Rodrigo Maia está em campanha para reeleição em 2018

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da República em exercício com a viagem de Michel Temer à China, já colocou o bloco na rua para as eleições de 2018. Numa agenda abarrotada de viagens, o presidente da Câmara, que está de olho na reeleição, foi aconselhado por aliados próximos a aproveitar a chance de ocupar a cadeira mais importante do país por nove dias – cargo que ele devolve a Temer na próxima quarta-feira – e usar o cargo para se promover.

— Ele está em início de campanha mesmo, qual o problema? — questiona uma pessoa próxima a Maia, dizendo que a chance de assumir a Presidência seria aproveitada por qualquer um: — Como presidente em exercício, essa é a chance dele de viajar por aí. Ele está aproveitando, é o que 100% das pessoas fariam.

O périplo de Maia começou horas depois de assumir interinamente a Presidência, na última terça-feira: na manhã de quarta, reuniu pela primeira vez uma frente na Câmara exclusivamente para tratar de assuntos municipalistas. Em uma fala rápida a deputados e prefeitos, reconheceu a pauta difícil que a Casa enfrenta, mas se disse “pronto para pautar” projetos de interesse das prefeituras. As informações são de LETICIA FERNANDES E EDUARDO BARRETTO, O Globo.

Na linha que resolveu adotar de se distanciar de matérias polêmicas, resolvendo, por exemplo, não assinar nenhum projeto do Executivo que lhe gere ônus político enquanto estiver à frente do país (“isso é problema do Temer”, vociferou um aliado), o presidente interino ressaltou que a aprovação da reforma da Previdência, hoje o tema mais sensível para o governo, é “quase impossível”. Além disso, afirmou que tem grande afinidade com pleitos dos municípios por conta do pai, o ex-prefeito do Rio César Maia, que sonha com uma cadeira no Senado.

No mesmo dia, enquanto ministros e o presidente Michel Temer tentavam defender a polêmica decisão do governo de liberar uma área maior do que a Dinamarca para a exploração mineral na Amazônia, o deputado reconhecia que “talvez” o governo não tenha conseguido “avaliar o impacto” da medida.

Na tarde de quarta, Maia atacou novamente e surpreendeu assessores de Temer: apareceu de surpresa à Câmara dos Deputados para um evento em homenagem ao PCdoB, legenda que desempenhou papel fundamental em sua vitória para a presidência da Câmara, não sem antes ir ao plenário da Casa ser paparicado por deputados de diferentes colorações.

— Olha o Maia no plenário! Um presidente indo à Câmara assim. Nunca vi coisa igual —disse um experiente auxiliar do presidente Michel Temer, surpreendido com o gesto.

No dia seguinte, foi a vez de percorrer 2.300 quilômetros, em menos de oito horas, numa viagem de bate e volta ao Rio, seu berço eleitoral, para um dos eventos mais cobiçados por políticos: participar de um anúncio de investimentos e novas unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. A agenda, programada pelo ministro das Cidades, Bruno Araújo, foi uma oportunidade de ouro para o deputado que, em 2014, só recebeu 53.167 votos, o pior desempenho de sua carreira política – míseros 0,69% dos votos do estado.

Se tudo correr como previsto, Rodrigo Maia deverá devolver a Presidência a Temer tendo assinado o acordo de socorrro financeiro ao Rio de Janeiro, medida prevista para acontecer na próxima terça-feira, fechada depois de muito pressionar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Aliás, Maia vinha se queixando constantemente do fato de Temer não colocá-lo no papel de principal articulador do governo para assuntos fluminenses, a mais preciosa chance que o deputado tem de ganhar capital político num estado que respira por aparelhos.

Na sexta-feira, a maratona de viagens continuou e o presidente em exercício pôde, nas palavras de um parlamentar aliado, “juntar o útil ao agradável”: fez campanha no interior do Espírito Santo, participando de inauguração de trechos de rodovias nas cidades de Jaguaré e Linhares, e fez um gesto ao governador Paulo Hartung (PMDB), que flerta com o Democratas. Foram 2.888 quilômetros em pouco mais de sete horas. Ele saiu de Brasília rumo a Vitória, depois seguiu para Jaguaré, Linhares, retornou à capital capixaba e, mais tarde, voltou a Brasília.

— Ele expõe a instituição da Presidência da República com uma agenda tão pequena como essa, uma agenda de vereador — criticou um líder político local.

Hartung ensaia a ida para o DEM de Rodrigo Maia, que, como presidente da República interino, prestigia o governador e pode ajudar a pavimentar sua ida para o partido. O convite de Maia ao governador criou uma área de conflito com o PMDB de Michel temer, que também trabalha para crescer sua legenda para as eleições do ano que vem.

Na próxima segunda-feira, o presidente interino continua os planos de gastar sola de sapato e vai a São Paulo, terra de Temer, onde participa de um evento da revista Exame e deve voltar à capital em seguida. Mais 2 mil quilômetros num intervalo de poucas horas.

No fim de junho, por conta da viagem do presidente Michel Temer à Rússia e à Noruega, Rodrigo Maia ficou no Palácio do Planalto interinamente por quatro dias. A agenda não tinha viagens ou eventos grandiosos, ao contrário do que ocorre desta vez.

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