Por R$ 40 mil, consultora que treinou Lula, Dilma e Aécio trabalha com Haddad

Olga Curado (dir.) acompanha Haddad em agenda de campanha no dia 4 de setembro

A produção libera o acesso ao palco do estúdio e, assim como integrantes de equipes dos outros candidatos, a consultora de imagem Olga Curado corre para o púlpito de Fernando Haddad (PT) nos intervalos do debate promovido por UOL, Folha e SBT, na quarta (26). Ajeita a gravata do petista e, com a mão em seu próprio queixo, parece indicar um pedido para que o candidato levante a cabeça.

A campanha do PT investiu R$ 40 mil, segundo dados entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na contratação de Olga. O acordo consta da prestação de contas apresentada pelo partido quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda era candidato à Presidência nas eleições deste ano.

Olga já trabalhou com outros candidatos, como Dilma Rousseff, Aécio Neves e o próprio Lula em eleições passadas. A consultora, que trabalhou durante décadas como jornalista, usa métodos do aikidô, arte marcial japonesa, em seus treinamentos sobre comunicação e imagem. Ana Carla Bermúdez, Bernardo Barbosa e Nathan Lopes – Do UOL, em São Paulo

Meses atrás, a consultora chegou a dizer em entrevistas que não trabalharia mais com políticos. Justificou o trabalho com Haddad dizendo em seu Facebook, no dia 1º de setembro, data em que iniciou seu trabalho na campanha, que havia “um legado de inclusão no país a ser reconquistado”.

Haddad, na época, ainda era o vice na chapa encabeçada por Lula. Olga logo se integrou a uma caravana do ex-prefeito de São Paulo pelo Nordeste.

Ela também acompanhou o ato realizado em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba, poucos dias depois, quando o PT oficializou Haddad no lugar de Lula.

No debate desta quarta, Olga fez parte do “córner” de três pessoas a que os candidatos tinham direito a consultar nos intervalos do debate junto com Emídio de Souza, secretário de Finanças do PT e espécie de braço direito de Haddad, e Otávio Antunes, que comanda a comunicação da campanha.

A consultora tem sido presença frequente em atos de campanha de Haddad nas ruas de cidades pelo Brasil. No dia 19 de setembro, a reportagem acompanhou o trabalho de Olga em agendas de Haddad na capital e na região metropolitana de São Paulo. Enquanto o candidato está em ação na agenda, ela observa atentamente, de longe. As orientações e dicas são passadas em privado.

Ela também acompanha as rápidas entrevistas que Haddad concede a jornalistas durante as agendas de campanha. Quando já acha suficiente o tempo de conversa com a imprensa, ela costuma pedir, junto com assessores do candidato, para que a entrevista seja encerrada.

Olga não quis conceder entrevistas. O UOL a abordou pessoalmente em duas oportunidades ao longo de uma semana. A mera menção de um pedido de entrevista a faz sair rapidamente.

“Eu não sou fonte”, limitou-se a dizer em uma das vezes. Perguntada por qual motivo foi contratada pela campanha, Olga não respondeu. Como se não tivesse ouvido, apenas saiu caminhando.

Uma fonte próxima a Haddad diz que, com o trabalho de Olga, tem notado diferenças na fala do candidato, que agora está mais “objetiva” e menos “professoral”. Ao longo de sua trajetória política, Haddad, que é professor, foi alvo de críticas por ter um discurso considerado muito acadêmico. 

“Treinar para cair”

“Nossos movimentos traduzem o que carregamos dentro de nós”. A frase, narrada pela própria Olga, dá início a um vídeo, publicado em seu site, que mistura detalhes de gestos variados, como o carinho de uma mão sobre a outra, com cenas em que a consultora aparece praticando o aikidô.

Olga é faixa preta na arte marcial, que foi criada por Morihei  Ueshiba, no Japão, por volta de 1930. O aikidô é conhecido por seus princípios de não violência e tem entre seus objetivos o equilíbrio do corpo com a mente.

Haddad, por outro lado, é faixa preta em uma arte marcial de origem coreana: o taekwondo, esporte em que o combate pode ser feito através de chutes e socos. 

Mas, ao contrário do que acontece no taekwondo, os praticantes do aikidô não competem entre si. Movimentos de rotação e esquiva compõem as simulações de ataque e defesa. O objetivo, aqui, é neutralizar o oponente utilizando de sua própria força.

Praticantes do aikidô aprendem a cair sem se machucar. No vídeo, Olga aparece rolando no tatame para logo se levantar, se recompor e continuar o combate.

“Podemos escolher o caminho para fortalecer nossos passos. Treinar para receber, para cair, para reconhecer que não há poder absoluto, que nada é definitivo”, narra a voz da consultora.

Em seu site, Olga diz trabalhar com pessoas e organizações, ajudando-as a se posicionar e a comunicar “nas mais variadas situações”. A consultora também apresenta um índice criado por ela, batizado de iVGR (Índice de Valor, Gestão e Relacionamento).

“Qual é o seu mais valioso patrimônio? A sua imagem”, narra a voz de Olga em mais um vídeo. O índice promete fazer uma medição de imagem, analisando o que é dito a respeito de uma pessoa ou empresa, além de capturar os “primeiros sinais” de uma eventual perda de imagem.

Chave de braço em Lula e mudança de imagem para Dilma

Olga foi contratada para treinar Lula em 2006, quando o petista buscava a reeleição e enfrentou um segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB). Deu uma chave de braço no ex-presidente, tentando enforcá-lo, como forma de preparação para um debate. O petista saiu vitorioso da disputa contra o tucano naquele ano.

Em 2010, foi a vez de Dilma recorrer aos treinos comandados por Olga. Naquele ano, a petista buscava se desvencilhar de sua imagem como ministra da Casa Civil –de que seria uma pessoa excessivamente rígida, com temperamento difícil.

Orientada por Olga, Dilma mudou sua postura e passou a se apresentar de forma mais confiante e carismática. Também venceu as eleições naquele ano.

Em 2014, no entanto, Dilma dispensou os treinamentos do aikidô de Olga, que acabou sendo contratada por seu adversário Aécio. Na campanha, Dilma bateu principalmente em Marina Silva (então no PV), sua principal rival em um primeiro momento.

O senador foi crescendo nas pesquisas ao longo do período eleitoral e chegou a disputar um acirrado segundo turno contra Dilma –que o derrotou por 51,64% dos votos contra 48,36%, com uma diferença de apenas 3,4 milhões de votos.

Em 2016, Jair Bolsonaro (PSL) procurou os serviços de Olga para melhorar sua comunicação. Na lista de ex-clientes da consultora, figuram ainda nomes como o do apresentador Gugu Liberato, o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e os ex-ministros Márcio Thomaz Bastos e Luiz Gushiken.

Olga também atendeu empresas como a TAM, em 2007, após um acidente com um avião da companhia no aeroporto de Congonhas, e a Eletropaulo, que em seu site diz utilizar até hoje o iVGR, criado pela consultora.

Em sua carreira como jornalista, Olga passou pelo Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e pelo grupo Globo.

Em 1978, durante a ditadura militar, foi Olga quem conseguiu dois “furos” (isto é, declarações exclusivas): do general João Baptista de Oliveira Figueiredo, que afirmou que o cheiro de cavalo era melhor do que o cheiro de povo, e de Delfim Netto, então ministro da Agricultura, que disse que iria encher a panela do pobre.

Na TV Globo, onde trabalhou por cerca de onze anos, foi editora de política de noticiários como o Jornal Nacional e o Jornal Hoje. Deixou a emissora em 1998, quando chefiava o escritório da Globo em Londres. Em 2001, iniciou os trabalhos de consultoria a políticos e empresários.

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