Marielle: preso em casa de R$ 1,9 mi, bombeiro será investigado por lavagem

O sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, 44, preso na manhã de hoje por suspeita de ter ajudado a ocultar armas de um dos acusados de matar Marielle Franco, em março de 2018, mora em um condomínio de luxo do Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro.

De acordo com policiais que cumpriram o mandado de prisão, a casa de luxo possui três andares e seria avaliada em R$ 1,9 milhão —a defesa do suspeito diz que o imóvel é alugado por ele. O bombeiro possui uma BMW X6 na garagem, no valor de R$ 170 mil. O alto padrão de vida do suspeito é mais um elemento na investigação conduzida pela Polícia Civil —ele será investigado pelo crime de lavagem de dinheiro.

Investigadores apontam que ele teria sido o responsável por esconder por uma noite armas pertencentes ao sargento da reserva da PM Ronnie Lessa —acusado de ser o autor dos disparos que mataram Marielle—, antes de um de seus comparsas descartá-las no mar para evitar a apreensão. De uma dessas armas, podem ter partido os disparos que mataram a vereadora e o motorista Anderson Gomes.

Segundo investigação, Ronnie e Maxwell seriam próximos há ao menos sete anos. Os laços entre os dois ficam claros por uma ocorrência policial de 2017: na ocasião, Lessa foi atingido por um disparo no pescoço em uma tentativa de assalto. Ao seu lado, estava o bombeiro, que ingressou no Grupamento de Busca e Salvamento da Barra Tijuca em 1998.

Alessandro Carvalho Neves, identificado como autor do crime, teria abordado a dupla em uma moto, perto de um quiosque da Barra da Tijuca, e anunciado o assalto. Lessa se desequilibrou por usar uma prótese na perna esquerda e caiu no chão. Maxwell, que iria almoçar com Lessa naquele dia, reagiu com tiros.

Dois disparos acertaram Lessa no pescoço e um deles atingiu a perna de Maxwell. O bombeiro ainda conseguiu acertar um tiro nas costas do assaltante, que fugiu, sendo preso posteriormente. Tempos depois, o assaltante foi condenado a 13 anos e quatro meses de prisão.
“Sem ele, seria impossível o descarte das armas”, diz delegado

O delegado responsável pelo caso, Daniel Rosa, afirmou que, sem a participação do bombeiro, o grupo não teria conseguido realizar o descarte das armas.

“Ele atuou junto com os demais comparsas no descarte de fuzis na praia da Barra da Tijuca, mais especificamente no quebra-mar. Ele tem participação fundamental no caso. Sem a conduta dele, esse resultado não teria ocorrido”, disse o policial que detalhou a ação criminosa.

“Ele é o proprietário do automóvel que fez o transbordo das armas, eles retiraram as armas da casa e passaram para o automóvel que ficou em um [estacionamento] de um mercado aqui na Barra e, horas depois, fizeram o transbordo dessas caixas, com seis fuzis, ao mar da Barra, onde contrataram um barqueiro, foram até as ilhas e descartaram todo material bélico”, disse.

Rosa afirmou que o descarte dos armamentos poderia ajudar na solução de outros crimes. “É um fato grave, pois se esses fuzis fossem recuperados seriam submetidos a confronto balístico e certamente desvendaríamos outros crimes pelo uso dessas armas.”

Até o momento, 66 pessoas foram presas por envolvimento nos assassinatos de Marielle e Anderson —entre pessoas envolvidas direta ou indiretamente no caso.
O que diz a defesa do bombeiro preso na operação

O advogado Leandro Meuser, que representa Maxwell, contestou a versão de que os bens dele são incompatíveis com a sua renda. Segundo ele, o bombeiro tem empresa própria e poderia comprovar a renda complementar com extratos do imposto de renda.

Meuser não soube contudo detalhar qual atividade seu cliente desempenhava. “Se ele for acusado de lavagem de dinheiro, a renda dele vai ser comprovada no momento apropriado”, disse.

Segundo o defensor, a casa onde Maxwell mora é alugada. Ele também minimizou a relação entre o bombeiro e Ronnie Lessa. “Eles se conhecem, mas não são próximos.”

O advogado disse só ter sido procurado hoje de manhã para representar o bombeiro.

*Com Marcela Lemos, colaboração para o UOL, no Rio.

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