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A Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU) amplia, nesta terça-feira (21), a oferta de ônibus na capital potiguar. É a segunda vez seguida que isso acontece, desde que a frota foi recolhida em razão dos ataques, na terça-feira da semana passada. Para hoje, 215 veículos, de 36 linhas, devem ir às ruas já nas primeiras horas da manhã. A liberação ocorre, segundo a STTU, a partir das 5h15 e se encerra às 19h. A circulação ainda ocorre de forma emergencial, como vem ocorrendo nos últimos dias. O sistema de trens volta a operar com grade emergencial.
De acordo com a STTU, circularão em caráter de emergência as linhas 02, 05, 07, 08, 15, 21, 22, 25, 27, 29, 30, 33, 33A, 35, 38, 39, 40, 41, 43, 46, 50, 51, 52, 54, 59, 60, 63, 64, 70, 72, 73, 75, 77, 79, 83 e 84. O número de veículos corresponde a pouco mais da metade da frota total, que é de cerca de 400 ônibus, segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores e Transportadores Rodoviários do Rio Grande do Norte (Sintro). O aumento gradativo da frota tem sido uma decisão tomada em conjunto com a cúpula da segurança pública do Estado, a STTU, o Sintro e o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn).
Também está definido o apoio das forças para que as operações de faixa reversível e triagem na Avenida Felizardo Moura sejam retomadas nesta terça-feira. A STTU informou que, durante a reunião, a Guarda Municipal de Natal garantiu o apoio à Polícia Militar no reforço das ações de segurança às linhas de transporte nos terminais e garagens das empresas que atuam no sistema. Ainda nesta terça-feira, será definida a operação da quarta-feira (22).
A frota em Natal foi recolhida pela primeira vez às garagens no primeiro dia de ataques criminosos ao RN, no último dia 14. Na quarta-feira (15), os ônibus foram novamente recolhidos após tentativa de oferta do serviço, em decorrência de mais ataques ao sistema. Com o retorno gradual, a STTU ampliou, nesta segunda-feira (20), o número de veículos para 60 ônibus e 23 linhas. No domingo (19), eram 47 veículos e 13 linhas.
Nesta terça, o sistema de trens urbanos volta a operar com grade horária emergencial. Segundo a CBTU, serão 12 viagens diárias, sendo seis para o Ramal Norte (Natal/Ceará-Mirim) e seis para o Ramal Sul (Natal/São José de Mipibu) das 6h24 às 17h.
Transtornos
Apesar da diminuição do número de ataques no Estado, a limitação dos serviços básicos ainda causou dificuldades à população nesta segunda. Pontos de ônibus nas principais avenidas da cidade ficaram lotados nas primeiras horas da manhã e as pessoas tiveram dificuldade para se locomover na capital. Nas ruas da cidade, o lixo de acumula e feirantes reclamam. O comércio do centro da cidade e feiras livres desta manhã funcionaram em sua normalidade ontem.
“A gente veio das Rocas até o Onofre Lopes a pé porque não tinha ônibus, subindo ladeira”, comenta a dona de casa Lindalva Maria Brás da Silva, 61. Ela e o marido estavam na avenida Rio Branco, Cidade Alta, por volta das 10h e já esperavam um ônibus há cerca de 1h. A manhã do dois foi longa. Depois que chegaram ao Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), ainda precisaram se descolar para o centro também a pé. “Depois ainda viemos do Onofre para cá para esperar qualquer um que vá para as Rocas”, complementa a dona de casa.
O problema ainda se agrava porque Nilton Carlos Brás da Silva, 57, tem artrose no joelho, uma prótese no fêmur e aguarda um cirurgia. Por isso a viagem ao hospital, que precisou ser feita a pé, na companhia da esposa e com auxílio de uma moleta. Ele trabalhava na rede hoteleira da capital potiguar, mas precisou se afastar do trabalho por causa de questões de saúde. “Eu tenho uma prótese no fêmur e tenho artrose no joelho”, diz Nilton.
Apenas 23 linhas e 60 veículos ficaram em operação na segunda-feira (20). Pessoas esperaram por horas em diversos pontos. Em locais com maior movimentação, como o Via Direta, nas proximidades do Natal Shopping e na Zona Norte, também foi possível ver uma grande quantidade de pessoas a espera do transporte público.
Acúmulo de lixo nas ruas atrapalha feiras em Natal
Enquanto isso, a população sofre com o acumulo de lixo e o mau cheiro pelas ruas de uma das principais capitais turísticas do Nordeste do País.
Nos arredores da feira livre das Rocas, o lixo se acumula enquanto as pessoas tentam driblar os montantes que se formam. “O lixo comendo solto. Eu perdi muito cliente pelo fato de termos que trabalhar com o lixo cheio de tapuru”, comenta o feirante John Lennon, 39. O problema se arrasta desde que a coleta foi suspensa, na terça-feira (14).
Sandra Ferreira, 47, precisou pagar R$ 20 para retirarem o lixo de perto dos seus produtos. “Os feirantes que tiveram que pagar para tirarem o lixo de perto da banca, porque a coleta não está passando. Eu mesma paguei”, relata. Para ela, a situação é lamentável, um reflexo da falta de segurança nas ruas. “Chegar numa situação dessa, não ter segurança, o lixo se amontoando”, completa.
Além de todo problema com lixo, a prefeitura reduziu a estrutura das feiras no fim de semana por conta dos ataques, o que obrigou os feirantes a trabalharem debaixo de chuva na feira do Alecrim, Patrimônio Imaterial do RN. Muitos deles perderam mercadoria. “Muita gente perdeu. Eu perdi duas caixas de melão. A do sábado, como teve uma chuva muito pesada muita gente não foi, a do Alecrim”, relata John Lennon.
“Foi uma situação muito crítica. Se eu soubesse que não iam colocar as tendas, eu não teria comprado minha mercadoria”, complementa Sandra. Ela mostra os vídeos que fez durante as chuvas os quais mostram o lixo se arrastando e as pessoas dentro da água, tendo que salvar o que pudesse. Frutas, legumes e temperos foram perdidos. “Deu um desperdício de mercadoria. Eu vim conseguir arrumar minha mercadoria as 8h, perdi 3h de feira. O prejuízo fica para a gente que somos pequenos”, finaliza.
Depois de levar chuva durante a manhã do sábado, Jadla Amara, 26, ficou doente e não conseguiu trabalhar no domingo. “A falta de respeito com o trabalhador. O Estado está à mercê da criminalidade. Eu estava boa e aí com a chuva, o sol e mormaço, comecei a me sentir mal”, diz. Ela sentiu febre e ainda perdeu produtos que foram levados pela água.
Comércio volta a funcionar com baixa movimentação
No Alecrim, o comércio abriu, mas a movimentação ainda estava abaixo do esperado pelos comerciantes locais. Algumas pessoas ainda sentem medo de sair de casa, mas não obrigadas pelas responsabilidades com o trabalho. “O negócio está complicado. Hoje parece que vai voltar, mas estamos com uma semana aí, parado. Parado e com medo”, diz o comerciante Francisco Rodrigues, 66.
De acordo com ele, o principal problema é a limitação nos ônibus. “O problema é ônibus que é pouco. Se não tiver ônibus não funciona. Você vê, olhe, tá paradinho”, completa. Para uma outra comerciante, Jane Rocha, 41, as vendas continuam baixas. “Não tem dinheiro, né. As pessoas ainda estão com medo, não tem ônibus. Se eu fosse dar um número, diria que ainda estamos em 30%”, diz.
Uma autônoma que preferiu não ser identificada diz que se sente mais tranquila, mas viveu dias de pânico. “De ontem para hoje eu me senti mais tranquila e hoje, mais segura em relação a semana passada, mas houve muito pânico, dias muito tensos”, relata.
De acordo com a mais recente divulgação da Polícia Civil do RN, a redução no número de ocorrências chega a 85% em todo o Estado. No primeiro dia, foram registrados 104 ataques, já no sábado (18), apenas 15. Ainda segundo o órgão, as forças de segurança pública que atuam no RN somam mais de 10 mil homens e mulheres.
