Para executivo da Odebrecht, ‘Lula, filho do Brasil’ era ‘um tipo de louvação maléfico’

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Em agosto de 2008, em meio à discussão sobre a maneira em que a Odebrecht iria contribuir com o financiamento do filme ‘Lula, o filho do Brasil’, um dos executivos do grupo expôs sua opinião a respeito do longa. Para o então responsável pela comunicação da empresa, Marcos Wilson, a cinebiografia do ex-presidente Lula era ‘um tipo de louvação maléfico’ e poderia se tornar ‘um tiro no pé’ do petista.

Entre os executivos da Odebrecht, Lula era o ‘nosso cliente’. Marcelo Odebrecht confirmou o ‘codinome’ em depoimento à Polícia Federal em 11 de dezembro. O empreiteiro falou ao delegado Filipe Hille Pace em meio à investigação da Operação Lava Jato sobre o financiamento do filme.

A cinebiografia do petista estreou em 1.º de janeiro de 2010 e custou cerca de R$ 12 milhões. Participaram do financiamento de ‘Lula, o filho do Brasil’, além da Odebrecht, as empreiteiras OAS e Camargo Corrêa. As informações são de  Julia Affonso e Ricardo Brandt  – O Estado de são Paulo.

Marcelo Odebrecht foi chamado a depor após a Lava Jato resgatar e-mails de seu computador. O equipamento estava protegido por uma senha desde a prisão do executivo, em 19 de junho de 2015. Recentemente, o conteúdo foi desbloqueado.

No depoimento, o empreiteiro relatou à PF a quem se referiam os codinomes citados em e-mails trocados pelos executivos do grupo e que tratavam do ‘apoio’ ao filme.

Além do ‘nosso cliente’, o executivo apontou que ‘seminarista’ e ‘seminário’ se referiam ao ex-ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência – 2011/2015 – Governo Dilma), ‘italiano’ era o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil/Fazenda – Governos Lula e Dilma) e ‘amigo de seu pai’ era uma referência a Lula.

Segundo o empreiteiro, a expressão ‘amigo de Alexandrino’ também estava ligada a Gilberto Carvalho.

As mensagens resgatadas foram escritas entre 7 de julho de 2008 e 12 de novembro daquele ano. Nos e-mails são citados ‘PN’, Pedro Novis, e ‘AA’, Alexandrino Alencar, então dirigentes do grupo e hoje delatores da Lava Jato.

O primeiro e-mail identificado pelos investigadores indica que Marcelo Odebrecht havia sugerido abrir um fundo para financiar o filme. Na mensagem, o responsável pela comunicação do grupo informa ao empreiteiro que os realizadores não aceitaram o fundo, ‘porque a maioria das empresas que se dispôs a apoiar querem mesmo é aparecer’.

“O amigo de seu pai, por sua vez, não admite usar qualquer lei de incentivo fiscal. Se houver interesse estratégico, encontraremos uma forma de atender à demanda sem que nosso nome seja mencionado. Sugeri ao Pedro que AA conduzisse este programa porque quem está à frente do projeto do filme é o seminarista”, escreveu o executivo a Marcelo.

Uma hora depois, o empreiteiro respondeu. “De minha parte o que vocês definirem está ok. Minha opinião seria se colocar à disposição do seminarista para uma cota se necessário for para fechar eventual buraco, mas que o ideal seria estarmos fora para não levantar questionamentos (vide reforma Alvorada). PN: já falou com meu pai?”, questionou Marcelo Odebrecht.

Em menos de 10 minutos, Pedro Novis escreveu. “Marcelo, vou falar com seu pai. De minha parte estou de acordo com a sugestão”, anotou. “Alex chega de férias dia 14 e conversa com o seminarista para fazer a contribuição de modo a não aparecermos.”

Neste período, Odebrecht ainda não era o presidente do grupo. O cargo era ocupado por Pedro Novis.

No dia 1 de agosto de 2008, o então responsável pela comunicação da Odebrecht escreveu um longo e-mail aos colegas. Na lista de destinatários estavam Marcelo Odebrecht, Pedro Novis, Alexandrino Alencar e outros dois. O executivo relatou ‘uma demanda de um milhão de reais para apoiar o filme de interesse do nosso cliente e cujo projeto está sendo coordenado pelo amigo do Alexandrino’.

“A proposta feita por MBO (Marcelo Bahia Odebrecht) de formar um fundo para atender ao pedido tornou-se inviável porque os outros doadores fazem questão de aparecer ao contrário de nossa posição”, escreveu o executivo.

“Minha posição: embora seja um desejo do cliente e que já anda bem adiantado (o filme tem as características dos Filhos de Francisco), acho que este tipo de louvação maléfico e poderá vir a ser um tiro no próprio pé do cliente.”

Naquele mesmo dia, Odebrecht respondeu à mensagem. “Minha opinião é que AA construa com o seminário para só participarmos se houver falta da recursos (o que não deve ser o caso).”

O responsável pela comunicação, então, retorna. “Nosso apoio será de 750 mil e não apareceremos.”

Na última mensagem apreendida pela Polícia Federal, de 12 de novembro de 2008, Marcelo Odebrecht escreveu aos executivos do grupo sobre ‘pontos para agenda com seminário’. O quinto se refere a ‘Lula, filho do Brasil’.

“5) O italiano me perguntou sobre como anda nosso apoio ao filme de Lula, comentei nossa opinião (com a qual concorda) e disse que AA tinha acertado a mesma com o seminarista, mas adiantei que se tivermos nos comprometido com algo, seria sem aparecer o nosso nome. Parece que ele vai coordenar/apoiar a captação de recursos”, afirmou.

O filme conta a história de Lula, desde a infância dramática no sertão de Pernambuco, aborda sua chegada a São Paulo no pau de arara, as dificuldades que enfrentou ao lado da família, o trabalho na indústria metalúrgica, as históricas campanhas grevistas dos anos 1970 que marcaram o ABC paulista e a ascensão ao topo do sindicato que o consagrou e impulsionou sua trajetória política.

‘Lula, o filho do Brasil’ é uma biografia baseada no livro homônimo da jornalista Denise Paraná.

“A história é uma superação das perdas”, disse, na época das gravações, o cineasta Fábio Barreto. “Meu trabalho é o de humanizar o mito vivo que é o Lula, só não vamos entrar na fase política.”

Lula já foi condenado na Lava Jato. Em julho do ano passado, o juiz federal Sérgio Moro impôs nove anos e seis meses de prisão ao petista por corrupção e lavagem de dinheiro no caso tríplex.

A sentença será analisada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, a Corte de apelação da Lava Jato, no dia 24 de janeiro. Lula ainda é réu em mais duas ações penais perante o juiz Moro, uma relativa a supostas propinas da Odebrecht e outra ligada ao sítio de Atibaia (SP).

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

“A Odebrecht está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”.

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