Há alguns dias, o ex-ministro petista Antonio Palocci entrou na cela de Marcelo Odebrecht, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, falando em italiano. Minutos depois, os dois riram. Assim como a dupla, os companheiros que estavam ao lado caíram na gargalhada, segundo relatos obtidos pela Folha.
A brincadeira, que se tornou comum entre os dois presos da Lava Jato, é uma referência ao codinome “italiano” dado ao petista na Odebrecht em operações que envolviam repasses de propina e caixa dois.
Não é raro Palocci se dirigir ao herdeiro da Odebrecht, usando palavras do idioma e dizendo, em tom de brincadeira, que não é o italiano.
Os dois convivem desde setembro, quando Palocci foi preso. Naquela época, Marcelo estava detido havia um ano e três meses. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
No início, foram mantidos em alas separadas e tinham horários de banho de sol distintos. Se esbarravam raramente, quando iam falar com advogados no parlatório.
O motivo da separação, segundo integrantes da PF, era o acordo de delação que o empreiteiro negociava com procuradores, e que foi homologado em janeiro deste ano.
Semanas depois, com o acordo encaminhado, o contato passou a ser mais frequente e os dois foram colocados na mesma ala. Desde então, têm rotina em comum que inclui divisão de tarefas “domésticas”, como limpeza da cela e do banheiro, além de fazerem refeições juntos.
Marcelo, segundo a Folha apurou, passou dar conselhos ao ex-ministro sobre a linha de defesa que deveria adotar, sendo cada vez mais enfático que a sua única saída seria o acordo de delação.
Quando Palocci se mostrou aberto à possibilidade, Marcelo teria sugerido que tentasse colocar a PF na negociação.
O petista não só passou a negociar a delação como teve a primeira reunião com procuradores sentado à mesa juntamente com um delegado da PF, há pouco mais de um mês.
Três pessoas que frequentam a carceragem de Curitiba relataram que viram o empreiteiro se dirigir a advogados do petista e afirmar que estavam prejudicando o cliente quando perguntavam a testemunhas da Odebrecht, diante do juiz Sergio Moro, se Palocci era o “italiano”.
Em 20 de abril, o petista disse a Moro que estava disposto a falar nomes e operações que interessariam à Lava Jato.