Youssef ‘usou cunhada com retardo mental para desvios’, diz juiz

O juiz Joaquim Pereira Alves, da 3.ª Vara Criminal de Maringá, afirmou que o doleiro Alberto Youssef, da Operação Lava Jato, ‘usou uma cunhada, com retardo mental’, para promover desvios na Prefeitura de Maringá, no interior do Paraná. Youssef foi condenado a 5 anos, 1 mês e 20 dias por ‘apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio’ (violação reiterada 25 vezes ao artigo 1º, inciso I, do Decreto Lei nº 201 de 1967).

“Conforme demonstrado nos autos, Alberto Youssef utilizava de ‘laranjas’ para efetuar as movimentações financeiras ilegais, sendo que dentre essas pessoas figurava até mesmo sua irmã, Olga Youssef. Insta registrar que, o acusado Alberto Youssef se aproveitou do fato de sua cunhada, a denunciada Cristina (falecida), que possuía retardo mental, para lhe repassar uma procuração com poderes para realizar movimentações bancárias”, afirmou o juiz na sentença.

A condenação foi revelada pelo site Maringá Post. Nesta ação, Youssef teve extinta a punibilidade pelo crime de associação criminosa. As informações são de Julia Affonso e Ricardo Brandt, O Estado de São Paulo.

Neste processo, o Ministério Público do Paraná apontou desvios de R$ 15.425.175,17 na Prefeitura de Maringá entre 1993 e 1996, durante a segunda gestão do prefeito Said Felício Ferreira. As fraudes, segundo a Promotoria, eram feitas ‘por meio da emissão de cheques, sacados da conta corrente do município de Maringá, em nome da Caixa Econômica Federal’ em nomes de ‘laranjas’.

A denúncia foi recebida em 2 de abril de 2003. A sentença foi proferida em 31 de agosto deste ano e condenou também Olga Youssef, irmã do doleiro. Ela teria sido funcionária do doleiro, responsável por uma casa de câmbio em São Paulo, e recebido valores desviados.

Youssef disse à Justiça que tinha uma empresa de investimentos e sua renda mensal era de R$ 400 mil. O doleiro relatou que, em 2003, fez um acordo com a Justiça de Maringá e prestou vários depoimentos.

Segundo Youssef, o então diretor de Contabilidade e Finanças da Prefeitura, Luis Antônio Paolicchi, repassava a ele pagamentos através de desvios feitos no Executivo de Maringá. Paolicchi morreu e, assim, acabou excluído da ação penal.

“Confessa que o Paolicchi que era secretário da fazenda de Maringá, quando ele fazia os desvios, ele lhe repassava os valores; que não sabia que o Paolicchi desviava os valores; que o Paolicchi era seu cliente, ele repassava os valores que ele desviava; que tomou conhecimento disso mais tarde”, narrou.

À Justiça de seu Estado natal, o doleiro afirmou que ‘quando fez o acordo com o Sérgio Moro, em 2003, acabou englobando um acordo geral, englobando municípios e governo do estado’. Youssef se referiu à delação no âmbito do caso Banestado.

Em alegações finais, Youssef ‘pleiteou’ a suspensão da ação penal, pelo prazo de 10 anos, ‘nos termos de colaboração premiada’, solicitou uma declaração judicial de que o doleiro já está cumprindo a pena, e de consequência a extinção da punibilidade e o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea.

Na sentença, o juiz anotou que, ‘em delação premiada, Alberto Youssef mencionou ter sido movimentado cerca de R$ 245 milhões no período de um ano’.

Para o magistrado, ‘Alberto Youssef não mediu esforços e escrúpulos para disfarçar as movimentações financeiras ilícitas, envolvendo até mesmo familiares na ilegalidade, com a ajuda de Paolicchi e Said (ambos falecidos)’.

Lava Jato. Antes de ser capturado pela maior investigação contra corrupção no País, Youssef foi detido três vezes, envolvido em esquemas de desvios na administração estadual e municipal entre 2000 e 2003. No ano seguinte, o doleiro foi capturado no primeiro grande escândalo de corrupção, como um dos operadores das contas CC5 (de não residentes), usadas para remessa ilegal de mais de R$ 30 bilhões ao exterior, na década de 1990, por meio do antigo Banco do Estado do Paraná, o Banestado.

Em 2005, fechou um dos primeiros acordos de colaboração da Justiça brasileira, com o Ministério Público Federal de Curitiba, homologado pelo juiz federal Sérgio Moro. Dos sete anos que pegou, cumpriu 1 e meio.

Voltou às ruas e ao crime. Foi preso em 2014 pela Lava Jato e perdeu os benefícios da delação no caso Banestado. Seis meses depois, fechou novo acordo, desta vez com a força-tarefa da Lava Jato.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ANTONIO FIGUEREDO BASTO, DEFENSOR DE YOUSSEF

A reportagem não localizou o advogado Figueredo Basto. O espaço está aberto para manifestação da defesa de Alberto Youssef.

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