Temer doou R$ 100 mil à campanha de deputado cotado para relatar denúncia

BRASILIA, DF, BRASIL, 09-06-2017, 10h00: O presidente Michel Temer participa, ao lado do ministro da Defesa Raul Jungmann e do comandante da Marinha Almirante de Esquadra EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA, durante Cerimônia de comemoração do 152º aniversário da Batalha Naval do Riachuelo - Data Magna da Marinha - e imposição das Condecorações da Ordem do Mérito Naval, no Grupamento de Fuzileiros Navais em Brasília. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)

Alceu Moreira é citado na delação premiada de Ricardo Saud, diretor da JBS, como destinatário de um pagamento de R$ 200 mil em espécie na disputa eleitoral de 2014

Por Daniel Carvalho e Gustavo Uribe – Folha de São Paulo

O presidente Michel Temer financiou em 2014 parte da campanha do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), nome mais cotado hoje para relatar na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara denúncia que a Procuradoria-Geral da República deve apresentar na próxima semana.

Alvo da denúncia, Temer repassou a Moreira R$ 100 mil em dois cheques de R$ 50 mil. As doações foram registradas na prestação de contas do parlamentar no Tribunal Superior Eleitoral.

A primeira metade foi repassada pela pessoa jurídica “Eleições 2014 Michel Elias Temer Lima”. Apesar de o nome do presidente estar errado na prestação de contas, o CNPJ registrado no site do TSE é mesmo o da campanha do então vice-presidente, segundo informações públicas da Receita Federal.

Os outros R$ 50 mil foram doados pelo próprio Michel Miguel Elias Temer Lulia, como pessoa física. O CPF registrado é o do peemedebista.

Como a Folha mostrou nesta segunda-feira (12), Moreira é o favorito para relatar a denúncia. O governo tem pressa na tramitação do pedido, pois acredita ter votos suficientes para derrubá-lo e quer diminuir o tempo de desgaste do presidente.

O deputado recebeu também, via direção nacional do PMDB, R$ 200 mil da BRF, concorrente da JBS, cujas delações baseiam a denúncia que será apresentada pela PGR nos próximos dias.

O parlamentar recebeu ainda doações diretas e indiretas de empresas alvo da Lava Jato. A Braskem, ligada à Odebrecht, doou R$ 30 mil diretamente à campanha de Moreira. Outros R$ 40 mil, via “comitê financeiro único”. A própria Odebrecht, pela direção nacional do PMDB, repassou R$ 50 mil ao deputado.

Alceu Moreira é citado na delação premiada de Ricardo Saud, diretor da JBS, como destinatário de um pagamento de R$ 200 mil em espécie na disputa eleitoral de 2014.

“Demos R$ 200 mil em dinheiro vivo”, afirma Saud em seu depoimento.

O nome do deputado Esperidião Amin (PP-SC) também é citado para a relatoria, mas com menos chances, segundo aliados de Temer.

Amin recebeu R$ 600 mil da JBS via direção nacional de seu partido. Foram três transferências de R$ 200 mil.

Outro nome levantado como possibilidade para a relatoria é o do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que recebeu R$ 100 mil da JBS via “Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República” do PDT, partido pelo qual se elegeu em 2014. Alguns aliados de Temer no Congresso também citam como possível relator o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ).

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa de Moreira informou que a relação do parlamentar com Michel Temer é “política e partidária” e que as doações eleitorais feitas por ele foram recebidas “de forma espontânea, legal e declarada”, assim como a da BRF.

Ela disse ainda que o peemedebista “não recebeu nenhum recurso da JBS” e que o delator da empresa reitera “não se tratar de propina”. “Sobre uma suposta relatoria, o deputado afirma não responder acerca de hipóteses”, informou o gabinete do deputado federal.

Nesta terça (13), Moreira disse à Folha que há uma “conspiração” patrocinada por integrantes do Ministério Público e do Judiciário para tentar derrubar o presidente.

Moreira criticou também o ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato, afirmando que ele deveria ter tido mais cautela ao autorizar a abertura de investigação contra Temer.

“Isso já passou a ser uma disputa de poder, deixou de ser uma questão jurídica há muito tempo, virou um instrumento para tentar derrubar o presidente”, disse.

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