É ilusão esperar que o desenvolvimento de medicamentos ou vacinas será capaz de derrotar a dengue e a zika, defende o infectologista norte-americano Michael Callahan, da Escola Médica de Harvard.
As interações complexas entre os diferentes vírus que causam ambas as doenças provavelmente inviabilizam esse tipo de solução, e o melhor caminho é investir em tecnologias precisas de combate ao transmissor das moléstias, o mosquito Aedes aegypti. “Eu sou médico, então o que acontece no caso dessas doenças é que eu preciso receitar um tratamento que valha não para uma pessoa só, mas para uma cidade inteira”, disses Callahan.
“Em vários lugares da Ásia, é possível que as estratégias de larga escala, como o uso de inseticidas, tenham piorado o problema em vez de melhorá-lo. Não é fácil acertar essa coreografia – às vezes os efeitos das diferentes estratégias acabam se anulando”. Callahan esteve em Piracicaba (interior paulista) para conhecer a fábrica de mosquitos geneticamente modificados da empresa de biotecnologia Oxitec.
Os Aedes transgênicos machos desenvolvidos pela companhia, que estão passando por testes em municípios como Juiz de Fora (MG) e Piracicaba, acasalam com as fêmeas selvagens da espécie e dão origem a filhotes inviáveis, que não chegam à fase adulta. Com isso, a população de mosquitos tende a cair bastante, o que, espera-se, também reduziria a transmissão das doenças carregadas pelo A. aegypti.
“Os resultados que eles nos mostraram aqui parecem bastante promissores, e já tivemos algumas ideias a respeito de como otimizar o processo e torná-lo ‘escalável’, ou seja, para que a produção possa ser descentralizada e ajustada de acordo com o tamanho de cada cidade”, disse.