Joesley diz que Temer indicou amigo para acordo judicial de R$ 50 milhões

BRASILIA, DF, BRASIL, 21-06-2017, 09h00: Joesley Batista, da JBS, chega para depor na superintendência da PF, em Brasília. Ele deve prestar esclarecimentos sobre as operações Bullish e Greenfield. Joesley cortou o cabelo e chegou à PF de boné e óculos escuros. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***

Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Joesley Batista afirmou que o presidente Michel Temer tentou colocar um amigo, o advogado José Yunes, para defender o grupo J&F em uma disputa judicial.

O acordo que precisava de intermediação renderia ao escritório de Yunes, segundo o dono da JBS, que fez acordo de delação premiada, cerca de R$ 50 milhões.

Yunes é um dos melhores amigos do presidente e foi assessor especial do Planalto até dezembro passado, quando pediu demissão ao ser citado na delação do ex-executivo Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, como intermediário de um pacote com R$ 1 milhão que conteria dinheiro para campanhas do PMDB. As informações são da Folha de São Paulo.

Joesley afirmou, porém, que o acordo a ser feito para beneficiar o amigo de Temer nem chegou a ir adiante e que quem ficou responsável pela ação judicial foi Francisco de Assis, do departamento jurídico do grupo – também delator.

Não há informações no depoimento de Joesley sobre qual era a briga judicial nem as partes em litígio.

“Se recorda também de uma tentativa de inclusão do advogado José Yunes, por indicação do presidente Michel Temer, para intermediar um acordo com uma empresa em disputa judicial em andamento contra a J&F e que renderia ao escritório de José Yunes cerca de R$ 50 milhões”, consta no termo de depoimento prestado por Joesley à PF.

FORA DA DELAÇÃO

Em uma ligação telefônica interceptada pela PF, o lobista da J&F Ricardo Saud pede a uma pessoa para tirar o nome de Yunes da delação premiada que estava sendo negociada.

Não ficou claro o motivo pelo qual o amigo de Temer foi retirado da colaboração.

O telefonema entrou no relatório da polícia, que destacou as principais conversas –mais de 3.000 ligações foram gravadas com autorização judicial.

Saud contratou uma pessoa, de nome Rodolfo, para pesquisar endereços de entregas de propina que estariam em sua delação. No diálogo, o delator diz: “Sabe o que eu estava pensando? Naquele relatório… É… Você podia fazer para mim, que eu estou indo hoje para Nova York, para levar ele. Tira aquele negócio tudo que tem do Yunes…”.

Rodolfo responde concordando com a orientação, e Saud continua: “E põe só confirmando que nesse endereço mora… é o escritório de fulano de tal, põe tudo aquilo, amigo do cara, tal…. eu quero mostrar que você foi lá para mim e confirmar que lá era o coronel tal, tal, tal…”.

A referência feita pelo lobista diz respeito ao coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, também amigo de Temer. Ele é apontado pela JBS como receptor de propina de R$ 1 milhão ao presidente.

Por meio de nota, o advogado José Luis Oliveira Lima afirmou que Yunes “tem mais de 50 anos de advocacia e jamais necessitou de qualquer interferência para atuar em demandas judiciais. Nunca atuou como advogado em processo envolvendo a J&F ou JBS”.

A Folha entrou em contato também com a assessoria de imprensa de Temer, mas não teve resposta até o momento.

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