos por Temer. O procurador-geral pediu abertura do inquérito sobre corrupção e lavagem. O ministro Edson Fachin, do STF, concordou, mas antes de autorizar a investigação, pediu para que Janot se manifeste sobre a possível transferência da relatoria para o ministro Marco Aurélio. A suspeita é que Temer tenha beneficiado um grupo de empresários ao prorrogar o prazo de concessão no Porto de Santos, em São Paulo.

NA MIRA

No feixe de flechas de Janot estão, ainda, alguns acordos de delação a serem fechados. Na fila estão pesos-pesados como o empresário Eike Batista, o empreiteiro Fernando Cavendish, o banqueiro André Esteves, o ex-ministro Antonio Palocci e pelo menos mais dois que assombram o Palácio do Planalto: o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Funaro. Funaro já está em tratativas com a equipe de Janot e até colaborou em dois recentes depoimentos à Polícia Federal.

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