Pré-sal estimulou corrupção, afirma Palocci em depoimento

Antonio Palocci (front), former finance minister and presidential chief of staff in recent Workers Party (PT) governments, is escorted by federal police officers as he leaves the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, September 26, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer ORG XMIT: BRA103

O ex-ministro Antonio Palocci disse, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que o ex-presidente Lula sabia que diretores nomeados para a Petrobras estavam envolvidos em esquemas de corrupção envolvendo partidos políticos.

Ele afirmou ter conversado com Lula, em 2007, sobre o assunto. O ex-presidente teria demonstrado preocupação, mas depois estimulou o esquema, segundo o ex-ministro.

“Lula senta comigo e fala que tinha ouvido falar que a diretoria de serviços, a diretoria de abastecimento, a diretoria de internacional está tendo muita corrupção. É verdade? Eu falei pra ele: é verdade”, disse.

Lula, segundo Palocci, pensou em “tomar providências” porque “a coisa estava repercutindo de forma muito negativa”. Palocci diz que explicou ao ex-presidente que as diretorias estavam loteadas por partidos da base. As informações são de ANA LUIZA ALBUQUERQUE e WÁLTER NUNES, Folha de São Paulo.

“Eu falei: é aquilo que foi destinado para esses diretores, operar para o PT em um caso e para o PP no outro. E ele falou: você acha que isso está adequado? Eu falei: não, acho que isso está muito exagerado”, afirmou Palocci.

“Ele estava preocupado com isso, mas quando veio o pré-sal, aí vieram investimentos de todo tipo. Ele perdeu as preocupações e mais, ele até chegou a encomendar que os diretores a partir daí fizessem mais reservas partidárias.”

O ex-ministro disse que na estatal se estabeleceu um intenso financiamento partidário. “Essas diretorias foram nomeadas e ao longo do tempo se desenvolveu (repasses) através delas. Na de Serviços o PT, na Internacional o PMDB, na de Abastecimento o PP. Uma relação de intenso financiamento partidário, de políticos, pessoas, empresas.”

“O pré-sal pôs o governo numa atitude frenética em relação a Petrobras e esse assuntos de ilícitos de diretores ficaram para terceiro plano. As coisas continuaram correndo do jeito que era”, afirmou o ex-ministro.

Palocci disse que os diretores não foram nomeados para montar esquemas de corrupção na Petrobras, mas que os esquemas foram acontecendo aos poucos.

“Não acredito que houve um planejamento prévio com esses diretores acerca de ilícitos. Não acredito. Mas que logo começou a se estabelecer comportamentos de vantagens para empresas e pagamentos (de suborno), isso começou ocorrer logo.”

O ex-ministro também falou que partidos faziam pressão para indicar diretores da Petrobras e recordou uma ocasião em que o PMDB parou de votar com o governo até nomear Jorge Zelada para a Diretoria Internacional.

Um dos pontos da defesa do ex-presidente até o testemunho de Palocci era o de que a acusação não havia demonstrado a ligação do líder petista com negócios da estatal de petróleo.

O ex-ministro da Fazenda disse que, em meados de 2010, foi realizada uma reunião na biblioteca do Palácio da Alvorada com a presença dele, de Lula, do então presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e da então candidata à presidência da República, Dilma Rousseff.

Palocci afirmou que na ocasião Lula falou sobre a importância dos programas do pré-sal para o país e que os contratos de sondas dos projetos da estatal deveriam ajudar na arrecadação de recursos para o PT. “Foi a primeira vez que ele [Lula] falou dessa maneira tão direta”, declarou o depoente.

Segundo o ex-ministro, Lula disse a Gabrielli: “O Palocci está aqui porque ele vai lhe acompanhar nesse projeto para que ele tenha total sucesso e para que ele garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha desta companheira aqui, a Dilma, que eu quero ver eleita presidente do Brasil”.

“Ele [Lula] encomendou para o Gabrielli que através das sondas pagasse a campanha da presidente Dilma de 2010, obviamente pedindo às empresas os valores à campanha”, afirmou Palocci.

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