Em franca expansão, o setor de coworkings apresentou crescimento de 99,4% em todo o Brasil nos últimos quatro anos. Também conhecidos como escritórios flexíveis, esses espaços oferecem a empresas e profissionais autônomos inúmeras vantagens, como a reunião de todos os serviços necessários para o funcionamento de um negócio em um único fornecedor. A pandemia de covid-19 ajudou a acelerar o mercado brasileiro, que passou de 1.497 coworkings em 2019 para 2.986 no passado. Os dados são do Censo Woba, que mapeou 40 escritórios flexíveis no Rio Grande do Norte em 2023 – a maioria, 73,5% – localizados em Natal.
Para se ter uma ideia da expansão no País, entre 2019 e 2022, o segmento teve um crescimento anual de 17,7%. Já entre 2022 e 2023, a alta foi de 22,2%. O faturamento médio anual das empresas aumentou 11% – saiu de R$ 305 mil em 2022, para R$ 338 mil no ano passado. De acordo com a Woba, em 2023 o setor faturou mais de R$ 1 bilhão no Brasil. Nos escritórios flexíveis de Natal consultados pela reportagem, o faturamento é superior a R$ 1 milhão ao ano.
De acordo com as fontes ouvidas, o mercado potiguar sofreu reveses com os impactos da pandemia de covid-19, ao contrário de grandes centros, que alavancaram o modelo durante a crise sanitária. “Em Natal, tivemos uma mudança de perfil de consumo com a pandemia”, diz Erivan Alves, um dos diretores da Natal Virtual Office (NVO), um coworking com mais de 300 clientes e que está no mercado local há 14 anos.
“Enquanto em São Paulo as multinacionais entregaram as estruturas onde atuavam e migaram para os coworkings, aqui essas empresas colocaram todo mundo para trabalhar em casa e deixaram de nos procurar”, completa Alves, ao lado da esposa, Camila Macedo, também diretora da NVO. Os dois afirmam, no entanto, que o cenário local tem apresentado tendência de retomada ao período pré-pandêmico. “Hoje, a gente vê muitas grandes empresas buscando retomar, com contratos de salas privativas e procura por orçamentos, o que não era visto até o primeiro semestre do ano passado”, comenta Alves.
O otimismo em torno do mercado no RN tem atraído investimentos para a capital. A Elephant Coworking, empresa cearense fundada em 2010, inaugurou, no último dia 4 de julho, a primeira unidade em Natal. A estrutura é composta por oito estações de trabalho, 11 salas privativas, sala de reunião e espaço para evento, com gestão digital de correspondências e suporte administrativo. “A gente entende Natal como um destino que reflete o futuro do trabalho que as pessoas e as empresas têm procurado”, pontua Igor Juaçaba, sócio da Elephant.
Setor deve crescer até 2025 a uma taxa de 17,5% ano
De acordo com Marco Crespo, COO da Woba, até 2029, a expectativa é de que o setor continue crescendo a uma taxa de 17,5% ao ano. A Woba é uma plataforma que oferece convênio para escritórios compartilhados no Brasil e no exterior. Quem atua no Rio Grande do Norte compartilha do mesmo otimismo e vai além. “Nosso modelo é escalável, portanto, não temos limites para crescer”, diz Erivan Alves, da NVO.
Ele, a esposa Camila e a cunhada Carolina Macedo, fundaram a NVO quando ainda nem se falava em coworkings no Estado, pelo menos, não no modelo que se conhece hoje. “Os três tínhamos concluído o curso de Direito e buscávamos um local para atender. Como estávamos começando do zero, era muito caro pagar por uma estrutura sem ter clientes. Um amigo do meu pai sugeriu um escritório virtual, mas não encontramos nada na cidade. Foi aí que surgiu a ideia de montar um. Fomos crescendo e tivemos que mudar para cá, um prédio empresarial na zona Sul da cidade”, detalha Camila.
A NVO ocupa dois andares do prédio empresarial, com salas fixas, lounge e terraço – chamado na empresa de área de descompressão – um espaço para repouso. “Tem gente que traz a rede para descansar na hora do almoço”, conta Erivan Alves. O faturamento da empresa gira em torno de R$ 1 milhão ao ano, com a oferta de variados serviços – desde aqueles de apoio administrativo, como endereço fiscal para abertura de empresa e secretária – a outros como impressão, sala de reunião e estação de trabalho. O tíquete médio dos serviços é de R$ 2 mil.
No Seahub, outro coworking já tradicional da capital potiguar, os serviços custam a partir de R$ 110. “A gente entrega toda uma jornada para resolver as dores das pessoas e das empresas. Isso inclui o serviço de endereço fiscal, o aluguel de uma sala de reunião, salas fixas e vários outros, em três unidades espalhadas pela zona Sul de Natal. Nesses sete anos de operação, temos 800 clientes na nossa base e um faturamento anual de R$ 2,4 milhões”, afirma Guilherme Oliveira, fundador do Seahub.
Com as boas perspectivas em torno do mercado do RN, a ideia é abrir mais uma unidade ainda este ano na capital. “Nós temos acreditado que dá para ir mais longe”, sublinha Oliveira. Já para Isaías Filho, gerente de comunidade da Elephant, o mercado de coworkings em Natal vive uma virada de chave após a pandemia. “As pessoas passaram muito tempo em home office e não querem mais isso. Elas começaram a procurar um local para trabalhar onde pudessem também trocar conhecimento. Aqui na Elephant, temos uma ocupação de 30% das nossas salas, apesar de nossa instalação ser recente”, fala.
Modelo gera ambiente colaborativo
A possibilidade de trocar ideias e gerar negócios em um ambiente com senso de comunidade são algumas das vantagens de um coworking. O modelo tal como se conhece hoje surgiu em 2005, nos Estados Unidos e consiste em proporcionar um ambiente de escritório colaborativo, com espaços compartilhados. “Um coworking é muito mais do que paredes, mesas e cadeiras. O que deve existir é uma economia colaborativa e sustentável, onde as pessoas se ajudam”, frisa Isaías Filho, da Elephant.
O modelo tem se destacado entre profissionais nômades, que aproveitam para conhecer novos destinos sem precisar deixar o trabalho de lado. O gaúcho Matheus Jacques, de 32 anos, começou a explorar o litoral do Nordeste há dois meses. Ele, que atua como freelancer em consultorias de TI e Inteligência Artificial, já havia experimentado o formato em 2018, na Alemanha. “Os coworkings me proporcionam um melhor rendimento do que se eu estivesse em casa, porque consigo focar totalmente no trabalho”, diz Jacques, que ficou três dias na Elephant antes de embarcar para Minas Gerais.
“Temos notado um interesse muito grande de pessoas que estão nos hotéis aqui da orla”, comenta Isaías Filho. Adaptar-se às necessidades do cliente com foco no senso de comunidade estão entre os segredos para atrair negócios. “A comunidade em si é o grande diferencial do setor. Nós, por exemplo, temos uma pessoa focada somente em fazer conexões”, cita Guilherme Oliveira, do Seahub. “Acho que o fundamental é apostar nas pessoas, do fornecedor ao cliente. A gente precisa oferecer acolhimento para que elas produzam mais e melhor”, atesta Camila Macedo, do NVO.
Esses diferenciais, claro, devem se somar a outros, segundo avalia Marco Crespo, COO da Woba. “Os escritórios tradicionais possuem amarras contratuais complexas e de longo prazo, além da necessidade da contratação de fornecedores terceiros para a realização da manutenção e organização de serviços básicos. Então, os coworkings trazem velocidade e facilidade para a expansão da empresa”, diz ele.
Bate-papo Marcelo Crespo, COO da Woba
O que são coworkings?
São locais que oferecem, além dos espaços compartilhados e das salas de reunião, ambientes para realização de eventos e escritórios privativos (podendo ser uma sala individual ou um andar inteiro de um prédio). Os clientes podem ter acesso a um espaço mais tradicional (com baias e salas monocromáticas) ao mais descolado possível.
O que justifica a expansão dos últimos anos?
Depois da pandemia, muitas empresas devolveram seus espaços ou trocaram por menores. Com a crescente volta ao presencial, os escritórios flexíveis são a solução perfeita para que as empresas não tenham mais a insegurança de contratar um escritório. Além disso, esse modelo está se expandindo para além das grandes cidades e países desenvolvidos.
É um mercado que continuará a crescer?
Sem dúvidas. Hoje, já são 2.986 espaços desse tipo no país, onde 58,5% deles estão em locais consideradas centros de inovação e negócios, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. E a expectativa é que nos próximos cinco anos, o setor continue crescendo em uma taxa de 17,5% ao ano.