Presidenciáveis usam janela partidária para montar palanques

Além de alterar o tamanho das bancadas na Câmara, a abertura da janela para troca de partidos, na próxima quinta-feira, também servirá para os presidenciáveis acertarem os ponteiros de olho nas campanhas ao Planalto.

Dois grandes atos estão marcados para esta semana em Brasília, dando início ao processo eleitoral. Amanhã, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) assina sua ficha de filiação ao PSL, na Câmara, e deve carregar outro grupo de 10 a 15 deputados de vários partidos, principalmente da chamada “bancada da bala”, de acordo com a contabilidade de aliados.

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), usará a convenção nacional do partido, na quinta-feira, para lançar sua pré-candidatura e oficializar a adesão de mais uma leva de parlamentares, principalmente do PSB.

O ato de filiação de Bolsonaro estava anteriormente marcado para acontecer em um auditório de comissão do prédio da Câmara. Mas a previsão é que haverá um grande número de apoiadores e agora procuram um local maior. O deputado Delegado Waldir (GO), que deixará o PR para seguir junto com o presidenciável, diz que “vai ser um barulho bom”. A lista das adesões está sendo articulada pelo deputado delegado Fernando Francischini (PR), que deixará o SD para ser um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro. As informações são de Maria Lima / Débora Bergamasco / Silvia Amorim / Sérgio Roxo –  O Globo.

— São uns 15 deputados de vários partidos, mas o que mais vai perder é o PR. Se eu ficasse, teria de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões para minha campanha. Mas estou saindo para acompanhar o Bolsonaro mais pelo meu perfil. Sou de direita, tenho as mesmas convicções do Bolsonaro sobre armamento, imposto único, estado mínimo, somos defensores dos valores da família e da pátria — diz o delegado Waldir, que diz que no PSL não terá fundo milionário que teria no PR, mas na última eleição já foi eleito pelo voto de opinião e agora não será diferente.

PRESENÇA EM DEBATES

Com essa provável bancada gorda, Bolsonaro garante sua participação nos debates das rádios e emissoras de TV, já que a regra prevê que o presidenciável deverá ter o apoio de uma bancada de no mínimo cinco parlamentares, somando deputados e senadores.

O Democratas de Rodrigo Maia deve dar uma manifestação de força no lançamento de sua pré-candidatura. Já recebeu quatro deputados do PSB e deve filiar mais quatro da mesma legenda, além de Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), provável candidato ao governo de Minas.

— O Democratas está dando uma demonstração de força. Mas não dá para avaliar ainda a dimensão dessa força. Tem que esperar a convenção e a janela — diz o deputado Heráclito Fortes (PI), que sai do PSB para o DEM junto com outros deputados do Piauí, Mato Grosso, Piauí , Minas e Rio de Janeiro.

A grande força atrativa do DEM é mesmo o poder que Maia emana hoje estando na Presidência da Câmara. Alguns parlamentares ouvidos pelo Globo tentados a atravessar a janela e migrar para os Democratas admitem reservadamente que pesa a perspectiva de ganharem um “carinho” especial por estarem na mesma legenda do presidente da casa. Como por exemplo, ganhar relatorias, prioridades em projetos de lei de interesse ou de autoria do parlamentar, ajuda na pressão ao Palácio do Planalto para execução de emendas.

O presidente nacional do Democratas, senador José Agripino (RN), evita vincular o lançamento da pré-candidatura com as novas filiações previstas para os próximos dias.

— O Rodrigo e eu já vínhamos conversando com esses parlamentares há pelo menos seis meses. Não tem nada a ver com a pré-candidatura de Rodrigo. É a maturação de um trabalho que vem de bastante tempo — diz Agripino.

A candidatura presidencial de Maia só será mantida, porém, se ele conseguir decolar nas pesquisas de intenção de voto. Esta é a sua posição pessoal e também o que está combinado com o partido. Extraoficialmente, fala-se em chegar, no mínimo, a 7% até julho. Desde que seja observado viés de alta e a depender também de uma análise comparativa em relação a postulantes que concorrerão tanto na mesma seara ideológica quanto em posições opostas. Eles esperam o apoio do PP e do Solidariedade. Nas palavras de um dos articuladores, Maia será condutor de sua própria campanha, com todo respaldo do DEM, que lhe organizará agendas Brasil afora e fornecerá jatinho para concretizá-las.

— Ele é um nome relevante hoje na política e conseguiu se destacar avalizando as reformas. Agora ele lançará ideias e vai construir sua viabilidade eleitoral — diz o ministro da Educação, Mendonça Filho, do DEM.

A janela partidária, que vai até 7 de abril, também será importante para Marina Silva (Rede). O seu partido, com apenas três parlamentares por causa das saídas de Alessandro Molon e Aliel Machado para o PSB, tem que garantir a adesão de mais dois nomes para garantir a participação da ex-senadora nos debates. Segundo a legislação, todos os candidatos de legendas com pelo menos cinco congressistas têm participação obrigatória nos programas na televisão.

O período de troca de legendas é fundamental ainda para a definição dos palanques estaduais. Muitos parlamentares avaliarão as disputas regionais na hora de definir em que partido ingressar. Foi de olho no palanque tucano em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, que o governador de São Paulo e presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, desembarcou ontem no estado. A direção do partido estabeleceu um prazo para resolver o impasse em torno de uma candidatura do senador Antônio Anastasia ao governo em Minas. Se até o início de abril Anastasia continuar resistente em disputar a eleição, os tucanos passarão a trabalhar num plano B.

As alternativas hoje são apoiar o candidato a governador de uma outra legenda ou lançar candidatura própria. Neste caso, o postulante sairia da bancada de deputados federais. O assédio tucano sobre Anastasia acontece porque ele aparece hoje como o favorito nas pesquisas na corrida estadual e teria potencial de construir uma ampla coligação. O apelo para ele concorrer já foi feito pelo senador Aécio Neves e, no mês passado, por Alckmin, que teve uma primeira conversa com Anastasia para reafirmar a importância estratégica de uma candidatura dele ao governo para a campanha presidencial tucana. Por enquanto, Antônio Anastasia tem recusado a missão.

Minas é para Alckmin um ponto nevrálgico para sua campanha à Presidência. Ele depende do apoio de um candidato a governador forte e competitivo no estado para garantir uma boa vantagem de votos no Sudeste e compensar o baixo desempenho do PSDB no Nordeste. O PSDB de Minas passa pela maior crise da sua histórica, depois que seu principal líder, Aécio, foi flagrado numa gravação pedindo R$2 milhões ao empresário Joesley Batista em 2017.

Em outro movimento da pré-campanha, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, assinou ontem a sua ficha de filiação ao PSOL. Ele havia anunciado, no sábado, a sua intenção de disputar a Presidência. Boulos ainda terá que participar de uma prévia, mas tem apoio da corrente majoritária da legenda.

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