Óculos que detectam glaucoma devem entrar no mercado em 2018

Usando óculos de realidade virtual, uma equipe de pesquisadores liderada por um brasileiro nos Estados Unidos obteve bons resultados com um dispositivo para detectar o glaucoma, principal causa de cegueira no mundo, atingindo hoje em torno de 1 milhão de pessoas no Brasil. Segundo os desenvolvedores dessa nova técnica, ela tem uma precisão igual ou melhor do que os métodos atuais de diagnóstico; potencial de custar dez vezes menos; e as vantagens de ser um exame portátil e menos enfadonho para o paciente. Até agora, os testes foram feitos somente nos EUA, mas, ao longo deste ano, serão realizados estudos multicêntricos — um dos centros será o Brasil — e a previsão é de que uma versão comercializável desses óculos esteja disponível até o final de 2018.

No experimentos realizados desde 2014, quando o aparelho começou a ser elaborado, foram registrados níveis de detecção da doença tão bons ou melhores do que os obtidos pela tomografia e pelo teste de campo visual, os dois exames amplamente utilizados hoje em dia para esse tipo de diagnóstico. Mas o mais animador é que os óculos prometem ser muito mais baratos e permitir que os pacientes realizem o exame até em casa, ampliando o acesso.

O idealizador do método, Felipe Medeiros, que é professor e diretor de pesquisa do Departamento de Oftalmologia da Universidade Duke, nos EUA, explica que somente depois de concluídos todos os estudos necessários será possível estabelecer um preço. Mas ele ressalta que manter esses óculos a um baixo custo é um dos principais objetivos, para que ele possa chegar a muitas pessoas. As informações são de O Globo.

— Nossa ideia é que (o aparelho) seja barato justamente para que possa ser levado a lugares de difícil acesso, como o interior do Brasil. Mas ainda não tenho preço porque isso ainda vai depender de alguns estudos e de parcerias. O que posso dizer é que ele deve custar dez vezes menos do que o aparelho usado no teste de campo visual, que nos EUA custa US$ 20 mil, o correspondente a mais ou menos R$ 70 mil — conta Medeiros, que é também membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). — É sabido que entre 80% e 90% das pessoas com glaucoma no Brasil não sabem que têm a doença. E, quando os sintomas começam a se manifestar, é rápida a evolução para a cegueira. Por isso é importante diagnosticar antes dos sintomas. Com os óculos, a ideia é conseguir chegar a mais pessoas e aumentar o número de pacientes diagnosticados.

No protótipo testado atualmente, os pesquisadores instalaram na parte superior dos óculos um sensor de eletroencefalograma e um aparelho de bluetooth e de wi-fi. É a partir daí que os dados coletados pelo dispositivo vão diretamente para o tablet ou computador do médico.

Ao usar os óculos, a pessoa precisa olhar para uma região central na qual há vários pontos que piscam e coletam informações sobre os olhos. Nos momentos em que o paciente desvia o olhar, esse movimento é desconsiderado. Esta é mais uma diferença entre esses óculos e o exame mais comum para o diagnóstico do glaucoma: no teste de campo visual, qualquer desvio dos olhos pode invalidar os resultados. A parte “chata” da história é que, para examinar cada olho, os pacientes precisam mirar um ponto fixo por entre 5 e 10 minutos.

— As pessoas que fazem o teste de campo visual costumam reclamar que é muito chato. E elas têm razão — diz Fábio Daga, doutorando pela Universidade Duke e pela Universidade de São Paulo (USP) que está envolvido na pesquisa. — Nosso objetivo é que a experiência com o exame seja a melhor possível, para que ninguém queira fugir dele. Nós já temos, finalizado, um protótipo de óculos em que o paciente pode jogar Candy Crush enquanto faz o exame, por exemplo.

PROGRESSÃO DA DOENÇA

Daga enfatiza que, para uma pessoa procurar algum exame que investigue a possibilidade de glaucoma, não deve-se esperar os sintomas. Basta haver qualquer aumento da pressão intraocular, que é o principal fator de risco para a doença. Além disso, são pacientes de risco os negros, que têm maior propensão para ter pressão alta, pessoas com mais de 35 anos e os diabéticos. O histórico familiar também conta: cerca de 6% das pessoas com glaucoma já tiveram outro caso na família.

Pelos testes feitos até o momento — que renderam, aliás, um artigo publicado na prestigiada revista “JAMA Oftalmology” —, os pesquisadores conseguiram validar a precisão diagnóstica, mas não sabem ainda se o novo teste também é capaz de identificar a progressão do glaucoma. Isso seria bastante útil para saber se o paciente está piorando ou não, a partir de exames com os óculos ao longo de um ano, por exemplo.

Se os óculos conseguirem detectar isso, poderão ser usados no acompanhamento da doença.

— Testes sobre a acuidade visual serão realizados ao longo de 2018, para verificarmos se a progressão é identificada — diz Medeiros.

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