Em cada 10 brasileiros, 9 acreditam que existe preconceito contra os mais velhos, e 6 dizem que ele é grande.
Apesar disso, só 31% dos acima de 60 anos já se sentiram discriminados por causa da sua idade. É pouco mais que os 26% da faixa mais nova que diz já ter sofrido preconceito por ser jovem.
A principal queixa dos mais velhos é falta de respeito: para 12% houve falta de respeito em geral, com apelidos, deboche e xingamentos.
Além da falta de respeito, os velhos tendem a ser vistos como menos relevantes pelos mais novos, e até como uma ameaça, diz o embaixador Marcos Castrioto de Azambuja, 82. Ele elenca três causas:
1) Antigamente, a velhice era uma raridade, tinha certo valor por escassez. Com o número de idosos crescendo cada vez mais, há perda de prestígio. As informações são da Folha de São Paulo.
2) Pela primeira vez, não são os velhos que ensinam aos moços. Em ciência, tecnologia, informática, ferramentas do nosso tempo, o velho é por definição menos competente. Perdeu status.
3) Pela longevidade, os velhos pressionaram o sistema previdenciário, bancado pelos mais novos. Em vez de raridade a ser preservada, a velhice é apenas um peso, um fardo, sem a antiga compensação de ser também repositório de experiência.
“Antes, a bagagem era suficiente. Agora é preciso encontrar uma justificativa para continuar aqui dando despesa”, provoca Azambuja.
O filósofo Luiz Felipe Pondé acrescenta que o mundo contemporâneo também não vê mais os ancestrais como narradores da vida.
“Os antigos atravessavam as eras em um continuum de experiência que lhes permitia avaliar o mundo do alto de seus 70 ou 80 anos. Hoje, as questões mudam tão rapidamente, são superadas, e com isso o idoso perde esse valor.”
“E a velhice não encontrou ainda atividades que recuperem o seu prestígio”, diz o embaixador Azambuja.
Algumas delas, sugere ele, são o serviço público, o serviço social ou causas como a proteção à natureza: “Os velhos precisam se reinventar”.
O Datafolha mostra, porém, que valores positivos são atribuídos mais a idosos que a jovens. São eles os mais tolerantes, carinhosos e corajosos para a maioria dos brasileiros. São vistos também como mais produtivos, responsáveis, educados, atenciosos, dedicados, éticos e preparados para o trabalho, politizados, honestos e solidários.