Se impedido, Lula diz que PT tem que ser capaz de se manter na disputa

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reiterou nesta quinta-feira que é pré-candidato à Presidência da República e afirmou que vai disputar a eleição de outubro “para ganhar”. No entanto, disse a militantes do PT e de movimentos sociais, que a pré-candidatura não pode depender apenas dele e que se for impedido de concorrer o partido deve manter-se na disputa.

“É importante que vocês tenham claro que não estamos jogando sozinhos. As pessoas com caneta com tinta vão tentar criar obstáculos. Espero que essa candidatura não dependa do Lula. [O PT] tem que ser capaz de fazê-la mesmo que aconteça alguma coisa indesejada”, disse. “Tem que colocar o povo em movimento. Temos arma poderosa, que é cobrar todo santo dia que apresentem prova do crime que cometi”, afirmou Lula.

O ex-presidente foi protagonista de um ato organizado pelo PT e por movimentos sociais na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na capital paulista, em defesa de sua candidatura presidencial, um dia depois de o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) ter mantido sua condenação e aumentado sua pena para 12 anos e 1 mês. As informações são de Valor Econômico.

 A uma plateia repleta de governadores, parlamentares e dirigentes do PT e de movimentos sociais, Lula teve sua candidatura presidencial reforçada pelo partido. “Dom Pedro criou o Dia do Fico e eu, o Dia do Aceito. Eu aceito ser candidato do partido”, afirmou, sob gritos de “Brasil, urgente, Lula presidente”. “Não quero ser candidato para me proteger. A minha proteção é a minha inocência. Se for candidato a presidente, não é para me inocentar, é para governar decentemente esse país.”

Lula pode ser impedido de disputar pela Lei da Ficha Limpa. O petista vai recorrer da decisão do TRF-4 ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal e deve tentar garantir a candidatura com recurso no Tribunal Superior Eleitoral.

‘Cartel’

Lula disse que os três desembargadores do TRF-4 formaram ontem um “cartel”, ao apresentarem votos semelhantes no julgamento que manteve sua condenação em segunda instância e aumentou sua pena. Segundo o ex-presidente, por trás do resultado unânime contra ele, por 3 votos a 0, e dos discursos semelhantes apresentados pelos magistrados, está a tentativa de acelerar o processo e impedir sua candidatura presidencial.

Ao participar de ato organizado pelo PT e movimentos sociais, em São Paulo, o ex-presidente acusou o corporativismo do Judiciário e disse que não aceita a decisão porque os magistrados não se comportaram como juízes, mas sim como “dirigentes partidários”.

“Me falam que eu não posso falar mal do Judiciário e eu não falei. Sempre que respeitarem a Constituição eu serei o mais respeitador do Poder Judiciário. Mas somente ontem eu compreendi o que é um cartel; precisa até mandar para o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)”, ironizou Lula. “Eles construíram um cartel para dar sentença unânime para evitar o tal do embargo infringente. Só pode ter sido isso, formaram cartel para tomar decisão para apressar a possibilidade de evitar que o PT tenha Lula candidato. Ou de evitar que a gente ganhe as eleições”, afirmou.

O ex-presidente disse ser um cidadão que acredita na Justiça, mas afirmou que o poder Judiciário, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a mídia formaram um cartel para tentar desqualificá-lo. “Eles estão usando o aparelho de Estado e instituições para fazer as coisas. Não precisa mais prender gente clandestinamente à noite; agora é feito através das instituições. Lula: É feito da forma mais inteligente, por um pacto entre Judiciário, mídia e instituições outras do Estado brasileiro”, disse.

Segundo o petista, a “votação de ontem foi mais para valorizar a categoria dos juízes, o corporativismo do que para julgar um crime”. “Não tenho nenhuma razão para aceitar a decisão de ontem. Quando as pessoas se comportam como juízes eu sempre respeitei, mas quando se comportam como dirigente de partido, realmente não posso respeitar”, afirmou, a uma plateia de militantes e simpatizantes. “Se eu respeitar essa decisão vou perder o respeito dos meus filhos, netos e de vocês. E eu não vou perder o respeito.”

Lula disse ainda que já esperava pelo resultado unânime e, por isso, “não sofreu tanto”. “Obviamente que não estou feliz, mas duvido que algum que julgou esteja com a consciência tranquila como estou hoje”, disse, reiterando por diversas vezes ao longo do discurso que é inocente e não cometeu nenhum crime.

“Se cometi crime que digam publicamente. Se quer condenar tem que ser por algo bastante visível”, disse. “Não cometi nenhum crime e sabem que condenaram um inocente nesse país”, disse. “Nasci em uma parte do Brasil em que a honra vale muito. Sou de uma geração em que a honra vale muito”, afirmou, repetindo em seguida que ontem não viu os desembargadores o acusarem de nenhum crime.

O ex-presidente afirmou que o caráter de seu julgamento é político e que querem “condenar uma parcela do povo brasileiro”. “Pela primeira vez colocamos o pobre no centro e que eles não querem que o PT volte a governar. Ou se percebe isso e constrói uma narrativa ou o próximo passo será a tentativa de fazer com que o PT seja criminalizado, porque eles dizem que o PT é uma organização criminosa”, disse. “Lula é apenas a ponta de lança que eles querem tirar do jogo.”

Lula criticou a força-tarefa da Operação Lava-Jato e novamente apontou um suposto corporativismo contra ele. “Há muitas e muitas décadas eu não via uma reação de corporação. É a corporação da PF fazendo qualquer processo.”

‘À flor da pele’

Lula disse que vai recorrer “naquilo que for possível e onde for necessário” e vai batalhar até o final para provar sua inocência. Ele relatou estar tranquilo, afirmou que dormiu bem nesta noite, apesar de considerar que foi vítima da “maior injustiça do mundo”. O ex-presidente disse não aceitar que “um canalha qualquer” o chame de “ladrão”.

“Estou tranquilo. Eu sei o que fiz, tenho coragem de olhar na cara dos meus filhos, netos, de cada um de vocês. A única coisa que posso oferecer é a minha inocência e lutar. Eu às vezes acho que é a maior injustiça cometida na sociedade. Mas Jesus foi condenado à morte sem dizer uma palavra, antes de nascer e olha que não tinha construtora, não tinha Lava-Jato”, afirmou. “Longe disso, de querer me comparar a Cristo.”

O ex-presidente disse que os desembargadores do TRF-4 usaram novamente a teoria do domínio do fato contra ele, a mesma utilizada no julgamento do mensalão, porque não há provas contra ele. “É versão nova da teoria do domínio do fato. É porque as pessoas não têm provas; se têm, não precisa de subterfúgio”, afirmou.

“O que me deixa indignado é que estamos sendo vítimas de uma trama premeditada. É coisa altamente premeditada e encontraram coisa que detona qualquer político, que é corrupção. A certeza da estratégia deles é que fizeram mistura de tudo: PF, MP, Judiciário e imprensa. Colocam o Poder Judiciário para dar legalidade a tudo o que é feito”, acusou o ex-presidente. “O que mais coloca minha honra à flor da pele é que um canalha qualquer me chame de ladrão, não posso aceitar.”

O petista conclamou a militância a não desanimar. “Nada de abaixar a cabeça”, disse. “Eu dormi bem [esta noite porque é o sono de quem tem a consciência limpa, de quem sabe que foi julgado pelas coisas boas que fiz. Duvido que encontrem um delito na minha vida.”

Lula deve viajar na noite desta quinta-feira para a Etiópia, para participar de um debate sobre combate à fome promovido pela União Africana, FAO e Instituto Lula.

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